O guitarrista José Neto
O guitarrista brasileiro José Neto, cultuado em Londres e Nova York, mas um ilustre desconhecido no Brasil

Ele já tocou com Eric Clapton. Com Warren Haynes, dos Allman Brothers, e sua cultuada banda Gov’t Mule. Com George Harrison, dos Beatles. Com o mexicano Carlos Santana. Com Derek Trucks, também dos Allman Brothers. Fez temporadas com o  lendário jazzista Herbie Mann. Acompanhou o cantor Harry Belafonte durante 23 anos. Gravou e excursionou com Steve Winwood, do Traffic, Spencer Davis Group, Third World.

Ele nasceu no Itaim, em São Paulo, e embora esteja passeando pela cidade natal há mais de uma semana, caminha absolutamente incógnito pela capital. E ainda não apareceu nenhum convite para ele tocar na terrinha, o que é um sacrilégio. Definitivamente, é como diz o dito popular: santo de casa não faz milagre. Mas o caso do guitarrista Zé Neto é um mistério especial: o que faz de um dos mais celebrados guitarristas brasileiros no exterior um ilustre desconhecido em sua terra? Expatriado em 1979 para os Estados Unidos, no período posterior à diáspora da bossa nova, Neto levou consigo um nervosismo diferente no estilo da guitarra, que obviamente continha a melodiosidade da música brasileira, mas também venerava Hendrix e o rock.

Zé Neto chamou a atenção da imprensa americana e britânica nos anos 1980, por seus solos nos shows de Harry Belafonte e na banda Fourth World, com Airto Moreira e Flora Purim. Acabou sendo convidado para tocar na mais famosa casa de jazz de Londres, o Ronnie Scott’s Jazz Club. Nos anos 1990, era comum chegar em Londres e encontrá-lo como principal atração da noite no cartaz do templo do jazz. Até que um espectador o procurou depois do concerto para lhe presentear com uma insólita guitarra branca Paradis. Era de um luthier excêntrico suíço, Rolf Spuler, e se tornou sua marca registrada.

Invisível para os conterrâneos, era evidente que os estrangeiros sairiam na frente. Acaba de ser lançado no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, o documentário The Man Behind the White Guitar, do cineasta inglês Richard Michael, contando tim-tim por tim-tim a história de José Pires de Almeida Neto, o Zé Neto, desde seu remoto início como músico nos anos 1970, quando tinha apenas 12 anos. No Brasil, ele estudou violão clássico e formou o grupo Platô, no qual tocaram Sizão Machado, Eduardo Datcha Tenucci, Léa Freire, Duda Neves, Caito Marcondes, Nico Assunção, Zeca Assunção, Filó Machado e muitos outros. 

Influenciado pelo movimento do jazz fusion, foi para a prestigiosa Berklee College of Music estudar. Mas tocar era uma escola mais frenética e sedutora. Correu para Nova York em busca de atividade. Em 1979, fez uma audição para tocar com o Rei do Calypso, Harry Belafonte. Ficou com Belafonte até que este se aposentou, em 2003 (Belafonte tem 92 anos hoje).

Guitarristas de jazz geralmente se alimentam de fontes muito precisas: Wes Montgomery, Joe Pass e mesmo João Gilberto. Os brasileiros (e outros, como John Pizzarelli, George Benson, Pat Metheny) articulam o toque da bossa nova. Zé Neto ouviu tudo isso, mas nunca abdicou dos ídolos do rock da juventude. Os críticos às vezes definem seu estilo como “selvagem”, e ele aprova o termo. “Eu sempre fui mais para a fusão entre o rock, a música brasileira e o jazz. Por isso, a Inglaterra, se tornou o ‘meu’ lugar. O estilo é familiar para eles, embora contenha todas essas outras coisas”. Neto vive no Norte da Califórnia, mas, na Inglaterra, já acompanha há 18 anos o músico Steve Winwood.

Zé Neto e George Harrison
O guitarrista brasileiro Zé Neto e o britânico George Harrison
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