Foto: Silvia Zamboni

Com amplo leque de parceiros, Zeca Baleiro lança álbum romântico, sem perder de vista a crítica social

O amor no caos. Volume 1. Capa. Reprodução

“O amor no caos” [Saravá Discos, 2019], 20º. álbum da carreira de Zeca Baleiro, tem repertório majoritariamente romântico. O título, obviamente, dialoga com a necessidade de amor no país do ódio. Um dos destaques do repertório é O linchador, parceria do maranhense com o poeta conterrâneo Fernando Abreu e o rapper paulista Rincón Sapiência – que participa da faixa.

O poema, atualíssimo, do livro “Manual de pintura rupestre” (2015), é carregado de ironia, ao enfatizar a mudança no tom do discurso típico de um “cidadão de bem” ao ser flagrado linchando um suposto criminoso. Os versos de Rincón Sapiência ajudam a tornar ainda mais ácida a crítica social.

Com mais de 20 anos de carreira, contados a partir da estreia em “Por onde andará Stephen Fry?” (1997), Baleiro é senhor da situação: faz um disco de pop que para muitos pode soar mais do mesmo, mas com várias camadas, sem soar repetitivo.

O leque de parceiros é amplo: além de Fernando Abreu e Rincón Sapiência, Paulinho Moska (de quem regrava Pela milésima vez, lançada pelo ex-Inimigos do Rei em seu disco do ano passado, “Beleza e medo”), Frejat (Te amei ali), Cynthia Luz (Mais leve, cantada a participação especial da parceira), Celso Borges (Balada do amor em chamas, interpretada em duo com Ana A. Duártti), Joãozinho Gomes (Dia quente) e Dany Lopez (Por minha rua).

Zeca Baleiro está à vontade com a banda que o acompanha há anos: Adriano Magoo (pianos e sanfona), Fernando Nunes (contrabaixos), Kuki Stolarski (bateria e percussão), Pedro Cunha (teclados e synths) e Tudo Marcondes (guitarras, violões e tambura).

Todo Super-Homem, que abre o disco, é outra que parece dialogar com os tristes tempos do Brasil, na fina ironia de citar um herói americano para nos ensinar (ou lembrar) que apesar dos percalços é preciso não desistir.

A cinematográfica Ela nunca diz acompanha a vida de uma mulher que faz uma pá de coisas, passando pela citação de Amor (João Apolinário/ João Ricardo), do grupo Secos e Molhados, também citado na letra, ao lado de O Terço e Os Mutantes, além dos poetas Francisco Alvim, Nicolas Behr, Cacaso e Chacal, em versos que remontam à outra das marcas de Zeca Baleiro: os jogos de palavras com rimas em inglês, usado em composições como Samba do approach e Babylon, por exemplo.

Outras referências e influências são Luiz Melodia (citado em Dia quente), Belchior, Tom Jobim, Dolores Duran e Gonçalves Dias, que têm versos inseridos na letra de Outra canção do exílio, que fecha o disco, cuja capa reproduz a tela “O conquistador” (1993), do pintor maranhense Jesus Santos, onde se lê “Volume 1” – o segundo “O amor no caos” deve sair ainda este ano.

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