Ted Lasso, em duas temporadas na Apple TV+
Ted Lasso, em duas temporadas na Apple TV+ - Foto: Divulgação

Ted Lasso é tudo aquilo que promete. A série da Apple TV+ conquistou sete prêmios Emmy deste ano, inclusive o de Melhor Série de Comédia. Lançada em 2020 e cuja segunda temporada estreou em julho, é a primeira produção feita para o streaming a conquistar a premiação. Mas, se o Emmy fosse ousado, premiaria a produção também na categoria Drama. Já com uma terceira temporada anunciada, Ted Lasso fez aumentar em 25% o número de assinantes para a plataforma. Vale cada centavo da assinatura de 9,90 reais.

Jason Sukeikis vive o personagem Ted Lasso, um bem-humorado e bem-sucedido técnico de futebol americano que vira treinador do AFC Richmond, um time de soccer, o futebol como os brasileiros, os ingleses e o resto do mundo conhecem. As chances de darem errado são tantas, que esse argumento já seria suficiente para pensar que não vale a pena perder tempo com mais uma série televisiva de historietas edificantes. Ainda mais se o espírito for encontrar tiradas hilariantes. Ted Lasso falha e acerta ao mesmo tempo em não oferecer a piada fácil, nem o humor desconcertante de trapalhadas mais que previsíveis. Em vez disso, a série apresenta personagens incrivelmente divertidos e dramáticos, porque afinal a vida e todos somos assim.

A metáfora do futebol é perfeita. O time Richmond é um azarão, um Ibis Sport Club ou um Atlético Mogi. Na segunda temporada, que flerta com o tom melancólico, a equipe sofre duros revezes, como a perda de “estrelas”, e só consegue acumular empates, tal como uma maldição. Essa temática abre espaço para os boleiros de plantão, que não são poucos, e também para aqueles que são pouco afeitos ao que se passa dentro de um gramado, mas não dispensam uma meticulosa construção de narrativa.

Ted Lasso, a série, mostra que vitórias, derrotas e empates são instrutivos, apesar de estarmos sempre querendo levar a melhor.  O personagem principal, otimista como um Cândido de Voltaire, pode não entender nada de futebol, mas sabe envolver seus comandados. E sua estratégia é estupidamente simples: as pessoas precisam ser lembradas de quem elas são o tempo todo. Dentro das quatro linhas, alguns sabem jogar sozinhos, mas um time precisa do apoio dos demais. “Para mim, sucesso não tem nada a ver com vitórias ou derrotas; é sobre dar a esses jovens a melhor versão deles mesmos”, reflete o treinador.

O sucesso nas premiações (no Emmy, levou também Melhor Ator para Sudeikis, Ator Coadjuvante para Brett Godstein e Atriz Coadjuvante para Hannah Waddingham) pode levar o público a perguntar de onde veio a sacada para histórias tão inspiradoras. Difícil acreditar que não foi na vida real, mas de comerciais estrelados por Sudeikis para o canal NBC Sports, exibidos em 2013. Naquele ano, a emissora adquiriu os direitos de transmissão da Premier League, a primeira divisão do competitivo futebol inglês. O ator e comediante, já na época dos anúncios, satirizava as diferenças de sotaques e até o sentido de palavras entre o inglês dos Estados Unidos e da Inglaterra. Na série, esse humor é entrecortado por histórias paralelas dos personagens, conflitos no trabalho e perdas em suas vidas pessoais.

Nesta pandemia, Ted Lasso poderia soar como aquelas sessões de auto-ajuda ou de infinitos coachings para enfrentar a dureza dos problemas cotidianos. A série da Apple TV+ consegue mais que isso ao conquistar diferentes tipos de espectadores com mensagens que parecem construídas e dirigidas para cada um deles. E, não menos importante, destaque para a trilha sonora, que investe em sucessos que vão de Queen a Oasis, de Rolling Stones a Style Council e Lady Gaga, de David Bowie a Sex Pistols. Difícil acreditar que “Let It Go”, música que povoou as casas das famílias do mundo a partir do filme Frozen, cantada em um karaokê, faça tanto sentido e arranque lágrimas. Ok, a cena é de chorar mesmo.

Ted Lasso. De Brendan Hunt, Joe Kelly e Bill Lawrence. EUA/Inglaterra, 2020, série em duas temporadas na Apple TV+.

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