Nana Caymmi (1941-2025) nunca foi a mais midiática das cantoras brasileiras – em seus últimos anos de vida, quando apareciato nos meios de comunicação, geralmente era por motivos que se voltavam contra ela. Lá na outra ponta da história, o começo, seu aparecimento foi paulatino, titubeante, como se ela espiasse por uma fresta antes de entrar no cenário musical.
Tudo começou quando Nana tinha 19 anos e seu pai, Dorival Caymmi (1914-2008), patriarca familiar e da canção brasileira, colocou-a num dueto de “Acalanto”, que ele havia feito para ninar a filha primogênita, mas só gravara pela primeira vez três anos antes, em 1957, aos 16 anos da filha: “Dorme, anjo/ papai vai te ninar/ boi, boi, boi/ boi da cara preta/ pega esta menina/ que tem medo de careta”.

Imediatamente, ainda em 1960, a jovem Nana estreou sua história solo, num compacto de voz aguda e feição mista e indefinida, um tanto samba-cancionista, um bocado bossa-novista, um pouco proto-roqueira no mesmo estilo sem-estilo dos inícios musicais de seus contemporâneos Roberto Carlos e Elis Regina.
O lado B do primeiro compacto solo era ocupado pelo grave samba-canção “Adeus”, de Dorival, que o cantor Ivon Curi lançara 12 anos antes, em 1948. No lado A, a híbrida e frugal “Nossos Beijos” trazia como um dos autores Macedo Netto, um ano depois da morte precoce de sua esposa, Dolores Duran, principal compositora brasileira feminina da segunda metade dos anos 1950 – na realidade, havia apenas duas em condições competitivas, pela primeira vez desde o advento de Chiquinha Gonzaga (1847-1935): Dolores Duran e Maysa Matarazzo. Nana não se atreveu a compor seus próprios sambas-canções.
Ao contrário de abrir o vozeirão, a filha de Dorival se calou logo depois de começar a gravar: em 1961, casou-se com um médico venezuelano e se mudou para o país vizinho, onde nasceram suas duas primeiras filhas, Stella (mesmo nome da mãe de Nana, Stella Maris) e Denise. Só voltou a ser ouvida em disco quatro anos depois, novamente pelas mãos do pai. O LP Caymmi Visita Tom (1964), raro encontro entre o precursor Dorival e o pupilo Tom Jobim, trazia como lambuja as participações mais ou menos ligeiras dos futuros três continuadores musicais da dinastia Caymmi, a primogênita Nana, o filho do meio Dori Caymmi (nascido em 1943) e o caçula Danilo Caymmi (de 1948), futuramente muito próximo de Tom Jobim. As imbricações entre as famílias Caymmi e Jobim nunca mais deixariam de existir, com implicações musicais tendentes ao infinito.
A parte do latifúndio Caymmi-Jobim que coube à jovem Nana em 1964 foi novamente duetar (algo descoordenadamente) com o pai, agora na inédita “Inútil Paisagem”, composição de Tom com Aloysio de Oliveira, ex-integrante do Bando da Lua de Carmen Miranda (inclusive quando ela lançou o jovem Dorival, em 1939, com “O Que É Que a Baiana Tem?“) e responsável artístico pela multinacional Odeon quando da eclosão da nossa nova, em 1958. Além dessa, Nana ganhava o direito de cantar, sozinha e em tempo de samba-jazz, as faixas “Sem Você” (1958), de Tom e Vinicius de Moraes, e “Tristeza de Nós Dois” (1961), dos bossa-novistas de apoio Durval Ferreira, Bebeto Castilho e Maurício Einhorn. Uma melancolia profunda, à moda das predecessoras Maysa e Nora Ney, já marcava o canto e a voz agora um pouco mais solta da herdeira.
À frente do mitológico e quixotesco selo independente Elenco, Aloysio de Oliveira lançou Dorival Visita Tom e providenciou para logo o LP de estreia da filha mais velha de Dorival. Nâna, com exótico circunflexo, saiu em 1965 – hoje, em tempos ditos de super-abundância, o álbum está fora de circulação das plataformas digitais transnacionais, a não ser o onipotente YouTube.
Sem o sobrenome familiar e com arranjos orquestrais grandiloquentes, conduzidos pelo jovem Oscar Castro Neves, Nâna é o primeiro disco de samba-canção da intérprete iniciante, distribuído entre algumas bossas (como “Derradeira Primavera”, 1963, de Tom e Vinicius), uma canção praieira de segunda geração composta pelo irmão “Dorival Caymmi Filho”, mais tarde Dori (“Velho Pescador”), e muitos sambas-canções. A faixa-síntese dos próximos 60 anos era a climática faixa de abertura, “Morrer de Amor”, inédita de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini.
O tom geral de samba-canção era dado, ainda, por Dorival Caymmi, o autor de “Nunca Mais” (1949, lançado por Lúcio Alves), “Não Tem Solução” (1950, por Dick Farney), “Nesta Rua Tão Deserta” (1953) e “…Das Rosas (1964), além de uma versão solo para “Acalanto”. São todas composições da fase carioca do autor baiano, caracterizada exatamente pela conversão do sambista brejeiro de canções praieiras em compositor afiado de canções de fossa e dor de cotovelo. “Não Tem Solução” e “Nesta Rua Tão Deserta”, entre vários outros sambas-canções de Caymmi, eram assinadas por ele (quase sempre um compositor solitário) com o playboy Carlos Guinle, provável “comprositor”, mais ou menos à maneira do que faziam nos anos 1920 e 1930 cantores (brancos) como Francisco Alves e Mário Reis, que vasculhavam a cidade (inclusive seus morros) para pescar sambas geniais de compositores (negros) como Cartola e Ismael Silva.
Pará lá e para cá de Caymmi, é “Morrer de Amor” que dá o tom de Nâna. Embora fosse uma composição de dois bossa-novistas de apoio, “Morrer de Amor” era em tudo afinada com o dramalhão musical que governou o Brasil nas décadas de 1940 e 1950, sob a alcunha de samba-canção: “Andei sozinha/ cheia de mágoa/ pelas estradas e caminhos sem fim/ tão sem ninguém/ que pensei até em morrer”.
Um pique de funda fossa existencial havia locomovido na década anterior as carreiras de cantoras como Nora Ney (de “Ninguém Me Ama”, 1952) e as também autoras Dolores Duran (“Solidão”, 1958) e Maysa (“Meu Mundo Caiu”, 1958), prováveis modelos femininos na consolidação da identidade (não só) musical de Nana Caymmi. Os anos de dor-de-cotovelo embalados pelos samboleros derramados e sofredores de Caymmi, Lúcio Alves, Dick Farney, Nora Ney, Dolores Duran, Maysa e outros correspondem à infância e adolescência da filha carioca de pai baiano da capital e mãe mineira interiorana. Nana Caymmi carregaria para sempre o fardo (e a delícia) do samba-canção de rasgar coração.
No final de 1965, Nana decidiu abandonar o casamento e voltar para o Brasil, grávida do terceiro filho, João Gilberto (o nome talvez dê pista importante sobre as relações entre Nana e a bossa nova, entre o samba-canção e a bossa nova). Começou aí o desacerto com Dorival, que, segundo Nana relatou inúmeras vezes ao longo dos anos, não aceitou a separação da filha e ficou sem falar com ela por sete anos. Algumas coisas aconteceram nesse intervalo, no qual Nana Caymmi enfrentou convenções familiares de modo similar ao que faria, décadas depois, com gênio e determinação, sua sobrinha cantora-compositora Alice Caymmi (filha de Danilo).
A ruptura com o pai corresponde a dois fatos de vulto na carreira artística de Nana Caymmi. Primeiro, ela adentrou a era dos grandes festivais da canção e venceu o I Festival Internacional da Canção (FIC) da TV Rio, em 1966, interpretando em altos brados “Saveiros”, composição do irmão Dori com o jornalista Nelson Motta. Curiosamente, o boom dos festivais se iniciava sob o signo de Dorival Caymmi, nas canções de alguma forma praieiras “Saveiros”, no FIC, e, um ano antes, “Arrastão” (de Edu Lobo e Vinicius de Moraes), vencedora do I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, na interpretação abrasiva e expressionista de Elis Regina. Caymmi ainda estava lá, mas os tempos, eles estavam mudando.
Nana Caymmi, tropicalista?
A outra acontecência maiúscula foi a aproximação de um novo baiano, Gilberto Gil, com quem Nana esteve casada desde antes do advento da tropicália até o exílio londrino de Gil e de Caetano Veloso, no pós-Ato Institucional Nº 5 de 13 de dezembro de 1968. Esse é um dos momentos nebulosos da história da MPB: embora pouco se fale sobre isso, Nana esteve presente na gestação tropicalista, e talvez por um triz não tenha se somado ao grupo baiano-paulista que fez a revolução abortada pelo AI-5, na qual estiveram filiadas Gal Costa, Nara Leão e Rita Lee.

Uma prova material de que essa breve confluência Caymmi-tropicalista aconteceu é um excêntrico compacto duplo de 1967, em cujas quatro músicas Nana se faz acompanhar pelos muito jovens roqueiros Mutantes, de Rita Lee, sob regência do maestro vanguardista Rogério Duprat. Uma das canções é “Alegria, Alegria”, de Caetano, quarto lugar III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, aquele em que digladiaram o “Ponteio” de Edu Lobo, o “Domingo no Parque” de Gil, a “Roda Viva” de Chico Buarque e… o “Bom Dia” composto em única e ímpar parceria por Nana e Gil.
Soa surpreendente ainda hoje ouvir “Alegria, Alegria” na voz de Nana, em interpretação suave, mas sob um fundo tropicalista em que se ouvem o coro paulistaníssimo dos Mutantes (imagine um encontro-choque entre Nana Caymmi e Rita Lee: ele existe) e uma distorcida guitarra elétrica, prova de que naquele momento a filha de Dorival não havia se alistado à passeata liderada pela Record e por Elis Regina, em protesto irado contra a invasão de instrumentos supostamente alienígenas à MPB (ao que consta, Gil foi, mas Nana, não). Guardadas mil proporções, é como se, hoje em dia, Alice Caymmi pusesse o DNA caymmiano em contrato com a fúria trans de uma Pabllo Vittar (sim, isso também tem acontecido, ao menos desde 2018, e há boatos de que tia Nana não gostou). Aconteceu em 1967-1968, até que a diáspora veio separar (quase) todo mundo.
O elo de coesão das várias pontas dessa estrela no ano-fenômeno de 1967 é mesmo “Bom Dia”, uma canção de trabalho bem-comportada, de tom campesino-getulista-petista, defendida por uma Nana Caymmi moderna, de cabelos curtos e bata tropicalista (em contraste com um Gil ainda de terno), até a final da competição vencida por “Ponteio”, mas não classificada entre as seis vencedoras da mitológica edição festivaleira em que a guitarra elétrica e o violão travaram sangrento duelo.
“Bom Dia” é a única composição conhecida de Nana, e tem sido gravada por intérpretes diversos como Gal Costa, Joyce Moreno, Agostinho dos Santos, Quarteto em Cy, Tarancón, Cida Moreira e Mônica Salmaso. Um depoimento de Gil sobre “Bom Dia” aparece no documentário Rio Sonata (2010), devotado a Nana Caymmi pelo diretor franco-suíço Georges Gachot. Gil refuta a deconfiança de que o nome da co-autora estivesse decorativa na parceria e afirma que “Bom Dia” é mais de Nana do que dele.
Nana, por sua vez, falou em 2024 sobre a travessia tropicalista, ao jornalista Claudio Leal, num depoimento publicado após sua morte: “Eu ainda quero dizer pra ele [Caetano Veloso] e Gil que eu não podia ficar naquela loucura deles. Cheguei a prestar depoimento. Tinha filhos para criar e fiquei com medo de ter que voltar para a Venezuela. Tinha pavor de voltar para a Venezuela, onde vivia o pai dos meus filhos. Tive que me separar de Gil e sair daquela maluquice. Não dava pra mim”.
De volta à diáspora de 1968, era hora de a bomba explodir (ou implodir) em 1 milhão de estilhaços, e então a voz fonográfica de Nana Caymmi se calou de novo, desta vez por seis anos. Como uma exilada que não dissesse seu nome, ela zanzou cantando em palcos latino-americanos, não na Venezuela, mas no Uruguai e na Argentina.
Em 1973, vivendo com o fundador bossanovista acreano João Donato, lançou seu segundo LP 12 anos depois da primeira gravação, chamado Nana Caymmi e encampado pelo selo argentino Trova. O disco não circulou no Brasil à época, e só ganharia edição nacional em 1977, com outra capa e outro título (Atrás da Porta), pela gravadora que então a mantinha sob contrato, a marginal CID, Companhia Industrial de Discos, sem capital multinacional (e que, por incrível que pareça, ainda existe em 2025).

Por trás de uma capa tropicalista-psicodélica, o disco da Trova, um dos melhores da história de Nana, esconde 40 minutos de música inspirada, sob direção do pianista, orquestrador e arranjador argentino Oscar Cardozo Ocampo, com títulos em castelhano que ocultam um repertório 100% brasileiro e arrojado, começando pelo indefectível Dorival Caymmi, na inédita “Cala Boca Menino”, lançada no Brasil no mesmo ano por João Donato, num prenúncio da fase viajandona do bossa-novista nascido no Acre, com ápice no fenomenal álbum Lugar Comum (1975), em dupla com Gilberto Gil. A versão de Nana tem jeito, corpo, focinho, alma e molejo de João Donato, do início ao fim.

Quase metade do repertório é de clássicos de Caymmi, com os sambas faceiros baianos “Rosa Morena” (1942), “Vestido de Bolero” (1944), “Dora” (1945) e novamente “Nunca Mais”, samba-canção caymmiano, praieiro de Copacabana. O samba-canção se diz presente também, em alto e bom som, em “Saia do Caminho”, de Custódio Mesquita (lançado em 1946 por Aracy de Almeida), e “Por Causa de Você (1957), da breve parceria de Dolores Duran com o então pré-bossa-novista Tom Jobim.
Como havia acontecido no compacto duplo deixado pelo caminho em 1967, as cinco faixas restantes são de compositores contemporâneos de Nana, um pouco anteriores ou um pouco mais novos: o samba de morro “Diz Que fui por Aí” (1964), de Zé Keti; o samba-canção ultrarromântico “Pra Você” (1965), de Silvio Cesar (já recauchutado, em 1970, por outro apaixonado pelo estilo, Roberto Carlos); a bossa “O Amor É Chama” (1966), dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, convertida pela intérprete em bossa-fossa; a quase-nova “Atrás da Porta”, de Chico Buarque e Francis Hime, lançada dois anos antes por Elis; e mais uma da seara suingada de João Donato, “Ahiê” (com co-autoria atribuída à sambista-jazzista brasileira-internacional Flora Purim na versão de Nana, mas não na de Donato). Nana encontrava, aqui, um equilíbrio moderno-tradicional que a acompanharia décadas afora, com resultados às vezes mais, às vezes menos vibrantes.
Nana Caymmi, o Clube da Esquina e a MPB dos 1970
A reconciliação com a indústria fonográfica brasileira só irá acontecer em 1975, por intermédio da CID e de um compositor de meio termo (ou um fiel da balança) entre a MPB anti-guitarra elétrica e a MPB tropicalista: Milton Nascimento. Nana Caymmi começa matador com os clubes da esquina recém-lançados (por Milton) “Ponta de Areia” (dele com Fernando Brant) e “Beijo Partido” (de Toninho Horta). E prossegue geracional com a fossa grossa “Branca” (do irmão Danilo, original apenas instrumental da trilha global de Irmãos Coragem, de 1970); “Tens (Calmaria)” (de Ivan Lins, 1974); e “Passarela” e “Acorda Que Eu Quero Ver”, dois sambas cariocas assinados por um certo Carlos Dafé, antes de ele aparecer na voga samba-soul/black music da segunda metade dos 1970.
Metade do LP é ocupada pela história da MPB pós-samba-canção, com mais Tom e Vinicius e, logicamente, mais Dorival Caymmi, no samba-cancionismo copacabano de “Saudade” (lançado em 1947 por Orlando Silva) e “Só Louco” (1955), uma obra-prima, um ano antes da versão de Gal Costa, também magistral (e com arranjo de João Donato).
Desta vez, entre o passado e o futuro, o que sobressai é o primeiro encontro vocal de Nana com o contracanto de Milton – o coito-duelo musical chegará ao cume seis anos mais tarde, na versão monumental da esquina barroca “Sentinela” (1969), de Milton e Brant, agora palmo a palmo com Nana. Neste disco, a cantora estabelece o padrão de preferência por arranjos orquestrais de cordas, nessa época quase sempre pilotados pelo irmão Dori.
O segundo LP pela CID se chamou Renascer (1976) e foi o primeiro a não conter canções de Dorival Caymmi. Apesar das presenças de Tom (em “Pois É“, parceria com Chico Buarque, 1970) e Vinicius (“A Dor a Mais“, com Francis Hime, 1974), é um disco quase totalmente geracional, com mais Clube da Esquina (“Sacramento“, 1972, a nova “Boca a Boca“, em dueto com Dori e com violão de Milton) e inéditas graves e concentradas entregues a Nana por Dori e Paulo César Pinheiro (o épico doricaymmiano “Desenredo”: “Ê, Minas, ê, Minas/ é hora de partir, eu vou/ vou-me embora pra bem longe”), Edu Lobo e Cacaso (“Branca Dias“), Ivan Lins e Vitor Martins (“Mãos de Afeto“), Danilo Caymmi (“Codajás”, nome da rua onde a família Caymmi viveu no Leblon, Rio de Janeiro, “Aperta Outro“), o então quase desconhecido Djavan (“Dupla Traição”).
Renascer é um disco-manifesto de MPB não-tropicalista inédita ou quase inédita, em que o único momento fora da curva é a releitura de “Sodade, Meu Bem, Sodade”, atribuída a Zé do Norte, standard nordestino apresentado em 1953 por Vanja Orico, no filme O Cangaceiro, de Lima Barreto. “Sodade, Meu Bem, Sodade” é, também, uma solitária e quase subterrânea ponte com a tropicália: Caetano havia citado os versos “os óio da cobra verde/ hoje foi que arreparei/ se arreparasse há mais tempo/ não amava quem amei” em “It’s a Long Way“, de Transa (1972).
Ainda em 1976, Nana Caymmi participou intensamente da colossal trilha sonora composta por Milton Nascimento para Maria Maria, o primeiro espetáculo de dança do Grupo Corpo, de Belo Horizonte. Ela faz vocais ao lado de Milton, canta uma primeira versão de “Maria Solidária” com Beto Guedes e a iniciante Fafá de Belém, faz o solo vocal do imemorial “Do Pilá” (gravado pela primeira vez em 1938 e incorporado por Tom Jobim em seu épico “O Boto“, no mesmo 1976) e interpreta os gemidos lancinantes de uma maria negra escravizada e açoitada em “Lilia” (1972). Lançada comercialmente apenas em 2002, a trilha está fora do ar nas supostamente totalizantes plataformas de streaming musical.

Em 1977, a artista foi contratada pela multinacional RCA Victor e lançou seu LP mais elaborado até aqui (denominado simplesmente Nana, sem circunflexo), uma estreia de gala com grande orquestra e uma profusão de músicos do núcleo Clube da Esquina, duas constantes nos próximos discos. Dois momentos fulguram lado a lado em Nana: sua leitura uterina para o clássico de desenraizamento “Cais” (1972), de Milton e Ronaldo Bastos, e “Milagre”, excepcional samba praieiro inédito do compositor então já bissexto Dorival Caymmi, em dueto vocal com o próprio. Nana olha para trás em “Perdoa, Meu Amor” (samba-canção lançado por Orlando Silva em 1947), o samba salgueirense “Falam de Mim” (1949), “Modinha” (de Tom e Vinicius, lançada por Elizeth Cardoso em álbum de corte da bossa nova em 1958) – e o dramão “Se Queres Saber”, samba-canção lançado 30 anos antes por Emilinha Borba, que se tornará a partir daqui uma das joias do repertório tipicamente nanacaymmiano.
No setor contemporâneos, Nana 1977 lança inéditas e potentes das lavras de Toninho Horta (“Dona Olímpia“), Ivan Lins (“Não Há Lugar“) e Danilo Caymmi (a pungente “Meu Menino”, outro standard do repertório de Nana).
As compositoras de Nana Caymmi
“Meu Menino” traz a parceria de Danilo com a então esposa Ana Terra (também co-autora de “Amor, Meu Grande Amor”, obra-prima de Angela Ro Ro em 1979), e “Fingidor” é uma inédita da densa compositora Sueli Costa, a partir de agora uma constante no repertório de Nana. Pela primeira vez, a intérprete lança novas composições assinadas por mulheres, o que se tornará mais uma marca registrada nanacaymmiana. Essa atitude não ficará cravada como façanha da cantora, sinal de que ela encampava a conquista feminina do direito de compor como uma guerra de guerrilha, quase clandestina, sob resistência rígida e silenciosa das indústrias fonográfica e criativa desde sempre masculinas.
O vínculo com a RCA Victor não prosseguiu, e em 1979 Nana estreou em outra multinacional, a EMI-Odeon, onde seu pai esteve desde 1939 (e onde ela permaneceria até 2000). Exceto por “Amargura” (samba-canção de amargor lançado por Lúcio Alves em 1950), Nana Caymmi 1979 é totalmente erguido sobre obras de autores contemporâneos da cantora, entre eles João Donato (“Depois do Natal“, 1965), Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges (“Clube da Esquina Nº 2”, 1972, em memorável releitura), Gonzaguinha (a antológica “Palavras”, 1973), João Bosco e Aldir Blanc (as novas e sombrias “Patrulhando – Masmorra”, de evocação direta às torturas inquisidoras clandestinas perpetradas pela ditadura, e “Denúncia Vazia“).
Entre as canções inéditas apresentadas em mais um Nana Caymmi, destacam-se a visceral “No Analices” (bilíngue e com tonalidades de nueva canción chilena, em dueto com o co-autor Claudio Cartier), “Pra Não Chorar” (Tunai e Sergio Natureza) e “Contrato de Separação“. Essa última enfrenta um tema caro a Nana, numa parceria masculina-feminina do casal pernambucano Dominguinhos e Anastácia – o forró habitual da dupla cede, aqui, ao samba-canção e ao bolero tão adorados pela intérprete.
Outra compositora surge no colchão musical de Nana: Rosa Passos, co-autora de “Formicida, Corda e Flor”, um bolerão sem medo de discorrer, com doses de drama, ironia e humor, sobre suicídio: “Uma banda de gilete/ suco de maracujá/ uma caixa de chicletes/ lençol branco no sofá/ bandeirolas na janela/ uma caixa de hidrocor/ sopa amarga na panela/ formicida, corda e flor”.
Em “Contrato de Separação”, grita o espírito do tempo de distensões, anistias e divórcios: “Eu quis fazer com ela um contrato de separação/ negou-se então a aceitar/ sorrindo da minha ilusão/ só tem um jeito agora/ é tentar de vez me libertar”. Concomitantemente, a partir de 1979, Nana Caymmi provoca rumor extra-musical pela união amorosa com o músico Claudio Nucci, integrante do grupo vocal Boca Livre, 15 anos mais jovem que ela.
Mudança de ventos

Um brilho novo se reflete em Mudança dos Ventos (1980), cuja provocadora canção-título de Ivan Lins e Vitor Martins vai direto ao tabu, ainda sob o signo de tempos de “começar de novo”: “Ah, vem cá, meu menino/ pinta e borda comigo/ me revista, me excita/ me deixa mais bonita/ (…) me tira essa vergonha/ me mostre, me exponha/ me tire uns 20 anos/ deixa eu causar inveja/ deixa eu causar remorsos/ nos meus, nos seus, nos nossos”. Qualquer que tenha sido a reação de Dorival, dessa vez não ficou registrada publicamente. É mais uma demonstração de que Alice Caymmi, mesmo que eventualmente repreendida pela tia, teve a quem puxar – e de que a família Caymmi não era (não é) apenas patriarcado, corda e flor.
A luminosidade raia em “Canção da Manhã Feliz”, lançada em 1962 por Elizeth Cardoso, que, com seu canto mestiço, foi outro ponto matricial para o repertório e as interpretações de Nana. Mudança dos Ventos segue para cima e para o alto na nova “De Volta ao Começo”, de Gonzaguinha; em “Meu Bem Querer” (1979), de Djavan; e, sobretudo, no épico doricaymmi “Estrela da Terra”, também gravada pelo irmão nesse mesmo 1980.
O setor feminino cresce em Mudança dos Ventos, com mais Sueli Costa (“Pérola“); mais Rosa Passos (“Essas Tardes Assim“); um samba-canção assinado simplesmente por “Stella” (ao que tudo indica sua mãe, Stella Maris, também cantora, mas jamais estimulada por Dorival a entrar no jogo), chamado “Fantasia (Minha Realidade)“; e o primeiro encontro com a mais profícua compositora de sua geração, Joyce Moreno, na sensual, serena e sublime “Mistérios” (lançada um ano antes no Clube da Esquina 2 de Milton): “Vida breve/ natureza”.
Quando arriscou revisitar universo infantil (um quarto de século depois de “Acalanto”), Nana interpretou com Joyce um dueto irreverente no estilo irmãs-más-da-gata-borralheira, “As Sobrinhas” (1983, de Ricardo Vilas e Geraldo Casé), da trilha do Sítio do Picapau Amarelo, o mesmo programa que na década anterior havia transformado música em fantasia e fantasia em música, sob direção musical e arranjos do irmão Dori.
Ao longo dos anos 1980, quando as paradas de sucesso se afastavam da MPB e se jogavam no pop-rock, Nana Caymmi continuou seguindo a risca bolero/samba-canção/bossa nova/MPB, com menos ímpeto e impacto, mas ainda colecionando bons momentos e declarações de intenções sobre suas predileções de compositores, instrumentistas e repertório. Em 1981, por exemplo, lançou seu primeiro disco feito todo de composições recém-compostas, …E A Gente Ainda Nem Deu Nome, com episódios sublimes no feminino como “Primeira Estrela”, obra-prima em forma de acalanto materno da dupla Luli & Lucina, e o samba “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço”, de Dona Ivone Lara.
Seguiu palmilhando as composições mais encorpadas de João Donato (“Café com Pão” e “Brisa do Mar”, em 1981), João Bosco e Aldir Blanc (uterina no “ventre de ostra” de “Siameses”, 1982, em duo com João, num LP dele), Milton Nascimento (“Fruta Boa”, 1983, a fundadora “Clube da Esquina”, de 1970, em 1996), Chico Buarque e Edu Lobo (“Bancarrota Blues”, 1985), Gilberto Gil (num reencontro musical após longo tempo, cantando “Buda Nagô”, 1992, homenagem de Gil a Dorival Caymmi).
Assinou discos de voz e piano com Cesar Camargo Mariano (Voz e Suor, 1983, de pura fossa), em estúdio, e com Wagner Tiso (Só Louco, 1989, em cujo repertório predominam a bossa de Tom e Vinicius e o Clube da Esquina), ao vivo no Festival de Montreux. Com Cesar, encetou lâminas cortantes como “Velho Piano” (1982), de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, e “Doce Presença” (1983), de Ivan Lins e Vitor Martins; com Wagner, acrescentou novas camadas à bossa de Vinicius de Moraes em “Medo de Amar” (1958) e ao Clube da Esquina de Lô Borges e Ronaldo Bastos em “Nuvem Cigana” (1972).
Merece menção à parte a simbiose musical entre Nana e o caçula Danilo, de quem ela gravou algumas das melhores melodias (em média uma por álbum), invariavelmente valorizando-as: “O Penúltimo Cordão” (1967), “Nossa Dança” (1979), “Rama de Nuvens” (1980), “Inda Lá” (1981), “Vem Morena” (1989), “Olhos de Saudade” (1993), o canto de trabalho praieiro “Flecha de Prata” (1996, secundada nos vocais pela neta Marina, ainda criança), “Chega de Tarde” (1998), “Vinho Guardado” (2001), “Visão” (2009), “Retirança” (2011)…
O espírito de corpo familiar faz morada particular em Dori, mais presente nos arranjos, mas de quem Nana também gravou vários petardos, como, além dos épicos já citados, o tema de festival “O Cantador” (em 1967, num improvável encontro entre o autor Dori e os acompanhantes Mutantes), “Tati, a Garota” (1976), “Flor das Estradas” (1985), “Saudade do Rio” (1998), “Saudade de Amar” (2001), “Sem Poupar Coração” (2009). Em “Flor da Bahia”, de Dori e Paulo César Pinheiro, Nana brilhou na trilha sonora da minissérie Tenda dos Milagres (1985), inspirada no romance de Jorge Amado e uma das inúmeras passagens dos irmãos pelas trilhas globais.
É grande também o número de duetos Nana-Dori: “Velho Piano” (em 1988), “Estrada do Sol” (de Dolores Duran, de 1958, em versão sublime de 1994), o samba-canção fundador “Linda Flor (Ai, Ioiô)” (de 1929, em 2001), “Lembra de Mim” (de Ivan Lins e Vitor Martins, 2002), “Pra Dizer Adeus” (de Edu Lobo e Torquato Neto, 1966, em 2015)…
Embora manifestando predileção evidente por certos autores (em especial os de sobrenome Caymmi), Nana não deixou de vasculhar canções de compositores mais novos e/ou que ela ainda não tinha gravado. Não chegou a alcançar autores e autoras do século XXI (exceto Juliana e Alice), mas gravou Ivor Lancellotti, os Boca Livre Zé Renato e Claudio Nucci, Octávio Burnier e Ivan Wrigg, Guilherme Rondon e Iso Fischer, Flávio Venturini, Moacyr Luz, Delcio Carvalho, Moraes Moreira, Dudu Falcão, João Nabuco, Kiko Furtado, Celso Viáfora, Guinga… De 2011, sua visão para “Flor da Noite” (1997), do veterano Ronaldo Bastos com Celso Fonseca, sobrevive como belíssimo testemunho do canto prospectivo, emotivo e emocionado de Nana Caymmi.
Todas as mulheres de Nana Caymmi
No ativismo feminino, seguiu gravando (sambas-)canções (geralmente inéditos) de Sueli Costa (1943-2023): o choro-canção “Nem Uma Lágrima”, em 1981; o épico de festival “Eu Te Amo”, 1982; “Voz e Suor“, 1983; “Primeiro Altar“, 1988; o bolerão “Sabe de Mim“, 1993; “Vale a Pena“, 1996; “Até o Redentor“, 1998; “Fumaça das Horas“, 2001; “Cantiga do Vento“, dueto com Sueli em 2007; “Violão“, 2009). Outra autora constante em seus sambas-canções é Fatima Guedes: “Chora Brasileira” e “Não Me Conte“, 1985; “Desacostumei de Carinho“, 1988; “Minha Nossa Senhora“, 1998; o bolerão “Desejo“, 2001; “Pra Quem Ama Demais“, 2009.
Entregou-se, mais, às canções femininas de Rosinha de Valença e Sarah Benchimol (“Clara Paixão“, 1983), Vera Cordovil (“Deixa Ficar“, 1992), Flora Purim (“Anjo do Amor“, 1996), Rosa Passos (“Esmeraldas“, 2009), Simone Guimarães (“Confissão“, 2009)… Para o cancioneiro samba-canção de Dolores Duran, Nana dedicou um álbum inteiro e inteiriço, outro dos ápices de sua carreira discográfica: A Noite do Meu Bem – As Canções de Dolores Duran, de 1994.
A sororidade se exerceu nos encontros vocais travados com outras mulheres em geral (supostamente) não-compositoras: Elizeth Cardoso (1986), a filha Denise Caymmi (1994), Wanda Sá e Célia Vaz (1994), Angela Maria (o dulcíssimo sambão-cançãozão “Estava Escrito”, de 1954, 1996), Beth Carvalho (1996), Elba Ramalho (1999), Hebe Camargo (2001), Maria Bethânia (2004), a portuguesa Carminho (2012)… Não houve dueto com Clara Nunes (na verdade houve, um póstumo, melhor deixar para lá), mas em Chora Brasileira (1985) Nana deixou uma dedicatória eloquente à colega de gravadora morta em 1983: “Clara querida – estamos no estúdio I, fazendo mais um disco. Que falta você faz! Continuo na Odeon. Dori e eu não te esquecemos. Até um dia”.
Há mais, na pinguela instável das gerações: no álbum Desejo (2001), Nana gravou “Seus Olhos”, da sobrinha Juliana Caymmi, em dueto com Alice Caymmi, meia-irmã de Juliana – a voz de Alice, então com 11 anos, soa irreconhecível para quem se acostumou com o trovão (pós-)nanacaymmiano desenvolvido a partir de 2012.
“Queria soltar a ‘caymmada’ toda. Coloquei Juliana porque ela é uma boa compositora. Só estou dando uma puxada”, disse Nana a este jornalista na época de Desejo. Lado a lado com “Seus Olhos”, no CD de 2001, está “Vou Ver Juliana”, um gostoso dueto-batuque com Zeca Pagodinho, composto por Dorival Caymmi anos antes do nascimento da neta. Oito anos depois, em 2009, Nana tornou-se também a primeira intérprete a gravar uma canção composta por Alice, “Diamante Rubi”.
Três anos depois, a sobrinha musicalmente mais rebelde se lançaria em carreira própria, uma Caymmi de terceira geração, cantora-compositora. Divergências, provocações e quebras de tradição à parte, Alice tem demonstrado, como a tia, uma queda forte para as mumunhas do samba-canção, da dor de cotovelo e do mais desbragado romantismo.
Nana fora (e dentro) do samba-canção
Não são muitos os momentos em que Nana Caymmi sai do script – ela nunca gravou com Pabllo Vittar -, mas eles existem e, eventualmente, não são tão distantes assim do desejo de Alice Caymmi pelo pop romântico-descabelado tipo “Sou Rebelde” (1979) e que tais. Em 1985, Nana aceitou convite do trovejante Agnaldo Timóteo para encerrar “Canção de Ninar Neném” (dramalhão composto por ele próprio) com um acalanto deprê. Ao seu modo, Nana também pulou muros de contenção da MPB, gravando com Elymar Santos (“Afrodite“, de Altay Veloso, em 1993); Altemar Dutra Jr. (“Nunca Mais“, de Dorival Caymmi, em 2000); e Agnaldo Rayol (a bossa clássica “Maria Ninguém”, de Carlos Lyra, em 2006).
Em 1988, Nana adentrou a soul music brasileira, gravando “A Lua e Eu” (1975), de Cassiano, em dueto com o filho João Gilberto, que sofreria um grave acidente de moto no ano seguinte, aos 23 anos, que lhe deixaria sequelas permanentes. Em 1996, Nana voltou a Cassiano, dessa vez sozinha, regravando “Primavera (Vai Chuva)” (1970), pedra bruta do soul brasileiro lançada por Tim Maia). Na mesma seara, ela cantou em shows o hit “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”, do samba-soulman baiano Hyldon. Segundo relata o jornalista Claudio Leal, a última gravação de Nana Caymmi, no ano passado, foi a mesma “A Lua e Eu”, para um álbum-tributo ainda inédito de Renato Braz a Tim Maia (Nana teria “errado” o combinado de cantar “Azul da Cor do Mar” e deixou registrado o soul “A Lua e Eu”, que Tim nunca gravou).
Outro prurido que Nana não teve foi de se alinhar ao espólio do iê-iê-iê. Em 1997, o projeto de duetos Casa da Bossa colocou-a cara a cara com o fidalgo jovem-guardista Erasmo Carlos para o duelo de veludo de um pot-pourri de bossa nova. A coalizão frutificou e levou a um próximo dueto no ano seguinte, de “Não Se Esqueça de Mim”, baladão romântico lançado por Roberto Carlos em 1977. Por último, Erasmo compôs para Nana, em rara parceria com Marcos Valle, o soul-fossa-bossamba-canção “Frases do Silêncio“, que ela gravou em Desejo (2001). Ainda das hostes de Roberto Carlos, Nana interpretou em 2009 a balada infanto-juvenil “Nossa Canção” (1966) – acredite quem puder, para a trilha sonora do filme Lula, o Filho do Brasil (hoje essa gravação não é encontrável nas plataformas, redes e tubes).
De volta a Dorival & os Caymmi
Afastada do repertório de Dorival na primeira metade dos anos 1980, a primogênita se reaproximou da música do pai para sempre a partir de 1986, quando se juntou a Dori e Danilo para gravar o disco-tributo Caymmi’s Grandes Amigos, quando voltou a “Acalanto” (novamente em duo pai-filha), “…Das Rosas” (em trio com os irmãos) e “Dora” (sozinha) e, pela primeira vez, gravou “João Valentão” (1953) e a inédita e tristíssima “Canção Antiga”. No ano seguinte, Dori, Nana, Danilo e Dorival Caymmi – Família Caymmi repetiu a dose ao vivo – e Nana brilha no coro de caymmis de “Promessa de Pescador” (1939), “Vatapá” (1942) e canta “Andança” (tema de festival de Danilo em 1968) num jogral com os irmãos.

As homenagens se tornaram rotina a partir daí, em Família Caymmi em Montreux (1991, o último de que Dorival participou como intérprete, 17 anos antes de morrer), Irmãos Caymmi ao Vivo no Supremo Musical (1999), Para Caymmi de Nana, Dori e Danilo – 90 Anos (2004, em versões de estúdio e ao vivo) e, após a morte do patriarca, Caymmi (2013). Nesse último, o mais inspirado da série, Nana e irmãos voltaram a temas esquecidos como “História pro Sinhozinho” (1945, retrabalhado por Dorival como “Tia Nastácia” em 1977, para o Sítio do Picapau Amarelo) e “A Mãe d’Água e a Menina” (1985).
Em 2002, enfim, Nana lançou seu primeiro álbum solo 100% dedicado à obra do pai, O Mar e o Tempo (só disponível no YouTube), no qual gravou pela primeira vez “Santa Clara Clareou” (1972), o samba migratório “Peguei um Ita no Norte” (1945) e os clássicos praieiros “Saudade de Itapoã” (1948), “Festa de Rua” (1949), “O Bem do Mar” (1954), “Morena do Mar” (1965) e “Sargaço Mar” (1985).
O arco familiar se ampliou em 2004, com Falando de Amor – Famílias Caymmi e Jobim Cantam Antonio Carlos Jobim, dos três irmãos com Paulo Jobim e Daniel Jobim, filho e neto de Tom. Enquanto a turma completa canta temas como “Samba do Avião” (1962), Nana sola “As Praias Desertas”, standard imortalizado em 1958 por vozes como as de Elizeth Cardoso, Maysa e Lenita Bruno.
Nana na fossa e no samba-canção, sempre
Palmo a palmo com o amor a Dorival e a Tom, o samba-canção nunca abandonou Nana Caymmi, em suas mais variadas manifestações. Em Bolero (1993), ela foi à raiz do gênero mestiço brasileiro (um ano antes de Caetano Veloso fazer o mesmo em Fina Estampa) e reinterpretou, quase sempre no espanhol nativo e em cargas fortíssimas de dor de cotovelo, boleros clássicos como “Frenesi” (1939), do mexicano Alberto Domínguez, “Contigo en la Distancia” (1946), do cubano Cesar Portillo de la Luz, e “Tu Me Acostumbraste” (1957), do cubano Frank Domínguez.
Em 2001, gravou mais um volume de boleros, Sangre de Mi Alma, na crista do sucesso comercial reconquistado pela inclusão do inédito bolerão-climão “Resposta ao Tempo” (1998), de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, numa minissérie da Globo. Foi o advento desse hit, via Rede Globo, que consolidou a parceria de Nana com o pianista Cristovão Bastos, com quem trabalhava desde o CD para Dolores Duran em 1994, mas que a partir dali se tornaria seu arranjador mais constante (sem que isso implicasse um afastamento entre Nana e Dori).
“A MPB é isso, essa bosta, o samba-canção abolerado, que veio do fado. Não muda”, declarou a sempre desbocada e irrevente Nana a este jornalista, no lançamento do álbum Resposta ao Tempo. Em novo encontro, três anos depois, se contradisse (e não) no lançamento de Desejo: “Não sou cantora de fossa, não. Não sou autora, sou co-autora do que canto. As canções de Sueli Costa e Fátima Guedes falam de amor de uma forma otimista. A melancolia está no nosso povo, no nosso samba de Carnaval. Não somos alegres”.
Não somos alegres, e ela, na mesma entrevista formulou uma poderosa síntese de si mesma: “Nana não apela, não usa artifícios. Se vender, sorte, mas o produto é de primeira. Não é caixa de morangos lindos com um monte de morango podre por baixo, como faz muita gente por aí”.
Foi sob essa filosofia que Nana continuou constantemente desbravando os baús do choro-canção, do samba-canção e da canção de fossa. Em momentos distintos, resgatou “Carinhoso” (Pixinguinha e João de Barro, 1937), “Chão de Estrelas” (de Silvo Caldas e Orestes Barbosa, 1937), “Último Desejo” (Noel Rosa, 1938), “Copacabana” (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1946), “A Saudade Mata a Gente” (João de Barro e Antônio Almeida, 1948), “Ninguém Me Ama” (Fernando Lobo e Antonio Maria, 1952), “Canção da Volta” (Ismael Netto d’Os Cariocas e Antonio Maria, 1954), “Não Diga Não” (Tito Madi, 1954), “Cansei de Ilusões” (idem, 1956, em duo com Tito), o emblemático “Neste Mesmo Lugar” (de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, lançado por Dalva de Oliveira em 1956), “Tarde Triste” (de Maysa, 1956), “Acontece” (samba-canção de Cartola, 1972), “Falso Brilhante” (João Bosco e Aldir Blanc, 1977), “Quando o Amor Acontece” (Bosco e Abel Silva, 1987), a maciça lista de sambas-canções compostos e lançados por Dolores Duran entre 1955 e 1959…
De Dolores, “Solidão” atravessa as décadas como uma síntese, da dor de cotovelo puro da autora em busca de espaço em 1958, convulsionando-se em ira com a iniciante (e compositora) Marina Lima em 1979, retornando ao mar da tranquilidade com Nana em 1994.
Em 2007, voltou a Dorival mais uma vez, unindo o provável e o inevitável: dedicou Quem Inventou o Amor a agrupar exclusivamente sambas-canções de Caymmi, a maioria deles rara em sua voz: “Saudade” (1947), “Desde Ontem” (1949), “Nem Eu” (1952), “Nesta Rua Tão Deserta” (1953), “Tão Só” (1953), “Valerá a Pena” (1955), “Horas” (1973).
Já no final da jornada, o samba-canção norteou o penúltimo álbum da intérprete, o temático Nana Caymmi Canta Tito Madi (2019), com standards da dor-de-cotovelo como “Chove Lá Fora” (1957), “E a Chuva Parou” (1957) e “Gauchinha Bem Querer” (1957), mais “Balanço Zona Sul” (1963), pós-fossa pós-bossa do discreto Tito Madi, cantada como fossa pura por Nana e Dori. Os momentos ensolarados, geralmente avulsos, passam pelas frestas, na festa caymmiana de “Maricotinha” (1994) com Bethânia, Dori e Moreno Veloso; no arranjo sambista de (ora, ora) “Quantas Lágrimas” (Manacéa, 1970, em 2005; ou dos carinhos enviados aos ex-amores João Donato (o inédito “Caju em Flor”, em 2009) e Gilberto Gil (“Zabelê”, de 1967, em 1992). Gil viria à forra em 2000, acompanhado por Milton Nascimento, numa versão quase sacra para a antepassada “Bom Dia”.
Epílogo
Em 2020, o último álbum lançado em vida por Nana se explicitou pelo título: Nana-Tom-Vinicius. A característica primordial de Nana Caymmi se mantém até o fim, e as canções solares de bossa nova são arranjadas e interpretadas com a gravidade de puro samba-canção de dor de cotovelo. Das 12 músicas selecionadas, seis estiveram no disco Canção do Amor Demais (1958), da colisão indissolúvel entre Elizeth Cardoso, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto – a lista não inclui o marco de ruptura “Chega de Saudade”, jamais gravado por Nana. Apenas duas não foram lançadas originalmente no ano-símbolo de 1958. Tal foi o recado, em parte enigmático, embutido na última garrafa musical lançada por Nana Caymmi ao mar da existência.
Em 1964, a mãe Stella Maris soltou a voz em disco uma única vez, em Caymmi Visita Tom e Leva Seus Filhos, Nana, Dori e Danilo (a esposa, surpresa!, ele não levou), cantando, do marido, grave “Canção da Noiva” (1957): “É tão triste ver/ partir alguém/ que a gente quer/ com tanto amor”. Como se dialogasse com a mãe (que morreu em 2008, um dia antes da morte de Dorival), a Nana de 2020 pranteou a vida uma derradeira vez, na única gravação que fez do canto de despedida “Serenata do Adeus”, de Vinicius: “Ah, vontade de ficar, mas tendo de ir embora/ ah, que amar é se ir morrendo pela vida afora/ é repetir na lágrima um momento breve/ de uma estrela pura cuja luz morreu/ numa noite escura, triste como eu”.
Aqui nunca houve enigma nem hesitação: rebelde e desobediente à sua maneira, Nana Caymmi manteve-se sempre inteiriça na abordagem dos acalantos mornos e dos sambas-canções desalentados que aprendeu a ouvir desde o berço e a infância. Conformada e afrontosa, ela os esparramou pela vida afora, fazendo sua a geração do pai, com docilidade e resignação no masculino, com fúria e apetite no feminino.
Nana Caymmi, um cancioneiro
(Quando não especificado, as interpretações são de Nana.)
- “Acalanto” (Dorival Caymmi), com Dorival Caymmi, 1960
- “Nossos Beijos” (Hianto de Almeida-Macedo Netto), 1960
- “Adeus” (Dorival Caymmi), 1960
- Ivon Curi, “Adeus” (Dorival Caymmi), 1948
- “Inútil Paisagem” (Tom Jobim-Aloysio de Oliveira), com Dorival Caymmi, 1964
- “Tristeza de Nós Dois” (Durval Ferreira-Bebeto-Maurício Einhorn), 1964
- “Sem Você” (Tom Jobim-Vinicius de Moraes), 1964
- Lúcio Alves, “Nunca Mais” (Dorival Caymmi), 1949
- Dick Farney, “Não Tem Solução” (Dorival Caymmi-Carlos Guinle), 1950
- Quarteto em Cy, “Morrer de Amor” (Oscar Castro Neves-Luvercy Fiorini), 1965
- Nora Ney, “Ninguém Me Ama” (Fernando Lobo-Antonio Maria), 1952
- Dolores Duran, “Solidão” (Dolores Duran), 1958
- Maysa, “Meu Mundo Caiu” (Maysa), 1958
- Alice Caymmi, “Meu Mundo Caiu” (Maysa), 2015
- Elis Regina, “Arrastão” (Edu Lobo-Vinicius de Moraes), 1965
- “Saveiros” (Dori Caymmi-Nelson Motta), 1966
- “Bom Dia” (Nana Caymmi-Gilberto Gil), com Mutantes, 1967
- “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso), com Mutantes, 1967
- Alice Caymmi e Pabllo Vittar, “Eu Te Avisei” (Alice Caymmi-Pablo Bispo-Bárbara Ohana), 2015
- Gal Costa, “Bom Dia”, 1967
- “Cala Boca Menino” (Dorival Caymmi), 1973
- “Vestido de Bolero” (Dorival Caymmi), 1973
- “Nunca Mais” (Dorival Caymmi), 1973
- “Saia do Caminho” (Custódio Mesquita-Ewaldo Ruy), 1973
- “Por Causa de Você” (Tom Jobim-Dolores Duran), 1973
- “O Amor É Chama” (Marcos Valle-Paulo Sérgio Valle), 1973
- João Donato, “Ahiê” (João Donato-Paulo César Pinheiro), 1973
- “Ahiê” (João Donato-Flora Purim-Paulo César Pinheiro), 1973
- “Ponta de Areia” (Milton Nascimento-Fernando Brant), 1975
- “Beijo Partido” (Toninho Horta), 1975
- “Sentinela” (Milton Nascimento-Fernando Brant), com Milton Nascimento, 1980
- “Só Louco” (Dorival Caymmi), 1975
- Gal Costa, “Só Louco” (Dorival Caymmi), 1976
- “Acorda Que Eu Quero Ver” (Carlos Dafé), 1975
- Alcione, “Acorda Que Eu Quero Ver” (Carlos Dafé), 1975
- “Desenredo” (Dori Caymmi-Paulo César Pinheiro), 1976
- “Codajás” (Danilo Caymmi-Ronaldo Bastos), 1976
- “Dupla Traição” (Djavan), 1976
- “Sodade, Meu Bem, Sodade” (Zé do Norte), 1976
- “Milagre” (Dorival Caymmi), com Dorival Caymmi, 1977
- Emilinha Borba, “Se Queres Saber” (Peterpan), 1947
- “Se Queres Saber” (Peterpan), 1977
- “Modinha” (Tom Jobim-Vinicius de Moraes), 1977
- “Meu Menino” (Danilo Caymmi-Ana Terra), 1977
- “Cais” (Milton Nascimento-Ronaldo Bastos), 1977
- Milton Nascimento, “Cais”, 1972
- “Clube da Esquina Nº 2” (Milton Nascimento-Lô Borges-Márcio Borges), 1979
- “No Analices” (Claudio Cartier-Paulo César Feital), com Claudio Cartier, 1979
- “Palavras” (Gonzaguinha), 1979
- “Formicida, Corda e Flor” (Fernando de Oliveira-Rosa Passos), 1979
- “Mudança dos Ventos” (Ivan Lins-Vitor Martins), 1980
- “De Volta ao Começo” (Gonzaguinha), 1980
- “Canção da Manhã Feliz” (Haroldo Barbosa-Luiz Reis), 1980
- “Elizeth Cardoso, Canção da Manhã Feliz” (Haroldo Barbosa-Luiz Reis), 1962
- “Meu Bem Querer” (Djavan), 1980
- Dori Caymmi, “Estrela da Terra” (Dori Caymmi-Paulo César Pinheiro), 1980
- “Estrela da Terra” (Dori Caymmi-Paulo César Pinheiro), com Boca Livre, 1980
- “Mistérios” (Joyce-Maurício Maestro), 1980
- “As Sobrinhas” (Ricardo Vilas-Geraldo Casé), com Joyce, 1983
- “Primeira Estrela” (Luli-Lucina-Sônia Prazeres), 1981
- “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço” (Dona Ivone Lara-Hermínio Bello de Carvalho), 1981
- “Café com Pão (Jodel)” (João Donato-Lysias Ênio), 1981
- “Brisa do Mar” (João Donato-Abel Silva), 1981
- “Siameses” (João Bosco-Aldir Blanc), com João Bosco, 1982
- “Fruta Boa” (Milton Nascimento-Fernando Brant), com Cesar Camargo Mariano, 1983
- “Clube da Esquina” (Milton Nascimento-Lô Borges-Márcio Borges), 1996
- “Bancarrota Blues” (Edu Lobo-Chico Buarque), 1985
- “Buda Nagô” (Gilberto Gil), com Gilberto Gil, 1992
- “Velho Piano” (Dori Caymmi-Paulo César Pinheiro), com Cesar Camargo Mariano, 1983
- “Doce Presença” (Ivan Lins-Vitor Martins), com Cesar Camargo Mariano, 1983
- “Medo de Amar” (Vinicius de Moraes), com Wagner Tiso, 1989
- “Nuvem Cigana” (Lô Borges-Ronaldo Bastos), com Wagner Tiso, 1989
- “Nossa Dança” (Danilo Caymmi-Ana Terra), 1979
- “Flecha de Prata” (Danilo Caymmi), com Marina Caymmi, 1996
- “O Cantador” (Dori Caymmi-Nelson Motta), com Mutantes, 1967
- “Sem Poupar Coração (Dori Caymmi-Paulo César Pinheiro), 2009
- “Estrada do Sol” (Tom Jobim-Dolores Duran), com Dori Caymmi, 1994
- “Nem Uma Lágrima” (Sueli Costa), 1981
- “Chora Brasileira” (Fatima Guedes-Rosane Lessa-Djalma), 1985
- “Anjo do Amor” (Toninho Horta-Flora Purim), 1996
- “A Noite do Meu Bem” (Dolores Duran), 1994
- “Castigo” (Dolores Duran), com Denise Caymmi, 1994
- “Estava Escrito” (Lourival Faissal), com Angela Maria, 1996
- “Sussuarana” (Hekel Tavares-Luiz Peixoto), com Maria Bethânia, 2003
- “Contrato de Separação” (Dominguinhos-Anastácia), com Carminho, 2011
- “Seus Olhos” (Juliana Caymmi), com Alice Caymmi, 2001
- “Vou Ver Juliana” (Dorival Caymmi), com Zeca Pagodinho, 2001
- “Diamante Rubi” (Alice Caymmi), 2009
- “Meu Recado” (Michael Sullivan-Alice Caymmi), 2014
- “Maria Ninguém” (Carlos Lyra), com Agnaldo Rayol, 2006
- “A Lua e Eu” (Cassiano-Paulinho Motoka), com João Gilberto Caymmi, 1988
- “Primavera (Vai Chuva)” (Cassiano-Sílvio Rochael), 1996
- “Não Se Esqueça de Mim” (Roberto Carlos-Erasmo Carlos), com Erasmo Carlos, 1998
- “Frases do Silêncio” (Erasmo Carlos-Marcos Valle), 2001
- “Flor da Noite” (Celso Fonseca-Ronaldo Bastos), 2011
- “João Valentão” (Dorival Caymmi), 1986
- “Canção Antiga” (Dorival Caymmi), 1986
- “Promessa de Pescador” (Dorival Caymmi), com Dorival Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi, 1987
- “Saudade da Bahia” (Dorival Caymmi), com Dorival Caymmi e Danilo Caymmi, 1991
- “História pro Sinhozinho” (Dorival Caymmi), 2013
- “A Mãe d’Água e a Menina” (Dorival Caymmi), 2013
- “Samba do Avião” (Tom Jobim), com Dori Caymmi, Paulo Jobim, Danilo Caymmi e Daniel Jobim, 2005
- “As Praias Desertas” (Tom Jobim), 2005
- “Tu Me Acostumbraste” (Frank Domínguez), 1993
- “Resposta ao Tempo” (Cristovão Bastos-Aldir Blanc), 1998
- “Chão de Estrelas” (Silvio Caldas-Orestes Barbosa), 1999
- “Último Desejo” (Noel Rosa), 1985
- “Copacabana” (João de Barro-Alberto Ribeiro), 1985
- “A Saudade Mata a Gente” (João de Barro-Antônio Almeida), 2002
- “Ninguém Me Ama” (Fernando Lobo-Antonio Maria)/ “Prece” (Marino Pinto-Vadico), 1991
- “Canção da Volta” (Ismael Netto-Antonio Maria)/ “Até Quem Sabe” (João Donato-Lysias Ênio), 1991
- “Neste Mesmo Lugar” (Klécius Caldas-Armando Cavalcanti), 1983
- “Acontece” (Cartola)/ “Dom de Iludir” (Caetano Veloso), 1991
- “Falso Brilhante” (João Bosco-Aldir Blanc), 2003
- “Quando o Amor Acontece” (João Bosco-Abel Silva), 1988
- “Solidão” (Dolores Duran), 1994
- Marina Lima, “Solidão” (Dolores Duran), 1979
- “Nem Eu” (Dorival Caymmi), 2007
- “Nesta Rua Tão Deserta” (Dorival Caymmi-Jacques Klein-Carlos Guinle-Hugo Lima), 2007
- “Horas” (Dorival Caymmi), com Claudio Nucci, 1994
- “Chove Lá Fora (Tito Madi), 2019
- “Balanço Zona Sul” (Tito Madi), com Dori Caymmi, 2019
- “Quantas Lágrimas” (Manacéa), 2005
- Cida Moreira, “Bom Dia” (Nana Caymmi-Gilberto Gil), 2015
- “Caju em Flor” (João Donato-Ronaldo Bastos), 2009
- “Zabelê” (Gilberto Gil-Torquato Neto), 1992
- Milton Nascimento e Gilberto Gil, “Bom dia” (Nana Caymmi-Gilberto Gil), 2000
- “Maricotinha” (Dorival Caymmi), com Maria Bethânia, Dori Caymmi e Moreno Veoso, 2012
- Stella Maris, “Canção da Noiva” (Dorival Caymmi), 1964
- “Serenata do Adeus” (Vinicius de Moraes), 2020
A matéria que estava faltando no blog,adorei… Nana é uma das maiores cantantes de todos os tempos,suas opiniões políticas,a gente entrega pra Deus,ou melhor,pro vento!
Assustei em saber que Nana gravou música tão associada a Roberto Carlos como ”Nossa Canção”,ainda mais em uma cinebiografia de Lula;aquela que ela gravou com Erasmo,me parece que foi um pedido de Glória Perez.Nana preferia outros compositores,Dori,então,já chamou a música do Roberto até de ”submúsica”.