‘Misery’ traz Mel Lisboa no papel de uma vilã

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Cena da peça "Misery", em São Paulo
"Misery", em cartaz no Teatro Porto Seguro, traz Mel Lisboa e Marcello Airoldi - Foto: Leekyung Kim

Misery é um best-seller de terror de Stephen King que já teve adaptações teatrais em Nova York, Londres e em outras oito cidades mundo afora. Mas a história ganhou mesmo o grande público com o filme homônimo de 1990, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz a Kathy Bates. Uma versão brasileira, em cartaz no Teatro Porto Seguro em São Paulo, tem o mérito de reavivar e recontar essa história, mas não se pode exigir mais do que ela se propõe a entregar para o público.

King entrega, em Misery, mais uma de suas criativas histórias de suspense feitas sob medida para prender a atenção do leitor. No livro, o protagonista é Paul Sheldon, um escritor famoso por escrever best-sellers baseados na personagem Misery Chastain. Como criador cansado de sua fórmula de sucesso, decide matar a sua criação que acabou aprisionando-o a um lugar lucrativo, mas nada estimulante. Num retiro para a escrita de um novo livro, ele sofre um acidente de carro e é resgatado pela enfermeira Annie Wilkens, coincidentemente sua “fã número 1”. Ao descobrir que seu autor favorito abandona a personagem Misery, Annie aprisiona Sheldon e o força a ressuscitar sua protagonista.

Annie, como se vê, é uma vilã e para a peça brasileira foi escalada a atriz Mel Lisboa. Seu rosto angelical e a doçura com que inicia seus primeiros diálogos com um recém-desperto Paul Sheldon, interpretado por Marcello Airoldi, criam a falsa ideia de que se está diante de uma história leve. A transformação de uma heroína para uma vilã ocorre lentamente e de forma suavizada. A tensão na peça apenas se desenvolve da metade para o fim do espetáculo.

O diretor Eric Lenate, no material de divulgação de Misery, indica que Annie Wilkens sempre foi retratada de uma forma “estereotipada, como louca e histérica”, enquanto Paul Sheldon seria apenas a vítima, em outras montagens. Os jogos de aprisionamento, dependência (o escritor se torna dependente de poderosos analgésicos que diminuem a dor em seu corpo) e submissão levados ao palco por Mel Lisboa e Marcello Airoldi não conseguem fugir 100% dessa caracterização, é bom que se diga. Annie pode ser vista como uma solitária moradora do interior, por vezes infantil e caricatural.

A montagem da trama, que se passa quase integralmente no quarto-prisão de Paul Sheldon, recorre a mudanças de cenário bem diante do espectador no Teatro Porto Seguro. Elas forçam a criação de cenas desnecessárias ou de pouco valor narrativo, e esfriam um pouco a tensão e o suspense de Misery. Outras soluções cenográficas poderiam eliminar esse contratempo – ainda que nelas surjam Alexandre Galindo, em boa atuação no papel do xerife da cidade. A dramaturgia é de William Goldman, que assinou a versão para o cinema, com tradução e adaptação de Claudia Souto e Wendell Bendelack.

Misery. Direção de Eric Lenate. No Teatro Porto Seguro, sextas e sábados às 20 horas e domingos às 19, até 27 de março. Ingressos a 80 reais.
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