Nelson Sargento - Foto Edinho Alves
Nelson Sargento, um dos notáveis artistas cujas vidas foram ceifadas pela pandemia e serão celebrados pela FLIP- Foto Edinho Alves

Depois da polêmica que foi a escolha da poeta norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979) como a homenageada de 2020, uma bombardeada decisão da então curadora Fernanda Diamant (Elizabeth Bishop viveu 15 anos no Brasil e apoiou o golpe civil-militar de 1964, que definiu como uma “revolução rápida e bonita”, celebrando a suspensão de direitos e a cassação de congressistas), a maior festa literária do país resolveu afinar sua bússola com os tempos de ameaças autoritárias, guerra cultural e atentados contra a liberdade de expressão e escolheu festejar a pluralidade em 2021.

O tema principal da 19ª edição (mais uma vez virtualizada) da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que será realizada entre 27 de novembro e 5 de dezembro, será a floresta e seu espírito colaborativo, e as escolhas dos painéis serão de um coletivo de cinco curadores: o antropólogo Hermano Vianna, a ativista Anna Dantes, o escritor e filósofo Evando Nascimento, o antropólogo João Paulo Lima Barreto e o professor Pedro Meira Monteiro.

O conceito da feira literária foi batizado como Nhe’éry, Plantas e Literatura, (Nheeri, como se pronuncia, significa Onde as Almas se Banham, em guarani) e sua fundamentação foi defendida em um texto distribuído há pouco para a imprensa:

A grande importância das plantas nas obras literárias precisa ser destacada: os buritis de Guimarães Rosa, o Jardim Botânico e as flores de Clarice Lispector, os arvoredos de Fernando Pessoa, as folhas de Mãe Stella de Oxóssi, a bananeira de Bashô, as palmeiras e matas de Amos Tutuola, o herbário de Emily Dickinson, a polinização cruzada de Waly Salomão, o planeta-floresta de Ursula K. le Guin, “a floresta e a escola” de Oswald de Andrade, seguindo novos fios de palavras de ficcionistas e poetas da contemporaneidade – o texto literário sob forma de narrativa, poesia ou drama, em registro oral ou escrito, tem tido uma contribuição fundamental a dar para o respeito e a valorização das diferentes formas de vida.

Elizabeth Bishop foi a primeira estrangeira homenageada. Agora, a Flip resolveu regressar aos povos originais e propor uma homenagem coletiva a todos os pensadores, conhecedores e mestres indígenas que tiveram suas vidas interrompidas pela covid-19, pessoas como o educador Higino Tenório, escritor, benzedor, especialista em arte rupestre, professor e fundador da primeira escola indígena do povo Tuyuka; Feliciano Lana, artista plástico e escritor do povo Desana, conhecido internacionalmente; Zé Yté, colaborador central dos mais importantes estudos sobre a etnobiologia Kayapó; Maria de Lurdes, guardiã das plantas de cura do povo Mura; Meriná, mestra de rituais de cura e benzimentos do povo Macuxi; Alípio Xinuli Irantxe, mestre das flautas do povo Manoki; Domingos Venite, Guarani, líder da maior terra indígena do estado do Rio de Janeiro e militante de novas políticas de saúde indígena.

Também serão homenageadas as vítimas da pandemia consideradas portadoras de legados de sabedoria e invenção, e foram citados Nelson Sargento, Aldir Blanc e Zé de Paizinho (mestre do samba de aboio sergipano), a poeta Olga Savary, o poeta Vicente Cecim e o ficcionista Sérgio Sant’Anna.

19ª Festa Literária Internacional de Paraty. Edição Virtual. Programa educativo: de 22 a 27 de novembro. Programa principal: De 27 de novembro a 5 de dezembro. Paraty (RJ). Acompanhe a Flip no YouTube, no Facebook, no Instagram e Twitter (@flip_se).

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