O dia 7 de novembro cairá num sábado.
De noite, Iggy Pop berrará nos céus da cidade, o Sonic Youth estará espalhando poemas em forma de distorção pelos ouvidos da Marginal do Tietê.
Será um dia e tanto. Às 14h daquele sábado, os astros começarão a se alinhar já no começo da tarde lá na casa das Rosas.
Será lançada ali, naquele mesmo sábado, às 14h, uma nova edição do livro Paranoia, do poeta Roberto Piva, do Instituto Moreira Salles. Custará R$ 60, tem 208 páginas.
É, na minha opinião, o grande livro de poesia, o grande poeta da metrópole. É música para os meus ouvidos. É um retrato de São Paulo como poucos ousaram fazer. É um chamamento para o bom combate. É um desafio para que se dê à palavra um status de essencialidade e um poder de contágio. Piva o publicou em 1963, mas o escreveu um pouco antes. Era um garoto então (tem agora 72 anos, vive no coração de SP, adora fugir para o campo).
Paranoia tem um efeito meio alucinógeno, é um livro que inocula imagens na mente da gente a todo instante. Nenhum verso é vulgar, nenhuma imagem é estranha – e ainda assim, todas são surpreendentes.

“Na vitrina onde almas coloridas tinham 10% de desconto enquanto costureiros arrancavam os ovários dos manequins”

“Terraços ornados com samambaias e suicídios”

“Brasas nas bundas dos loucos”

“Loucas distribuindo bombons aos meninos pobres”

“As galerias do meu crânio não odeiam mais a batucada dos ossos”

“Minha alma desconjuntada passa rodando”

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

3 COMENTÁRIOS

  1. Jotabê!
    Eu sou uma das autoras do livro-reportagem sobre Piva, Willer & amigos que lhe foi entregue ano passado, um TCC da Cásper Líbero. No fim, não ficamos sabendo se você leu, curtiu ou não. Você leu? O livro foi licenciado e será publicado em breve pela Azougue Editorial.

    E quanto ao Paranóia: disse tudo. Sinto muito que "Coxas", "Abra os Olhos e Diga AH!" e "Ciclones" ainda não tenham recebido a devida atenção.

    abraços!

  2. Renata, li o TCC, embora tenha mancado com vocês, se me lembro bem… Era bem bacana, fico feliz que a Azougue vai lançar.
    Ah, um reparo: o pessoal do Instituto Moreira Salles me avisou que o Piva não vai poder ir ao relançamento do Paranoia, que foi cancelado. Vou fazer uma nota no blog"

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