Clarice Lispector
Minhas Queridas, em cartaz no Sesc Pinheiros, evoca cartas trocadas entre Clarice Lispector e as irmãs mais velhas Elisa e Tânia, entre os anos 1940 e 1950

No ano do centenário de nascimento de Clarice Lispector, a unidade Pinheiros apresenta a primeira das homenagens do Sesc São Paulo à escritora com a peça Minhas Queridas. Com direção e dramaturgia de Stella Tobar, as atrizes Marilene Grama e Simone Evaristo evocam cartas trocadas entre Clarice e as irmãs mais velhas Elisa e Tânia, entre os anos 1940 e 1950. A sensibilidade da narrativa fica evidente nas lágrimas que escorrem dos olhos do público.

Foto da peça Minhas Queridas, em cartaz no Sesc Pinheiros
Minhas Queridas, em cartaz no Sesc Pinheiros, evoca cartas trocadas entre Clarice Lispector e as irmãs mais velhas Elisa e Tânia, entre os anos 1940 e 1950. Foto: Eduardo Petrini

Não é preciso ser fã de Clarice Lispector para entrar na história dessa escritora que se dizia brasileira e pernambucana. Nascida na Ucrânia, ela teve uma infância sofrida, quando a família judaica se viu forçada a migrar para o Brasil. Primeiro foram parar em Maceió e depois no Recife. Clarice perdeu a mãe, quando tinha 8 anos, e o pai, aos 20. Essas lembranças perpassam o texto de Minhas Queridas, mas o foco da história se dá no período seguinte. Em 1943, ela se casou com Maury Gurgel Valente, um diplomata que a arrastou para longe do Brasil por intermináveis 15 anos.

Essa jornada por diversos países, iniciada depois de Clarice ter publicado Perto do Coração Selvagem, romance de estreia vivamente saudado pelos críticos, a fez mergulhar em reflexões sobre a existência e o distanciamento de sua paixão, a escrita. Sentia-se castrada, presa em protocolos, sem motivação para escrever, cercada de relações afetivas sem valor. Seus dois filhos, Pedro e Paulo, nascidos no exterior, foram as poucas alegrias que ela conseguiu relatar às irmãs. 

A montagem foge da solução fácil de uma leitura dramática a partir das correspondências trocadas entre as irmãs. As atrizes dão voz à “mulher de diplomata”, mas também deixam claro que estão ali para tentar dimensionar quem foi a escritora. Para tanto, revelam as entranhas da encenação, ora fazendo o papel delas mesmas, ora o de Clarice. Chegam a trazer um pouco de leveza ao texto para contrastar com o lado sombrio contido nas cartas. No pequeno palco, elas vão arquitetando o cenário em constante movimentação, como nas bagagens quase sempre prontas para um novo destino.

Depois dessa traumática experiência no exterior, a escritora se separou do marido e escreveu romances maiúsculos da literatura brasileira como Laços de Família, A Paixão segundo G.H., A Hora da Estrela e Um Sopro de Vida. A peça Minhas Queridas abre espaço para um olhar mais afetuoso para a magnífica literatura de Clarice.

Minhas Queridas. No Sesc Pinheiros, de quinta-feira a sábado, às 20h30, e feriado (25/1), às 18 horas, até 8 de fevereiro de 2020. Ingressos a 30 reais.
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