feliz ano novo, feliz ano velho!

os últimos dias de 2006, a virada de ano e o primeiro dia de 2007 todinho, eu passei no planalto central do brasil, lá longe, tão perto. passeei entre as flores do cerrado, mas o 31 e o 1 eu atravessei mesmo foi zanzando pelo eixo monumental, pela asa sul, pela asa norte, pelas beiradas de paranoá.

fui para ver a (re)posse do presidente lula, na condição de homem do povo, dali do gramadão de ilusórios 180 graus, do lado de fora, de tão longe, de tão perto (como, aliás, já havia feito quatro anos atrás). não fui por oba-oba, quero crer que não fui por idolatria ou paixão anestesiada. meu foco, mais ainda que das outras vezes, era o rito, o símbolo, o emblema, o contrato, o contato.

estando lá, era como se assinasse mais uma vez meu termo de compromisso, de comprometimento, de participação, de revalidação do vínculo. fui como que para afirmar que meu voto não foi dado apenas nos dias de votação, que ele continuava em pleno funcionamento no dia da posse como continuará pelas próximas quatro vezes 365 dias.

assim foi, já, nos quatro anos recém-concluídos. estes foram os momentos mais atentos de toda a minha vida, e é aí que reflito e repito que estou no rito e não estou no oba-oba: nos anos todos do primeiro mandato do “presidente-companheiro”, não preguei os olhos nenhum minuto sequer. tomei no coco o soco de cada paulada. prestei atenção apaixonada a cada avanço, a cada tropeço, a cada pequenina revolução, a cada denúncia desvendada pelo noticiário (quase sempre xucro e quase todo “do contra”, miseravelmente), a cada bafejo de mudança, a cada pequena mentira desvendada, a cada grande virtude desvelada.

é que, pela primeira vez na minha vida, eu conquistava a experiência da autonomia e da participação, de ver executado em larga escala um projeto político que levava embaixo, pelo instrumento do voto, a minha própria assinatura. era esse o meu laço de comprometimento, que cumpri nos últimos quatro anos e renovo por mais outros quatro, com o novo voto e a nova visita a brasília.

pois, ora, se fui e continuo signatário dessa carta de intenções e de ações, tudo que está aí acontecendo também é reponsabilidade minha, e é esta a experiência inédita que vivo desde as eleições de 2002, quando pela primeira vez na minha vida ajudei a eleger um presidente do brasil: sou co-responsável minúsculo pelo que acontecendo de maiúsculo e pelo que acontece de tenebroso aqui “neste país”, e este é o gosto de autonomia que tenho o prazer de sentir na boca pela primeira vez na vida.

porque, sim, eu acompanhei entre jarras de fel cada notícia sobre “lambança”, “inépcia” e “mensalão”, “caixa 2”, “governo mais corrupto da história” etc., que eu não estou de olhos vendados, não. acompanhei tudo, a ponto de entender (ou não entender) “caixa 2” e “mensalão” na medida mesmíssima em que entendo (ou não entendo) “jabaculê”, coisa que não haveria como eu não compreender, já que é prática corrente na indústria que cubro (a musical) e na indústria em que trabalho (a jornalística). [na sua indústria deve ser assim também, você já reparou?] se na hora não estivesse sentindo tanta raiva, teria achado graça e dado risada das manifestações de horror moralista que não pararam de jorrar das bocas espumantes de água-benta de muitos de meus mais honrados colegas – ora, mas sendo jornalistas “de peso”, será que eles “nunca antes na história deste país” haviam visto um jabaculê, um mensalinho, um mensalão?

haviam, eu sei e você sabe, e tanto é que todos nós sabemos que os (maus) humores e as birras deles não prevaleceram nesta última eleição. e isso também é inédito, tanto quanto a conquista interna (e ainda tããããããão tímida e receosa) da minha pequenina autonomia.

pois eu nem sabia, mas havia uma cláusula em letras minúsculas no termo de compromisso demarcado entre mim e o “meu” (meu?) governo: para poder conquistar a autonomia pelo instrumento de passar a governar o brasil (pelo concurso microcósmico do meu voto), eu teria de desmontar, simultanteamente, toda a relação que havia estabelecido com a minha profissão, com o meu trabalho, com a minha senzala, com a minha indústria. “minha”, quando digo, quero dizer “deles”, pois não me consta que operário fique dono de edifício só por ter trazido e moldado e soldado o tijolo.

a cláusula era de letrinhas pequeticas, mas, eu não sabia, era cláusula de importância crucial. a partir de sua assinatura, tive de tirar os óculos, as lentes, os tapa-olhos de pirata, as tapaduras laterais de jumento xucro. tive que olhar para mim mesmo e para a engrenagem profissional a que eu pertencia com olhos que antes eu não possuía (ou melhor, que eu possuía, mas mantinha teimosamente fechados, feito fulano picado pela mosca tsé-tsé ou bruxa-princesinha temerosa de quebrar o espelho pelo impacto da própria imagem). foi certamente uma das partes mais sofridas e dolorosas, mas, creia-me, a dor latejava e era ao mesmo tempo doce, suave, depuradora – mudar é extremamente dolorido, só não é mais dolorido do que não mudar, do que conservar, do que ser conservador.

[apenas a título de exemplo do desmanche de relação, menciono a minha saída da até hoje querida “folha de são paulo”. tal saída, acho, começou a ser consumada no primeiro dia em que lá pisei (emprego de jornalista “da moda”, você sabe, é como emprego de modelo & manequim, de jogador de futebol, de ator & atriz & animador(a) global: se você não quiser se transformar em peça de mobília, seu emprego só tem validade e operância enquanto seu corpinho estiver malhadinho, enquanto as primeiras rugas ainda não estiverem marcando seu rostinho bonito). mas ela, a saída, só foi se concretizar em plena era lula 1, no todo vapor de 2004, poucos meses antes do advento-barravento de roberto jefferson e da reestréia “de gala” do neo-udenismo, do neo-lacerdismo, do neomoralismo em plena sociedade pós-moralista.

o marco definitivo aconteceu uns meses antes de eu lançar meu “como dois e dois são cinco” e de pintar a oportunidade de ir trabalhar na “carta capital”, com a qual eu já flertava havia tempos. num mês aí de 2004 que não lembro qual foi, talvez setembro, houve uma leva terrível de demissões na “folha”, com o corte numeroso, e aparentemente inédito para nós-operários, de jornalistas em cargos mais “altos”, editores e tal. ali nos foi transmitido que o patrão afirmara que vivíamos e viveríamos um período de “travessia do deserto”, que tinha lá uma data marcada para terminar. fiz as contas nos dedos e a tal data era, mais ou menos,… 31 de dezembro de 2006! ou seja, a “travessia do deserto” terminaria com o suposto apeamento de lula do poder!, e aconteceria justamente naqueles anos que, cá por dentro, eu tinha certeza de que seriam (já estavam sendo) os mais férteis da minha vida!, aqueles do meu primeiro voto válido e validado!!, os da conquista da minha autonomia!!! a intuição interna gritou que eu já não cabia mais, que aquele não era o meu deserto e que eu não queria viver o deserto dos outros, que eu teria de romper com o meu primeiro e único e mais emocionante e mais adorado emprego, que eu queria ir viver o meu pequenino oásis de (des)ilusão lá fora do cercado. fui.]

agora, já com olhos novos, fui pingar colírio no lago 2007 do paranoá, nos espelhos d’água 2007 do congresso nacional. fui até lá perder o discurso que o novo presidente velho fez aos excelentíssimos congressistas (porque, do gramado, o povo militante de luiz inácio fica à espera, à deriva, sem ouvidos), e fui até lá ouvir com maus ouvidos (porque os microfones e telões não dialogavam uns com os outros, nem conosco ali na chuva, na rua, na fazenda) o discurso que o marido da presidenta marisa letícia fez do parlatório do palácio do planalto para seu povo militante.

chegando de volta a são paulo, os olhos úmidos de colírio e a cera dos ouvidos derretida pelos banhos de cachoeira e pelos últimos quatro anos de dor & amor, li a íntegra dos dois discursos [olha aqui, olha!], e então voltei a pensar no desmanche da velha relação com minha profissão de jornalista (que, aliás, não é só minha, mas da própria profissão consigo própria, como um todo), que, espero, vem se reconstruindo vagarosamente a partir do desmoronamento, dia após dia.

é claro que não vi na globo ou na “folha” os trechos mais comoventes e impactantes nesses dois discursos, aqueles que me deixaram cheio de vontade de chorar e, mais uma vez, orgulhosíssimo do(s) meu(s) voto(s). acredite, eu torço diariamente, de olhos pregados feito o alex de “laranja mecânica”, para que os pontas-de-iceberg de nossa aristocrática (aristocrática?) mídia compreendam com a máxima pressa & urgência o desastroso processo de auto-desmonte que estão protagonizando para si próprios; mas, depois de tanto susto e de tanta pedrada, nem soa mais como surpresa: na operação de autodesmanche coletivo, jornalistas têm agido feito “as mariposa” do sábio (apesar de machista profundo) adoniran barbosa, aquelas que, “quando chega o frio,/ fica dando vorta em vorta da lâmpida pra se esquentar; elas roda, roda, roda e adespois se senta/ em cima dos prato da lâmpida/ pra descansar”.

ficam, feito mariposas, girando em torno de um falso sol, um sol chamado ora “risco-país”, ora “caixa 2”, ora “mensalão”, ora “dossiê”, ora “juros altos”, ora “pib”, ora “pac”, ora blá, e blá, e blá… as mariposas, senhores jornalistas & editores, morrem esturricadas de teimosas, sem jamais perceber que, não, aquela “lâmpida” não era o sol fornecedor de vitaminas essenciais, mas sim um substituto clandestino, mensaleiro, jabaculista, (a)laranja(do).

pois, cá da minha insignificância, gostaria de destacar outros trechos do discurso de lula aos congressistas, que não os seguidos em efeito-manada pelas mariposa. são trechos que não emitem 100 watts de potência, mas são nutrizes do meu orgulho, da minha felicidade e, creio eu, da felicidade e da fertilidade geral deste brasil novo que nos acorda num cocoricó a cada nova manhã.

disse assim o presidente, por exemplo: “pela primeira vez, a longa jornada de um retirante, que começara, como a de milhões de nordestinos, em cima de um pau-de-arara, terminava, como expressão de um projeto coletivo, na rampa do planalto”. um projeto coletivo, um projeto coletivo. ei, vocês que fazem parte desta massa! eu também faço parte desta coletividade, um brinde ao ano-brasil novo!

mais: “governar para todos é meu caminho, mas defender os interesses dos mais pobres é o que nos guia nesta caminhada. se alguns quiseram ver na minha primeira eleição apenas um parêntesis histórico, a reeleição mostrou que um governo que cumpre os seus compromissos obtém a confiança do povo”. parêntesis, oásis, travessia do deserto, hiato, istmo? ou um novo e inédito ponto de partida?

e, aqui, as mariposa, olha só as mariposa!: “o brasil não pode continuar como uma fera presa numa rede de aço invisível – debatendo-se, exaurindo-se, sem enxergar a teia que o aprisiona. é preciso desatar alguns nós decisivos para que o país possa usar a força que tem e avançar com toda velocidade”. ele fala, entendo eu, de uma sociedade que opta pela imobilidade elegendo a reclamação ranzinza e a fuga chorosa às responsabilidades individuais e coletivas como estratégia de (in)ação, contra uma sociedade que decide fazer, participar, criar e se transfigurar, em vez de atolar no pântano dos queixumes áridos e estéreis e envenenados de preguiça de agir e de mudar.

“é preciso garantir o crescimento de todos, diminuindo desigualdades entre as pessoas e as regiões.” desigualdade entre pessoas (alô, pretos, mulheres, homossexuais, ciganos, índios, downs, minoritários em geral!), desigualdade entre regiões (alô, norte & nordeste & centro-oeste!), cê tá entendendo?? aqui vamos chegando ao cerne, ao sol de magma (e não de tungstênio), que é o que vem deixando à beira de um ataque de nervos um sem-número de mimados sinhozinhos & sinhazinhas da velha casa-grande (& senzala). se antes vinha tudo de mão beijada & do bom & do melhor para os paulistas-cariocas-sulistas heterossexuais brancos ricos & riquinhos e que tudo mais fosse para o inferno, o que restaria a eles fazer agora, a não ser se portarem feito moleques pirracentos diante da perda não do benefício nem do privilégio, mas meramente da exclusividade autoritária? restaria deixar de manha e vir participar, não é mesmo?, será que um dia eles (que também são minoria, pelo menos numérica) finalmente virão?

e então mais adentro ainda, ao cerne, à questão da educação: “reitero que a educação de qualidade será prioridade de meu governo. mais do que a qualificação para o mundo do trabalho, a educação é um instrumento de libertação, que o acesso à cultura propicia. ela dá conteúdo à cidadania formal de homens e mulheres. um país cresce quando é capaz de absorver conhecimentos. mas se torna forte, de verdade, quando é capaz de produzir conhecimento“. produzir conhecimento, está ouvindo?, produzir conhecimento! quem está dizendo isso não é o homem-lula, é o homem-símbolo coletivo, operário periférico, flagelado, favelado, empregada doméstica, o cara sem diploma que veio num ita do norte, a doméstica que foi trabalhar recomendada pra dois gringos, o matuto que deixou seu cariri no último pau-de-arara, no dia em que ele veio embora. não é o príncipe, é o sapo.

pois ele (nós) vai (vamos) além: “quero reafirmar, neste dia tão importante, que o meu sonho é ajudar a transformar o brasil no país mais democrático do mundo no acesso à universidade. para isso contribuirão as novas universidades e extensões universitárias e as escolas técnicas em todas as cidades pólo do país. para isso contribuirá também a expansão das bolsas do prouni. este foi sempre o nosso propósito: democratizar não só a renda, mas também o conhecimento e o poder”. e, agora, atenção redobrada, por favor, tu que costuma fazer ouvidos moucos quando te falamos de rap, cordel, antônia, estamira, ceguinhas de campina grande, unk carioca e tecnobrega paraense!!!!: “o brasil assistirá dentro de dez ou quinze anos o surgimento de uma nova geração de intelectuais, cientistas, técnicos e artistas originários das camadas pobres da população“. intelectuais!, cientistas!, técnicos!, artistas!, e eu vou estar aqui para testemunhar isto!!!!, aliás, eu já estou testemunhando, apaixonadamente [e posso, inclusive, me considerar um deles todos, cá com minha origem tímida, meu pai dono de casa lotérica, minha mãe dona-de-casa, minha família toda maringaense, pois não?!]!!!!

“nossa política externa – motivo de orgulho pelos excelentes resultados que trouxe para a nação – foi marcada por uma clara opção pelo multilateralismo, necessário para lograr um mundo de paz e de solidariedade. essa opção nos permitiu manter excelentes relações políticas, econômicas e comerciais com as grandes potências mundiais e, ao mesmo tempo, priorizar os laços com o sul do mundo.” mora?, o sul do mundo é o cu do mundo, somos nós(e nem pense em se excluir, só porque você vive porventura num palacete nas vizinhanças da daslu ou num condomínio trancafiado às margens marginais dos rios assassinados de pinheiros e tietê, que o excelentíssimo sr. governador josé serra irá despoluir completamente, se é que pretende mesmo abandonar o discurso neo-udenista-neo-moralista de que ainda não desistiu e passar a fazer o “governo de esquerda” que dizem que prometeu): nós, locos-por-ti,-américa, os “pobres”. “estamos mais próximos da áfrica -um dos berços da civilização brasileira. fizemos do entorno sul-americano o centro de nossa política externa. o brasil associa seu destino econômico, político e social ao do continente, ao mercosul e à comunidade sul-americana de nações.” a bênção, mãe áfrica, a senhora somos todos nós!

pois, olhe, as mariposas podem até ter espasmos de fúria ao ouvir falar em chávez, evo, lula, haitianos, africanos & cia., mas é simplesmente porque este eixão sul-sul é o mesmo que trará para cá a nova geração de intelectuais-cientistas-artistas de que lula falou: é o eixo que conversa de igual para igual, entre iguais, se olhando no espelho, e não olhando para baixo (como fazem nossos patrões do norte e dos andares aqui de cima) ou olhando cabisbaixos (como fazemos nós-operários do dia-a-dia). sem intermediários, sem atravessadores, sem jabaculês, sem agentes laranja (mecânica), sem caixa 2.

“é tempo do nascimento de um novo humanismo, fundado nos valores universais da democracia, da tolerância e da solidariedade. o brasil tem muito o que contribuir neste debate. colocamos o respeito aos direitos humanos no centro de nossas preocupações. ampliamos políticas públicas nesta direção e criamos instituições de estado fortes e capazes de garantir que este país combaterá de maneira decidida e permanente todas as formas de discriminação de gênero, raça, orientação sexual e faixa etária.” tá, as mariposa dirão que é blablablá, demagogia, aqueles impropérios de sempre das manadas-de-gnus (os “reis” estão gnus?). mas eu, não, eu acho que este é o cerne, o que já está nos diferenciando de tudo que conhecíamos e nos diferenciará mais e mais (& melhor) daqui por diante.

[pode ser que eu incorra em erro agora, mas alguma vez você já ouviu o presidente de algum país se pronunciar, num golpe só, contra discriminação de gênero, raça, orientação sexual e faixa etária? eu nunca ouvi, e quase desmaiei ao ler no discurso de lula-glauber-luizgonzaga-lampião essa afirmação. e não é que votei, me comprometi, renovei o compromisso, procuro atuar 24 horas por dia e, pronto!, me sinto plenamente representado?!

me sinto, mas ainda me pergunto, aflito: que pessoa poderá se colocar em contrário a que os negros freqüentem como consumidores o shopping higienópolis (como já os vejo fazendo, cada vez mais)?, a que minha mãe ganhe seu próprio dinheiro confeccionando seus tapetes lá em maringá?, a que nordestinos edificadores do brasil “rico” não sejam tratados como sub-humanos?, a que gentes de todas as sexualidades possam exercer livre e abertamente seus modos de ser? hitler, e quem mais?]

“por isso cresce a participação das mulheres na vida econômica, social e política do país. cada vez mais, os negros ocupam o lugar que lhes é devido em um Brasil democrático. assim como os povos indígenas, que reconquistam e consolidam a sua dignidade histórica”, cê tá entendendo por que sinhozinho fica nervoso encarcerado lá no palacete? como vai ser no dia em que ele tocar o sinete e não vier mais jarbas, nem maria das dores, nem raimundo, nem sebastiana, nem arnaldo jabor, nem clovis rossi?

“nosso país pode ser uma voz e um exemplo autêntico e poderoso para o mundo na questão da diversidade. pode ajudar a mostrar que neste planeta desigual, é possível avançar no sentido do entendimento, quando os interesses dos diferentes e, sobretudo, dos excluídos passam a integrar efetivamente a agenda nacional.” entendimento, tolerância, solidariedade, quem há de não desejar?, e por quê?

a vontade de mudançaque esteve reprimida por décadas, séculos – expressou-se pacificamente, democraticamente e esta manifestação contribuiu de modo notável para o fortalecimento das instituições“, e “o caminho da política exige paciência, concessões mútuas, compreensão do outro. exige que sejamos capazes de levar ao extremo a prática da escuta. pois só assim é possível sintonizar e harmonizar interesses”. as mariposa podem achar que é blablablá (ou ir girar em torno de outras lâmpidas), mas “mudança”, “desrepressão”, “pacifismo”, “democracia”, “fortalecimento”, “paciência”, “concessões” (mútuas!, concessões mútuas!), “compreensão do outro”, “prática da escuta”, “sintonia”, “harmonia”, quem há de não desejar?, e por quê? as mariposa podem garantir que é lengo-lengo, mas para mim é o cerne, a medula, o tutano. eu poderia, tranqüilamente, fazer dessas as minhas potenciais palavras-de-ordem para o resto inteiro da vida. você não poderia?

taí, acho que era isso o que eu queria dizer, para conseguir voltar à carga, trocar de ano, retomar e recomeçar o blog e a vida. faltava esse texto como acerto de contas com tanta unha roída nos últimos anos, estava difícil de conseguir concretizá-lo. mas, taí, tão longe & tão perto, tão igual & diferente de sempre – pois, parodiando o presidente (e, de quebra, também a minha querida márcia), eu também quero, de 2007 em diante, continuar 100% igual & ficar 100% diferente.

vai daí que este fim de ano foi tão igual a e tão diferente de tantos que já passaram, e que foi atravessado naqueles gramadões que, não, ainda não são verdadeiramente democráticos [será que um dia serão, a bordo dos sonhos tortuosos do (não) cigano kubitschek, do (não) alienígena niemeyer, do (não) cangaceiro lula e da multidão (não) anônima por trás deles?].

vai daí que termino este depoimento com imagens, daquelas que, sem falar, falam mais que as 1001 palavras que acabei de tentar encadear. primeiro, um decalque da exposição que vi num pavilhão no gramadão, em frente à catedral de brasília, de flagrantes do fotógrafo oficial da presidência, ricardo stuckert. elas reaparecem aqui re-fotografadas à mão, toscamente, não para copiar ou samplear, mas simplesmente para demonstrar como as imagens que correspondem aos discursos do presidente tampouco são difundidas pela mídia das mariposa, que vai assim mais e mais se tornando mentirosa por omissão, se não mentirosa por outros motivos mais (poxa, dona imprensa, é como disse o cara lá da globo…, cê acha que ningém tá vendo o que a senhora tá omitindo, que ninguém tá reparando no que a senhora tá escondendo, que ninguém tá entendendo o que a senhora não quer traduzir???).





e, por fim, umas poucas tiradas de punho próprio, da (pequena) multidão (quase) discreta e (completamente) pacífica do primeiro dia do ano, em cenas que, poucas, denotam nelas mesmas um mundão de solidariedade, rebeldia, tenda cigana, circo, feira, aquilo tudo mesmo que tantas palavras tentam traduzir – enfim, o brasilzão que temos hoje em mãos e que conosco se esforça, aos trancos e barrancos, por seguir cursando a grande faculdade do progresso e da inclusão. vambora!





feliz ano velho, feliz ano novo!

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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