“Treva”, terceiro álbum da Gallo Azhuu, é carregado de referências

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A banda Gallo Azhuu. Foto: Emanuelle Rebelo
A banda Gallo Azhuu. Foto: Emanuelle Rebelo
Treva. Capa. Reprodução
Treva. Capa. Reprodução

Está disponível nas plataformas de streaming o terceiro disco da banda Gallo Azhuu. “Treva” é todo cantado em português. As nove faixas do álbum são puro stoner rock, espécie de cruzamento de doom metal e acid rock; para simplificar, rock/metal baseado nos riffs, algo na linha do Black Sabbath.

Na capa, um rosto arroxeado em pose de calmaria, como se meditasse, traz na testa uma espécie de vulcão em erupção, a demonstrar, talvez, as contradições inerentes ao humano, seus estados de espírito e humor.

Formada por Patrick Abreu (vocal e guitarra base) – autor de todas as faixas do disco: “Cavalo morto” é adaptação do poema de Noan Moraes; e “Dragão de Komodo” em parceria com Manu Rebelo –, Eduardo Melo (contrabaixo), Ruan Cruz (guitarra solo) e Denis Carlos (bateria), a Gallo Azhuu mantém as características que marcam sua sonoridade e fizeram da banda uma das preferidas da cena ludovicense, ao mesmo tempo em que demonstra amadurecimento.

“Fogo no Centro” abre o disco, provocativa, seguida de “Cavalo morto”, em que o animal tem três estados: morto, louco e espírito. O recado é direto, sem meias palavras. No par de canções inicial, o humano pode ser animal e vice-versa. Em tempos de obscurantismo e orgulho da ignorância, quem se importa?

“Frau Troffea”, a terceira faixa, refere-se a uma epidemia de dança ocorrida em Estrasburgo, França, em 1518. Os acometidos da tal “dançomania” em geral morriam de ataque cardíaco, derrame cerebral ou exaustão. A personagem-título foi a primeira mulher a começar a dançar, aparentemente sem qualquer motivo.

“Estrada” é viagem para quem não tem medo nem do perigo, como cantaria o Roberto Carlos da fase que vale a pena: “Cheiro de gasolina/ misturado com o teu/ tempestade de espíritos/ revolução / sem medo do perigo / sigo a contramão”, diz a letra.

A poética de “Mulher de lua” relembra o Arnaldo Baptista pós-Mutantes e sua “Vou me afundar na lingerie”: “Mulher de lua, você se imaginou/ vivendo nua no céu/ mulher de lua, desceu do sonho/ espaçonave sem Deus/ o cosmos cura, o sol vê/ a Terra pura hey hey/ me leve, nave, daqui/ me leve, ave/ me leve, nave, daqui/ me leve”. Não sei se os terraplanistas irão gostar – ou, antes, entender.

“Picabu” retrata um animal imaginário, a la Jorge Luís Borges (“O livro dos seres imaginários”), personagem de hq (originalmente “Peek-a-boo”), com “cara de cabra/ corpo boi”, “hippie”, “cara de gato” e “olho de cobra e vidro”. “Antigo” traz referências bíblicas e indígenas e a importância de ciclos lunares para a cultura de povos como maias e astecas.

“Dragão de Komodo” é uma celebração ao lagarto gigante que dá título à faixa e vive na ilha que lhe empresta o sobrenome. O animal chega a mais de 40 centímetros de altura, entre dois e três metros de comprimento e a mais de 150 quilos de peso. Se alimenta basicamente de carniça, mas pode caçar invertebrados, aves e mamíferos.

“Treva” se encerra com “Kaki Yuga”, período que aparece nas escrituras hindus e que remete a mais de 3.000 anos antes de Cristo, considerada a data em que Krishna deixa a Terra de volta a sua morada espiritual. “Na Terra suja, corpo sujo, alma suja/ Hare Hare/ na Terra pura, corpo puro, alma pura/ Hare Hare/ Hare Hama”, diz a letra com um quê do mais místico Raul Seixas.

Nota: em virtude de uma forte gripe que acometeu o vocalista, a Gallo Azhuu não tocará neste sábado (14) no Country Core Funeral, na Fanzine (Praça Manoel Beckman, Avenida Beira-Mar) – o evento acontecerá, com as demais atrações anunciadas, a partir das 19h: Soturnos, Los Bones, Michelly, Sacred Hell e o Especial Matanza com a banda Clube dos Canalhas e As Mulheres Diabo. Os ingressos, à venda na bilheteria da casa, custam R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia entrada).

Em breve a Gallo Azhuu anunciará shows de lançamento de “Trevas” no Batucafé (Fonte do Ribeirão) e na Fanzine.

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Ouça “Treva”:

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