O reggae se converteu, primordialmente, numa música de resistência e de celebração ao mesmo tempo. Paradoxalmente, a poesia de seus ídolos maiores, como Bob Marley, não é geralmente vista como uma forma elaborada de literatura, por conta de sua mensagem direta e curta, mas como um veículo de mensagens. É um equívoco: a palavra de encorajamento do reggae é também uma conversão estética.
Neste domingo, exacerbando o conceito de fusão entre reggae e poesia, o Sesc Belenzinho convida artistas de duas esferas distintas para se juntarem: o septeto paulista Buena Onda Reggae Club funde sua proposta musical (mistura de reggae, ska, dub, sons afrocubanos e afrobeat) com a prestidigitação poética do vocalista Ademir Assunção, poeta ganhador do Prêmio Jabuti em 2013 com o livro A Voz do Ventríloquo. Para Assunção, que não se considera cantor, a cópula de poesia & música não é exatamente uma novidade: com sua banda Fracasso da Raça, ele tem excursionado há alguns anos fazendo uma junção entre blues, rock’n’roll e poesia falada.
O show com o Buena Onda Reggae Club foi batizado como Zona de Confronto. A aproximação do trabalho de ambos teve origem no projeto Instrumental Poesia do Sesc Avenida Paulista, e evoluiu para uma experiência dançante, hipnótica (ou lisérgica, conforme a geração), de impacto, aglutinando estilhaços de coisas que vão desde a tradição trovadoresca até o grito primal do rock’n’roll, e agudamente politizada.
Jornalista e escritor, Ademir Assunção integra o cenário artístico desde a década de 1990. Inicialmente como letrista, fez canções para Itamar Assumpção, Edvaldo Santana, Madan, Ney Matogrosso e Renato Gama. A subida ao palco foi um processo natural e ele já gravou os CDs de poesia e música Rebelião na Zona Fantasma (em parceria com os compositores Madan e Ricardo Garcia, produção de Luiz Waack) e Viralatas de Córdoba (com sua banda Fracasso da Raça). Publicou 14 livros, entre poesia, entrevistas e ficção: além de A Voz do Ventríloquo, Pig Brother (finalista do Jabuti em 2016), Zona Branca, Adorável Criatura Frankenstein e Ninguém na Praia Brava. Seus poemas já foram traduzidos para o inglês, alemão e espanhol e publicados nos Estados Unidos, Espanha, Peru, México e Alemanha.
Fundada em 2016, a banda instrumental Buena Onda Reggae Club é formada por Kiko Bonato (teclados), Eduardo Marmo (baixo), Marcos Mossi (guitarra), Felipe Guedes (bateria), Cauê Vieira (saxofone e flauta), Rodrigo Ribeiro (trompete) e Victor Fão (trombone). Seu primeiro disco de estúdio, Buena Onda Reggae Club, foi lançado em agosto de 2017, pela Radiola Records, com produção do baixista Pedro Lobo.