A hilariante comédia “Uma boa esposa” é uma verdadeira ode ao feminismo. Com o marido que dá nome ao instituto, Paulette Van Der Beck (Juliette Binoche) comanda uma instituição de formação de esposas e donas de casa, guiada por um ideário de submissão. Estamos na França, às vésperas dos acontecimentos de maio de 1968, cuja repercussão mudou para sempre as estruturas da política e da sociedade ao redor do mundo.
É importante localizar a história no tempo, pois certos conselhos e lições que pretendem moldar a esposa ideal e a dona de casa idem são tão esdrúxulos que só podem ser piada de mau gosto ou coisa do passado – isto se não levarmos em conta os retrocessos vividos no Brasil, em que as piadas são sempre de mau gosto e o passado é exatamente agora. Até o início da década de 1970 existiam na França mais de 1.000 instituições como a retratada no longa-metragem de Martin Provost, que desapareceram com a emancipação feminina, abordada de forma bem-humorada pelo diretor, que não é neófito no assunto.
O filme acerta na reconstituição de uma época e, entre aulas de etiqueta e vestuário, culinária, limpeza e arrumação da casa, dedicação ao lar e ao marido, controle de finanças e o cumprimento das obrigações matrimoniais, a emancipação feminina é abordada no filme de maneira inusitada e não fica, como é comum, entre a sisudez e aquele humor de que só se consegue rir não sem algum constrangimento.
Com a trágica morte do marido, Paulette se vê ameaçada por dívidas, mas é num reencontro com o passado que ela se emancipa, ainda assim, não imediatamente. Somente ao longe avistamos Paris, a imponente torre Eiffel se destacando na paisagem; com as barricadas estudantis impedindo o acesso à capital francesa, o ônibus do instituto não consegue chegar ao destino: ela e as estudantes vão à cidade participar de uma feira de economia doméstica e de um concurso de um canal de televisão.
É quando a comédia vira um musical, com homenagens a grandes nomes do feminismo, e os pilares que orientam a formação de suas alunas dão uma guinada de 180 graus rumo ao respeito e à liberdade da mulher.
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