O atual diretor presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Alex Braga, manifestou apoio público à nomeação da gestora Patricia Barcelos como próxima diretora da agência, a ser nomeada pelo presidente Lula. A manifestação se deu em entrevista ao jornal O Globo publicada na última quinta-feira, 3 de outubro.
“A Patrícia conviveu e convive conosco no Conselho Superior, e depois no Comitê Gestor, onde são tomadas as decisões de investimento e aplicação de recursos. Neste novo contexto, já tivemos quatro reuniões, não só de definição de investimentos, mas de avaliação de cenários, de números e dados”, afirmou Alex Braga. “As nossas expectativas (em relação a Patrícia) são as melhores possíveis, de minha parte e de outros diretores e servidores também”, afirmou Braga, nomeado por Jair Bolsonaro para a presidência da agência (e que vai ficar na instituição até 2026).
A declaração é, no mínimo, curiosa. Primeiro, porque é a primeira vez (desde a revelação de que o nome de Patrícia será levado ao Senado para a sabatina de diretores de agência, feita pelo FAROFAFÁ) que a indicação é tratada como realidade publicamente – e somente depois de sua repercussão. Até então, apenas durante um encontro privativo entre o secretário executivo do MinC, Márcio Tavares, e representantes do setor audiovisual, é que essa indicação tinha sido assumidamente discutida. Segundo, porque se trata, em tese, de um nome próximo ao governo, e Braga é um ativo do Centrão – seu nome e posição carregam por trás a influência de Soraya Santos, uma das líderes do bloco político de extrema direita.
A defesa irrestrita do nome de Patricia Barcelos para a Ancine, feita por Alex Braga, suscita algumas indagações. Se ela é apoiada pela atual direção da Ancine, porque o diretor Paulo Alcoforado (único nomeado por Lula) não foi ouvido para referendar seu apoio a essa indicação? Como pretender que a nomeação de Patricia venha a satisfazer os anseios do setor audiovisual, manifestadamente descontente com a condução atual das políticas? E se Alex Braga manifestou seu apoio para cumprir com algum acordo de gestão, quem articula esse tipo de acordo? O Ministério da Cultura? A Secretaria do Audiovisual? Qual é a manifestação pública que a Secretaria do Audiovisual pode oferecer sobre essa indicação realizada longe dos fóruns públicos? O fato concreto é que a classe cinematográfica não foi ouvida sobre o processo até agora, o que induz a pensar em decisões de gabinete completamente alheias à conjuntura do setor.
O cargo aberto é para uma quarta vaga na direção colegiada da Ancine, que tem quatro integrantes – o mandato de Tiago Mafra, que também foi indicado por Jair Bolsonaro, expirou no último dia 30 de setembro. Assim, a composição atual tem dois nomes ligados à antiga gestão de Bolsonaro e um do novo governo Lula. A próxima vaga daria, em tese, a possibilidade de equilibrar as decisões no interior da agência, e Lula poderia mudar o diretor presidente após quase 8 anos de condução de Alex Braga.