34ª Bienal: a desmaterialização da arte

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Performance "A Maze in Grace" de Neo Muyanga
Performance "A Maze in Grace" de Neo Muyanga com Legítima Defesa e Bianca Turner para a abertura da 34a Bienal de São Paulo. 08/02/2020 © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

No dia 8 de fevereiro, o artista sul-africano Neo Muyanga se uniu a um coro de 40 vozes, integrantes do coletivo teatral Legítima Defesa e Bianca Turner, para ocuparem os três andares do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, sede histórica da Bienal. A canção escolhida foi Amazing Grace (Graça Sublime), transformado de canto de luto na África a um hino abolicionista nos Estados Unidos. A performance sonora preencheu os enormes espaços vazios do prédio da Bienal. Naquele momento, a pandemia era menos que uma ameaça e poucos imaginariam que a arte, ela também, estava prestes a ter de se isolar, socialmente.

Como em um interlúdio, a performance A Maze in Grace, de Muyanga, retorna agora em outro momento, de forma presencial e controlada na mostra preparativa para a 34ª Bienal de São Paulo, adiada para setembro de 2021. Encontra um mundo pós-George Floyd, com a pandemia de Covid-19 ainda fazendo vítimas aos milhares, mas sinais de que a era conservadora mundial inicia sua derrocada. Faz escuro mas eu canto, título feliz desta edição da Bienal, foi pensada como uma exposição em que as obras seriam vistas mais de uma vez. “A estratégia responde ao desejo de enfatizar que nada permanece idêntico: nem uma obra de arte, nem quem olha para ela, nem o mundo ao redor”, diz o curador-geral Jacopo Crivelli Visconti.

A mostra Vento, de 14 de novembro a 13 de dezembro, será composta por obras de 21 artistas, entre eles Ana Adamovic (Sérvia), Joan Jones (EUA), Koki Tanaka (Japão), León Ferrari (Argentina), Neo Muyanga (África do Sul), Ximena Garrido-Lecca (Peru), e os brasileiros Antonio Dias (Campina Grande), Clara Ianni (São Paulo), Paulo Nazareth (Vale do Rio Doce) e Regina Silveira (Porto Alegre). Em grande parte, serão obras desmaterializadas, nos formatos de áudio e vídeo. Nessa retomada, os curadores decidiram dispor esses trabalhos quase sem as tradicionais divisões por paredes. “Confiar que poucas obras irão preencher um espaço tão grande é apostar na capacidade da arte de reverberar infinitamente, o que a torna uma ferramenta insubstituível para enfrentar e superar momentos sombrios como os que vivemos”, acrescenta o curador-geral.

A programação digital prossegue a partir do site A Bienal tá on e também em visitas remotas aos ateliês dos artistas, até agosto de 2021. No site 34.bienal.org.br será possível acompanhar essa programação e também realizar o agendamento gratuito para as visitas presenciais. Por se tratar de um espaço com capacidade para até 600 pessoas simultâneas, mesmo quem chegar em cima da hora deve conseguir entrar. Para marcar a reabertura, na sexta-feira (13), será realizada a performance [A] La Fleur De La Peau [[A] A Flor Da Pele], do artista mineiro Paulo Nazareth  e inédita no Brasil. Na obra, dois imigrantes de Guiné-Bissau e um da Nigéria perfuram um saco de farinha de trigo e vão espalhando o pó pelo espaço e por seus corpos para questionar as relações coloniais. Ao contrário da performance de fevereiro, esta será realizada no pavilhão ainda fechado e transmitida no Instagram da Fundação Bienal a partir das 18 horas.

Mostra Vento, da 34ª Bienal de São Paulo. De 14 de novembro a 13 de dezembro, das quartas-feiras aos domingos. Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera. Grátis

 

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