Cristóvão Alô Brasil. Frame. Reprodução
Cristóvão Alô Brasil. Frame. Reprodução

“Foi no dia 12 de outubro de 22/ que nasceu na Madre Deus mais um sambista/ o resto eu conto depois”. Os versos autobiográficos de Cristovão Colombo da Silva (12/10/1922-19/8/1998), vulgo Cristóvão Alô Brasil, não escondem certa imodéstia: era senhor de seu talento, mas longe de arrogante.

No próximo dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o sambista madredivino completaria 97 anos e a data será celebrada com a exibição do documentário “Cristovão Alô Brasil”, achado arqueológico do Forte Santo Antonio/ Museu da Imagem e do Som do Maranhão (Mis/MA), sob o comando da produtora cultural Amélia Cunha. A restauração do filme foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).

Velhos moleques. Capa. Reprodução
Velhos moleques. Capa. Reprodução

O documentário joga luz sobre personalidade importante, mas menos conhecida do que deveria, no cenário musical do Maranhão, sobretudo no universo do samba. A única gravação conhecida em sua voz é a de “Araçagy”, bem humorada treta com cariocas: “disseram que Copacabana é a praia mais linda que pode existir/ juro, quem disse isso, nunca viu o Araçagy/ por que quem conhece esta praia/ sabe quanta beleza existe/ e também pode provar/ que Copacabana junto dela é triste”, provoca a letra, gravada no compacto “Velhos moleques”, que trazia ainda composições de Agostinho Reis, Antonio Vieira e Lopes Bogéa, produzido em 1986, por Chico Saldanha, Giordano Mochel e Ubiratan Souza. Nos anos 1990, a então Fundação Cultural do Maranhão lançou uma coletânea com sambas de Cristóvão interpretados por nomes como Regional 310, Gabriel Melônio, Rosa Reis e Fátima Passarinho, entre outros, além do resgate do fonograma de “Araçagy”, na voz ao autor.

O documentário de 19 minutos é o depoimento do compositor a Lázaro de Oliveira filmado por Jorrimar Carvalho de Sousa, e tem as marcas do tempo: a tecnologia da época não garante os sei lá quantos K Full HD etc. e tal a que estão acostumadas as retinas das gerações mais novas, que sequer ouviram falar em Cristóvão Alô Brasil. As imagens e o conteúdo do depoimento têm valor histórico e sentimental.

Cristóvão canta, acompanhando-se na batucada, comenta monumentos da cultura popular do Maranhão que têm por berço a Madre Deus – a escola de samba Turma do Quinto, o bloco Fuzileiros da Fuzarca, o bumba-meu-boi de matraca da Madre Deus –, as relações entre compositores e brincantes, sobretudo nos dois primeiros, de que era membro e cujas diretorias chegou a integrar.

Cristóvão Alô Brasil em caricatura de Érico Junqueira Aires
Cristóvão Alô Brasil em caricatura de Érico Junqueira Aires

O ano é 1992, Cristóvão já era um setentão e dá seu depoimento para o projeto “Memórias de velhos”, que publicou pelo então Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge), alguns volumes com ilustres fazedores de cultura popular. Ele traja uma farda da Setop, a então Secretaria de Obras Públicas, onde batalhava o sustento após passar pela fábrica Cânhamo, então situada onde hoje funciona o Ceprama.

A obra de Cristóvão é marcada pelo registro de personalidades do bairro em que nasceu e se tornou artista. Quem já ouviu seus sambas torna-se íntimo de personagens como Sérgio Miranda, Lino Mota, Roseno Amaral, Mestre Orfila e muitos outros.

Quando comenta o samba que celebrou os 25 anos da Turma do Quinto, sua escola de coração, disse que aceitou ser preterido por um samba de Luís de França. “O meu era mais samba”, diz, lembrando as duas letras, “mas quiseram o dele, eu achei foi bom”, mandou um de seus bordões. O outro, “palavras que me comovem”, certamente ecoará na cabeça de quem assistir o documentário.

Sábado | 97 anos de Cristóvão Alô Brasil (in memorian). Dia 12 (sábado), às 17h30, no Forte Santo Antonio (Espigão Costeiro da Ponta d’Areia). Exibição do documentário “Cristóvão Alô Brasil” e apresentação do grupo Golpe do Baú, com repertório do compositor. O evento é gratuito e aberto ao público.
Domingo | Cristóvão Alô Brasil será homenageado também no domingo (13), no projeto Tribuna do Samba, que reúne alguns dos expoentes do gênero no Conselho Cultural da Madre Deus (), às 17h, também com entrada franca.
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