foto: nan

Uma argentina e uma italiana se acercaram de mim no alto do morro. Queriam saber o nome dos artefatos voadores com que os meninos brincavam na favela. Pipa, eu ensinei. Tem outros nomes também, como papagaio. Falamos sobre a extensão da pacificação no morro – elas perguntaram se é definitivo, eu não sabia afirmar. Sabia que, naquele momento, o céu estava claro e era possível ver uma bandeira do Flamengo hasteada logo abaixo da bandeira brasileira que o Exército fincou no alto do Alemão.

Nunca tinha ido à Igreja da Penha. Fui no domingo. Para chegar lá, o ônibus passou em frente ao estadio do Olaria. Uma quadra antes de chegar na estação de trem, havia uma lombada eletrônica metralhada, toda furada de balas. Bonsucesso é um lugar apinhado e aparentemente de pouco interesse para o poder público, pela amostragem, mas eu gostei.

Subimos até a igreja. Lugar do caralho, como diria a musica da trilha sonora de Wood & Stock. Subito, arrepiei – tem um santuário no alto do morro, no pé da igreja, para o cara da Opus Dei, o tal Josemaria Escrivá. Mas é apenas uma intervenção tosca na paisagem, e indevida.

Desde 1635 os visitantes vão até a Igreja da Penha, diz um cartaz perto do bondinho que sobe a pedra. No alto da pedra, está a igrejinha azulada. É um lugar que achei mais bonito do que o Cristo. Nunca me fascinou o Cristo de bracos abertos, acho mais legal vê-lo de longe.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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