A união de poderosos em busca de seus objetivos de poder invariavelmente leva à máxima de que os fins justificam os meios. É assim que transcorrem, em paralelo, uma campanha ao Senado Federal e a construção de um megaempreendimento imobiliário em Brasília/DF, em “New Life S.A.” [drama, Brasil, 2018, 79 minutos; 14 anos], disponível nas plataformas Net Now, VivoPlay, Looke e SkyPlay.
O longa-metragem de ficção de estreia do diretor André Carvalheira concorre com o noticiário do Brasil contemporâneo, de que se configura um retrato eficiente, entre o surreal, o tragicômico e o absurdo, seja pelas situações em si, seja pela profusão de aberrações.
“O judiciário e o legislativo aqui. Sem isso, ninguém consegue fazer nada no Brasil”, diz Rubens (Murilo Grossi), engenheiro proprietário do empreendimento que dá nome ao filme. Apontando para o próprio bolso, ele continua, em uma festa vip para seus pares, regada a uísque e armas: “quem os têm aqui pode fazer qualquer coisa, pode até chegar a presidente”.
A fala do personagem mostra o quão carcomidas estão as instituições e comprometidas as suas supostas independências, em relações mesquinhas, em nome do poderio de uma elite igualmente tacanha e cafona (convenhamos que New Life não é nome chique para batizar um condomínio de luxo).
Uma família de mentira, formada por atores contratados, compõe o cenário do tradicional “visite o decorado”, de praxe em lançamentos de empreendimentos imobiliários, enquanto famílias de verdade, instaladas em casebres em condições insalubres e sem saneamento básico, serão despejadas de uma área de preservação ambiental (onde, afinal, o empreendimento ao lado está sendo erguido), para valorizar os imóveis de gente rica.
Se por um lado a especulação imobiliária maximiza o fosso entre ricos e pobres, por outro lado nivela os ditos cidadãos de bem: com uma arma na mão, mesmo aqueles aparentemente bem intencionados transformam-se em bestas, perdendo quaisquer escrúpulos, em nome de defender a propriedade privada.
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