Algumas explicações não deveriam nem tentar existir. Calma, não estou me convertendo ao terraplanismo de resultados, defendo obviamente a ciência e também o amplo direito de defesa. Mas pensem: o que o infeliz do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) está fazendo quando diz que “vou provar minha inocência”? Como se explica 30 mil reais escondidos da polícia no reto (sem contar os outros 470 mil pela casa)? Calma, também não pretendo entrar no apelo coprofágico desse tema do Senador da Cueca, o bigode integralista dele me enfada, é só uma base argumentativa.

O que me move também é a chuva de dinheiro, mas o assunto é outro, trata-se da família de 50 bilhões de reais.
Vocês devem ter ouvido falar no caso. Essa semana, o governo de São Paulo emparedou uma nobre família paulistana que pretende enviar 50 bilhões de reais ao exterior, mas quer dar um olé no imposto. O governo Doriana, voraz anexador de terrenos em Campos do Jordão, encheu os olhos com a possibilidade de colocar magicamente R$ 2 bilhões no seu caixa. Equivale a um ano do imposto de herança (causa mortis) do governo paulista.

Para se ter uma ideia, a lei emergencial de auxílio ao setor artístico e cultural, a Lei Aldir Blanc, está estimada até agora em R$ 2 bilhões de reais. A família Riquinho Rico de São Paulo tem 50 bilhões.

O sujeito precisaria ficar 500 anos ganhando todo ano a Mega Sena da Virada para chegar perto dessa quantia.

A extensão do auxílio emergencial da pandemia para TODOS OS BRASILEIROS em situação difícil custaria 67 bilhões de reais.

Só entendo de dureza, não posso compreender com racionalidade o excesso de liquidez que chega a um PIB regional. O cara mais rico com quem já jantei um dia, Bernardo Paz, o milionário dono do Inhotim, tinha vendido umas minas para os chineses por US$ 1,2 bilhão (hoje, algo como 7 bilhões de reais). Eu não o deixei pagar a conta, paguei eu mesmo – era no Fasano, o Dib conseguiu dar um visto na minha nota na época.

Procurei não ler as explicações da transação bilionária da tradicional família paulista. Não há um País que sustente uma explicação dessas. Não há um sistema econômico que justifique tal mirabolância. Penso também que não haveria herança capaz de explicar uma família de 50 bilhões em uma única transferência de recursos do Exterior.

Mas, assim que escrevi o parágrafo acima, mudei de ideia e me deu curiosidade de saber o sobrenome, para evidentemente dar uma chance à explicação e deixar que o sobrenome da família me provasse sua assombrosa contribuição ao desenvolvimento do País. Mas eis que minhas suspeitas se confirmaram: o Estado rentista e o mercado financeiro não permitem que seja conhecido o nome da Família Rycoh. A respeitabilidade dela já está atestada pelo tanto de dinheiro que possui, mas certamente, se fosse um Silva ou um Araújo, vazaria rapidamente a informação.

O certo é que o dinheiro está em fuga. Não confia mais no País que construiu para sua insofismável capacidade acumulativa. Outra certeza: não está fugindo da ameaça do comunismo, está fugindo das ruínas do capitalismo. Mas não será bom tentar argumentar com aqueles que têm calafrios sonhando com uma ditadura do proletariado que isso não é um bom sinal da diversidade do seu regime preferido. Quase nunca há dialética nesse tipo de discussão. Torçamos então para que o dinheiro deixe ao menos um rastro de sua prodigiosa trajetória competitiva para que essas pessoas sigam acreditando na igualdade de oportunidades, no admirável mundo da competição justa, na independência entre iniciativa privada e Estado, todas essas notas de 200 reais da fantasia financeira.

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6 COMENTÁRIOS

  1. Bom dia! Só para esclarecer: esse texto não é matéria, é um artigo. Aborda a questão do absurdo que é uma só família concentrar tanto. Esse é o centro do debate: não há instrumentos para evitar o desequilíbrio, a acumulação estratosférica. É dinheiro que não está na ordem produtiva e que nenhum cidadão do mundo pode ganhar com seu trabalho regular, portanto só pode ter origem em especulação, voracidade financeira. Sobre a controvérsia se está entrando ou saindo, acho estranho que se cobre imposto sobre herança em dinheiro que presumivelmente entre no País, isso é um necanismo tributário que acredito funcionar para bens adquiridos em território nacional. Mas é evidente que é um dinheiro extraído do Brasil, de seus recursos

  2. De fato estamos diante de um valor absurdamente alto! Mas pelo que ouvi e li na imprensa por estes dias, trata-se de dinheiro que está entrando no Brasil em forma de doações para essas famílias, vindas de algum magnata que, aparentemente, as chama de herdeiros. A notícia é de que não querem pagar os impostos que seriam devidos por receberem essas doações. O noticiário também destaca que são várias famílias de São Paulo, com diversos valores, além dessa específica de 50 bilhões. Portanto é dinheiro que entra no país, não que sai!

  3. Pobre pais rico (o mau do Brasil não e o pais e os brasileiros ou os que aportam por aqui): um pais rico em riquezas naturais mais pobre em caráter, dignidade etc,,,,etc,,,etc. (eu podia fazer um texto com milhões de palavras mas vou poupar meus dedos já cansados pra não dizer outras coisas @#%&FDs)

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