A “Ruptura” entre vida pessoal e trabalho

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Ruptura, série da Apple TV+
Ruptura, série da Apple TV+ - Foto: Divulgação

Boas Notícias sobre o Inferno, Meia Volta, Na Perpetuidade e O Você Que Você É são os títulos dos quatro primeiros episódios da série Ruptura, em cartaz na Apple TV+. Não dá para extrair muito só por eles, mas se adicionar a informação de que a produção trata de pessoas que tiveram suas memórias artificialmente separadas entre trabalho e vida pessoal, uma não sabendo da existência da outra, já é possível intuir algo. Pergunte a si mesmo o que é mais infernal: o ambiente laboral ou o doméstico? Ambos, nenhum, às vezes um, noutras outro, o fato é que nos dias atuais é difícil separar uma coisa da outra, e é essa a provocação original de Ruptura.

Quem está à frente da série é o ator Ben Stiller, que assina a direção. Ruptura foca em uma equipe de quatro funcionários da corporação Lumen Industries, que fazem trabalhos tipicamente de escritórios em computadores que remotam aos tempos pré-internet. Mark (Adam Scott) é promovido a gerente do setor após a saída misteriosa do colega Kier (Marc Geller), e a admissão de Helly (Britt Lower). É por meio da novata que o espectador começa a compreender como essa série ficcional criou essa trama. Por meio de um implante consentido de um microchip no cérebro, os funcionários aceitam separar, em definitivo, as vidas pessoais e o trabalho, assim que põem os pés na empresa. Essa separação (o título original é justamente Severance, separação em português) de mundos é completa, a ponto de um trabalhador não reconhecer o outro após o expediente de oito horas. Dylan (Zach Cherry) e Irving (John Turturro) completam a equipe.

Para Mark, estar apartado do mundo extra-escritório é uma saída para seu drama pessoal. Ele perdeu a mulher Devon (Jen Tullock) e não precisar pensar na dor do luto é uma solução. Para a novata Helly é o oposto, e ela logo se arrepende. Mas depois de implantando o chip, não é possível voltar atrás. Como abdicar de oito horas do seu dia? Ruptura foi categorizada como suspense, um gênero que entrega pouco da narrativa. Ela não oferece sustos à la Brian de Palma ou Alfred Hitchcock. Tampouco cria um artificial, e assustador, ambiente como na série Black Mirror. Stiller imprime uma reflexão mais filosófica sobre a esquizofrenia que se transformou nossas vidas, permeadas entre as relações de trabalho e familiares e com os amigos.

Mais que um suspense, a série da Apple TV+ é uma sátira social que cria um desconforto coletivo quando pensamos nas relações que desenvolvemos em nome do trabalho – e ainda agradecemos por ele existir. Há pouco espaço para o humor, mas sobra para as relações afetivas (e a ausência delas). Ruptura, história criada por Dan Erickson, tem outros personagens de peso em seu elenco, como Patricia Arquette (no papel de Harmony) e Christopher Walken (Burt).

Ruptura. De Ben Stiller. Série na Apple TV+.
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