Fachada do Centro Cultural Banco do Nordeste de Frotaleza

Obra teve faixa retirada da fachada a mando da direção do banco e artistas reagiram com protesto; gerente do centro cultural foi remanejado

A censura cavalga a trote largo pelo País e foi vista ontem no Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Depois da propaganda do Banco do Brasil que exaltava a diversidade, suspensa em abril, uma instalação de um casal de artistas, Eduardo Bruno e Waldírio Castro, que estava em exposição no Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB) em Fortaleza (CE), foi descaracterizada a mando da direção do banco.

A instalação O que pode um casamento (gay)?, que usava vídeos e displays, é um registro da união do casal Eduardo e Waldírio no ano passado, um documento das semanas que antecederam seu compromisso conjugal e das performances que fizeram. O trabalho foi submetido ao corpo curatorial que programa o chamado Salão de Abril (em sua 70ª edição), do Centro Cultural, e aprovado. Mas aí começaram os problemas. “Desde a abertura estamos sendo constrangidos a tirar a obra”, declarou Eduardo Bruno.

Ontem, quando chegaram ao centro cultural, os artistas notaram que os funcionários haviam retirado a faixa de pano que iniciava o diálogo com o espectador, colocada na entrada do local como um teaser. Estava escrito na faixa: “Em terra de homofóbicos, casamento gay é arte” (alusão ao dito popular “Em terra de cego, quem tem olho é rei”). Os artistas reagiram. “Quanto tempo dura uma obra artística que fala de homofobia? Hoje, superiores do @CCBNB de Fortaleza retiraram parte da nossa obra ‘O que pode um casamento (gay)’ do Salão de Abril, sem aviso prévio! Censura! Estamos tomando todas as medidas cabíveis!”.

A primeira atitude foi retirar todo o restante do trabalho do espaço. Os artistas julgam que foram golpeados na liberdade de expressão e artística. “Não aceitaremos censura e homofobia!”, escreveu Waldírio. “Em breve seremos relocados para outro espaço! Mesmo com toda violência que a censura chega nos nossos corpos, entendemos que o papel da arte é também de incomodar, e de alguma forma nossa obra está fazendo isso! “. Eles escreveram com spray, na parede em que estava seu trabalho: “Obra censurada pelo CCBNB”.

A Assessoria de Imprensa do Banco do Nordeste informou ao Farofafá que “o Centro Cultural Banco do Nordeste não interferiu na exposição do artista, somente discordou da instalação da faixa na entrada do equipamento, afixada próximo à logomarca do centro cultural, descaracterizando a fachada do prédio e comprometendo sua identidade visual”. O prédio está cedido pela Prefeitura ao banco e o argumento parece frágil: a faixa está longe de cobrir características visuais do prédio. A única obra que incomodou a direção do banco foi a de Eduardo e Waldírio, o que leva a crer que a censura se deveu ao mesmo temor que moveu o Banco do Brasil a vetar uma propaganda: receio de se contrapor ao pensamento homofóbico do bolsonarismo.

O banco, de qualquer modo, acabou criando uma crise de dimensões imponderáveis. O gerente do Centro Cultural, que estava havia apenas dois meses no cargo, teria sido transferido para outra unidade. O banco nega. O gerente nem é o responsável da exposição: a seleção de artistas da mostra coletiva não é do banco, mas fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e o Instituto Iracema, uma espécie de contrapartida pelo uso do espaço.

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