Chico César e Geraldo Azevedo são dois dos artistas brasileiros de plateias mais fiéis em São Luís do Maranhão. Isto se deve, muito provavelmente, ao sucesso que ambos fizeram com músicas em homenagem à capital maranhense.
Desde 1984, as rádios da ilha tocaram bastante o sucesso “Terra à vista” (Carlos Fernando), cuja letra começa, direta: “San, San, San, São Luís do Mará”; até hoje, muita gente pensa que Geraldo Azevedo é maranhense e a canção segue um hit radiofônico.
Já Chico César, que chegou a dividir apartamento em São Paulo com o maranhense Zeca Baleiro, estava compondo um presente de aniversário para o amigo, mas o presenteado descobriu antes e acabaram se tornando parceiros em “Pedra de responsa” (1996), que o paraibano gravou em seu segundo disco, “Cuscuz clã”, e Baleiro só registraria em sua estreia, “Por onde andará Stephen Fry?” (1997) – com o refrão “é pedra, é pedra, é pedra, é pedra de responsa/ mamãe, eu volto pra ilha/ nem que seja montado na onça”, a música seria regravada ainda por Alcione, em um inusitado dueto com Caetano Veloso.
“Violivoz”, show que Chico César e Geraldo Azevedo apresentam amanhã (22) em São Luís, é um encontro intergeracional, fruto de admiração, respeito e amizade mútuos. “De certa forma o show nasce numa noite em que eu fui assistir a um show de carnaval de Geraldo Azevedo no Sesc Pinheiros. Aí eu o convidei pra vir pra minha casa, depois do show, nós ficamos tocando na cozinha, tomando vinho, aí pensamos, poxa, por que não levamos isso pro palco em algum momento? Ali começou a nascer o “Violivoz”, isso foi um ano antes da pandemia. Perto da pandemia, a gente já estava objetivando, ensaiando, mas tivemos de parar, esperamos praticamente um ano, voltamos, tivemos que dar umas paradinhas. É um projeto que nasce desse encontro, atravessa a pandemia toda praticamente para que possa se realizar de fato”, lembra Chico César.
A turnê já passou por Recife, Natal, Aracaju e Maceió. Geraldo Azevedo comenta a emoção de reencontrar o público – a última vez que ele se apresentou em São Luís, foi no Teatro Arthur Azevedo, em maio de 2019. “É uma alegria enorme rever as plateias cheias, os fãs cantando nossas músicas. Aquele negócio de live em teatro vazio era angustiante. Por mais que soubéssemos que estávamos conectados pela internet, era muito frio. Nada substitui a emoção de ver um teatro lotado”, confessa.
A amizade de Chico e Geraldo vem de longa data. Conheceram-se em 1992, quando Geraldo Azevedo já dominava as rádios, com sucessos como “Moça bonita” (parceria com Capinam, 1981), “Dona da minha cabeça” (parceria com Fausto Nilo, 1986), “Dia branco” (parceria com Renato Rocha, 1981) e “Sabor colorido” (1984), entre muitos outros. Chico César só lançaria seu disco de estreia em 1994, “Aos vivos”, gravado em São Paulo, já apresentando futuros clássicos de sua lavra, como “À primeira vista” e “Mama África”.
“A gente se conheceu em 1992, no estúdio de Robertinho do Recife, no Rio de Janeiro. Totonho [cantor e compositor] me convidou para gravar uma música de Chico César, “Gleba” [até hoje inédita], num projeto sobre as crianças vítimas da chacina da Candelária. A música tinha um violão potente, que me chamou atenção. Então, disse a Totonho que achava melhor convidar Chico para tocar na faixa e eu cantaria. Assim nos conhecemos. No final, acabei gravando com o violão também, mas o disco nunca foi lançado”, lembra Geraldo Azevedo.
“O “Violivoz” é um projeto de fãs. Sou fã de Chico e ele diz ser meu fã também. Então, fomos passando as nossas canções. Foram muitas horas tocando juntos, temos repertório para três shows. A parte mais difícil foi selecionar quais músicas entrariam nesse momento do projeto. Fomos agrupando as canções por afinidade, cada um foi escolhendo o que gostaria de cantar e chegamos ao setlist final”, comenta o pernambucano sobre a seleção de repertório.
Chico César concorda e complementa: “nós escolhemos as canções para o repertório estimulados pelo afeto. As canções de Geraldo que eu tenho vontade de cantar, de tocar com ele, as minhas canções que Geraldo tem vontade de tocar comigo, e isso obviamente coincide bastante com o gosto do público, por que nós somos público um do outro. Então há muitos hits de ambos os repertórios e há canções que dialogam entre si, como “Dia branco” e “Pensar em você” [Chico César], xotes como “Deus me proteja” [Chico César] e “Moça bonita”, que têm basicamente o mesmo andamento, uma harmonia parecida. A gente foi indo por aí, e aquelas músicas que nos desafiam, como “Bicho de sete cabeças” [Zé Ramalho/ Renato Rocha/ Geraldo Azevedo], “Paula e Bebeto”, de Caetano [Veloso] e Milton [Nascimento], que são músicas que eu queria muito tocar. Obviamente muita coisa fica de fora, a gente tem tanta música, gostamos tanto da música um do outro, que essas vão ficar para um “Violivoz” 2 ou quem sabe até mesmo 3”.
A julgar pelas credenciais do início do texto, o público deve cantar o repertório “de fi a pavi”, como diria Luiz Gonzaga, para citar uma referência comum do universo dos nordestinos – de que o Maranhão, afinal de contas, também faz parte. “Estou muito feliz de poder voltar e voltar com Geraldo Azevedo”, finaliza Chico César.
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Ouça “Nem na rodoviária”, parceria dos artistas compostas durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19: