Em seu livro biográfico sobre Jards Macalé, Eu Só Faço o Que Quero (Numa, 2020), o historiador Fred Coelho estabelece um marco de distinção entre o carioca Jards Anet da Silva (1943-2025) e a maioria de seus pares, aqueles nascidos no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial ou em seus arredores: “Ao contrário de muitos de sua geração, ele estudará harmonia, teoria musical, canto, arranjo e outros saberes técnicos relativos ao ofício”. Semelhante a seu par e antípoda baiano-paulistano Tom Zé, o carioca Macalé estudou piano e orquestração com o maestro erudito-e-popular César Guerra-Peixe e, antes disso, adquiriu traquejo como copista da paradigmática Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, que era pai de um de seus maiores amigos e parceiros de adolescência e juventude, Chiquinho Araújo.
Aspergindo um leve perfume de menino-prodígio, Macalé selecionou para a abertura de seu primeiro disco, um compacto duplo (com quatro faixas) lançado em 1970, a debochada, mas belíssima canção “Soluços”, que, segundo o autor, havia sido composta quando ele tinha 15 anos: “Quando você me encontrar/ não fale comigo/ não olhe pra mim/ eu posso chorar/ e quando eu choro tenho soluços/ e os soluços estragam minha garganta/ e além disso eu uso lenços de papel/ eles se desfazem quando molham/ meus olhos ficam vermelhos/ irritados/ e eu ainda não comprei/ meus óculos escuros”. A estreia de Jards como artista de frente foi tardia em relação a toda a água que já havia rolado em sua jovem carreira ao longo dos anos 1960, quando atuou como compositor, violonista, arranjador, diretor musical e ator teatral em projetos nunca regidos pela própria batuta.
A virada de profissional musical de bastidor para postulante a popstar, cantando “Gotham City” no IV Festival Internacional da Canção (FIC) da TV Globo, em 1969, aconteceu passo a passo, com muito auxílio, com muito auxílio luxuoso. Curiosamente, o compacto de 1970 não incluiu o libelo anti-ditadura disfarçado de HQ de Batman que concorreu no festival (sem vencer) – embora uma versão clandestina registrada ao vivo no FIC circule na internet, Macalé só viria a lançar “Gotham City” quase cinco décadas depois, no álbum Ao Vivo (em versão de estúdio, nunca a publicou). A postura antimercadológica desse mais-que-tropicalista mais-que-excêntrico, portanto, parece vir dos primórdios, e o acompanhou por 56 anos de carreira individual mais-que-pop.
Quanto ao auxílio luxuoso, as mãos femininas que conduziram Jards Macalé como compositor e músico são das mais eloquentes e extremosas. Elizeth Cardoso foi a primeira a gravá-lo, lançando em 1964 o sambalanço “Meu Mundo É Só Seu”, de Jards e Roberto Nascimento, então violonista acompanhante da cantora. Em 1966, a segunda gravação, de “Amo Tanto”, foi de Nara Leão, que se descolara da bossa nova para se filiar à canção de protesto e estrelara o show-manifesto Opinião, em cartaz a partir de dezembro de 1964, ao lado de Zé Keti e João do Vale (Macalé havia atuado como violonista na temporada paulista do musical, em 1965, já sem Nara). É eloquente que, 60 anos mais tarde, um dos cantos de cisne de Macalé como intérprete tenha sido um retorno à obra de Zé Keti, no excêntrico e jazzístico álbum Mascarada (2024), compartilhado com Sergio Krakowski Trio.
A terceira voz feminina a acolher o compositor iniciante, ainda mais jovem do que ele, foi a de Maria Bethânia, substituta de Nara no Opinião a partir de fevereiro de 1965. Macalé (até lançar o LP de estreia, em 1972, ele não usava o pré-nome Jards) consta no LP inaugural da cantora como participação especial no clássico “Carcará”, além de tocar violão em “Sol Negro”, do também estreante Caetano Veloso, com a também estreante Gal Costa (então ainda Maria da Graça) nos vocais lado a lado com Bethânia.
Depois do Opinião, Macalé atuou na temporada carioca de Arena Conta Zumbi (1965), como violonista, cantor e ator substituto de Dori Caymmi. A seguir, atuou em mais dois espetáculos do Teatro de Arena de Augusto Boal, Arena Canta Bahia, com todo o núcleo baiano (Bethânia, Caetano, Gal, Gilberto Gil, Tom Zé), e Tempo de Guerra (com o mesmo grupo, menos Caetano). O encontro com Bethânia se solidificou em 1966, quando Jards Macalé foi o diretor musical, arranjador e violonista do primeiro show solo da cantora no Rio de Janeiro, na boate Cangaceiro. Disponível no YouTube, o média-metragem musical Bethânia Bem de Perto (1966), dos cinemanovistas Júlio Bressane e Eduardo Escorel, documenta exatamente o momento histórico da temporada da boate Cangaceiro, e Jards é figura onipresente ao lado da cantora.
Três outras gravações completam o cancioneiro pré-histórico de Macalé. Ele aparece pela primeira vez como intérprete – de voz contida e comportada – cantando “Seresta” para Sidney Miller, autor do álbum Brasil, do Guarani ao Guaraná (1968), um contraponto do breve e sisudo compositor carioca morto em 1980 à tropicália forjada no eixo Bahia-São Paulo.
Como compositor, Jards concebeu com Joyce Moreno (então apenas Joyce) uma então inabitual parceria masculino-feminina, “Choro Chorado” (1968), de versos escandalosos para a moral predominante da época (não pelo pendor ainda submisso, mas pelo pronome possessivo flexionado por voz feminina): “O meu moreno é um moreno sem juízo/ e eu o perdoo se é preciso pra ele voltar/ não quero mágoas pra espantar nossa alegria/ ele volta qualquer dia com histórias pra contar”. Antes, em 1967, Joyce defendeu no II FIC a romântica “Sem Despedida”, primeira composição de Macalé a concorrer na era dos festivais – desclassificada numa das eliminatórias, “Sem Despedida” nunca foi gravada.
Para Nara Leão, por fim, o compositor musicou um poema posteriormente atribuído a Bertolt Brecht, mas então assinado por Augusto Boal e batizado de “Poema da Rosa” (1969). Jards registraria a canção em voz própria no álbum Contrastes, em 1977, também sem menção para Brecht, inserida em regravações mais recentes.
Há um morcego na porta principal
Aconteceram então “Gotham City” e o Festival Internacional da Canção de 1969. Com letra tropicalista de Capinan desafiando “os muros altos da tradição”, “Gotham City” se abria com um mote musical de filme de super-herói e alertava: “Cuidado/ há um morcego na porta principal”. Caía como uma luva para a persona insubmissa e ingovernável que Macalé começava a delinear, e que manteria por toda a vida. O tema a um só tempo provocativo, iconoclasta e pop foi à finalíssima do festival, mas Batman não ficou entre os dez números mais bem colocados (o vencedor foi o inofensivo acalanto infantil “Cantiga por Luciana”, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, defendido pela virtuosa Evinha).
No calor da hora, “Gotham City” foi lançada pelo grupo iê-iê-iê/tropicalista que acompanhou Macalé no festival, Os Brazões, num arranjo modesto em comparação com o apresentado no festival, do maestro Rogério Duprat, povoado por clima noir, folhetinesco e tropicalista. O conjunto MPB 4 também a registrou em 1969, num compacto logo diluído no oceano da MPB. De resto, “Gotham City” ficou fora de circulação por 16 anos, até que a banda de rock Camisa de Vênus a resgatasse, em 1985, no que foi seguida pelo conjunto vocal de MPB Boca Livre, em 1992.
Em seu único álbum, o homônimo Os Brazões (1969), a banda apresentada no festival incluiu outra parceria de Macalé e Capinan, a espacial, futurista, kubrickiana e tropicalista “Módulo Lunar”, preterida na seleção de concorrentes classificados do mesmo festival de “Gotham City” e desde então perdida nos escaninhos secretos da música brasileira (Jards nunca a gravou): “A ave, a nave, a vida/ dentro da nave a ave, a vida/ dentro da galáxia solitária/ e uma cama abandonada/ parte o módulo lunar”. O ciclo futurista/espacial da dupla Macalé-Capinan se completa pela gravação da dissonante “Pulsars e Quasars” (1969) pela semideusa tropicalista Gal Costa, mais uma vez com arranjo de Duprat.
O impacto causado por “Gotham City” começou a escrever a história e a desnudar a identidade de Jards Macalé, que foi integrado, ao lado do afiado poeta Waly Salomão (ou Sailormoon como ele assinava então) e do lancinante guitarrista Lanny Gordin, à corte musical de Gal, intérprete a partir daí de uma pequena galeria de clássicos pós-tropicalistas da pena de Macalé: “Hotel das Estrelas” e “The Archaic Lonely Star Blues” (1970, com Duda Machado), “Pontos de Luz” (1973, somente gravado pelo autor em 2005, num pique de ponto de candomblé), “Mal Secreto” (1971) e, acima de todos, “Vapor Barato” (1971), sempre com Waly. Muito pouco difundida e indisponível nas plataformas de streaming é a gravação de estúdio de “Vapor Barato” registrada em 1971 por Gal Costa, em registro mais roqueiro e menos lírico que a versão ao vivo eternizada simultaneamente no álbum Fatal.
Uma fagulha curiosa desse momento, incluída no Legal (1970) de Gal Costa, é o cabaré western-dixieland em inglês “Love, Try and Die”, rara composição assinada por Gal (em trio com Macalé e Lanny) e interpretada em coro dos sonhos por ela, Macalé, Erasmo Carlos, Tim Maia e Naná Vasconcelos.
Na fase inicial da conexão com Gal, Jards conseguiu estrear como artista individual num compacto duplo de repercussão nula, mas soberbo, reunindo o já citado “Soluços” e mais três petardos autorais: “O Crime” (também gravado à época pelo MPB 4), “Só Morto (Burning Night)” e “Sem Essa”, sob intervenções musicais da percussão de Naná Vasconcelos e do piano de Zé Rodrix. Com exceção da última, resgatada pela “cantriz” Marília Pêra em 1975, de novo por Macalé em 1977 e por Zezé Motta em 1979, todas estiveram esquecidas por décadas e apenas neste século começaram a emergir, com regravações de Zezé Motta e Emanuelle Araújo (“Soluços”), Simone Mazzer (“O Crime”), Camisa de Vênus (“Só Morto”) e Toni Platão (“Sem Essa”).
Maria Bethânia só foi gravar algo do companheiro musical de primeira hora em 1971, na versão original da obra-prima “Movimento dos Barcos” (parceria com Capinan), extraída do show Rosa dos Ventos para o disco ao vivo homônimo. Do exílio, no mesmo ano, Caetano Veloso registrou “Salto de Sapato (Pula, Pula)” (de Macalé e Waly) para um compacto carnavalesco. Era a primeira composição mais alegre que melancólica assinada por Jards. Ainda em 1971, tentando uma travessia da jovem guarda à tropicália, Wanderléa gravou uma versão luminosa do frugal festejo folião.
O ano seguinte seria germinal, a começar pela direção musical do ainda hoje onipresente Transa, o álbum de retorno de Caetano Veloso do exílio. A ausência do nome de Jards Macalé nos créditos de Transa talvez explique em parte o afastamento de décadas entre antes, revertido nos anos finais.

O anos de 1972 foi também quando Macalé debutou em LP com um dos grandes álbuns da história da música brasileira, intitulado simplesmente Jards Macalé, com as versões de autor de várias das canções lançadas até então por outros intérpretes, mais as estupendas “Farinha do Desprezo”, “78 Rotações”, “Revendo Amigos” (também conhecida como “Volto pra Curtir”), “Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata” e “Let’s Play That”, essa última uma síntese de muitos macalés, via versos de Torquato Neto decalcados, agudizados e subvertidos do “Poema de Sete Faces” de Carlos Drummond de Andrade: “Quando eu nasci um anjo louco, um anjo solto, um anjo torto/ (…) com asas de avião/ (…) me disse, apertando a minha mão/ entre um sorriso de dentes: ‘vá, bicho, desafinar o coro dos contentes”. De torto, o anjo foi “promovido” a não-exterminador no bolero “Anjo Exterminado”, lançado no mesmo ano por Bethânia.
Tal como já acontecia no compacto duplo de 1970 e no Transa de Caetano (em “Triste Bahia” e “Mora na Filosofia”, por exemplo), Jards Macalé 1972 era impregnado de pulsão de morte de alto a baixo, em particular no díptico formado por “Farrapo Humano”, do par underground Luiz Melodia, e “A Morte”, recado telegráfico assinado por Gilberto Gil (mas nunca gravado pelo autor): “A morte é rainha/ que reina sozinha/ não precisa do nosso chamado/ recado pra chegar”. “Viro farrapo, tento suicídio/ com caco de telha ou caco de vidro”, raspa “Farrapo Humano” (que o autor Melodia só gravou no ano seguinte, no LP de estreia Pérola Negra), aprofundando as ambiências introduzidas em “Só Morto (Burning Light)” e “O Crime”. “Rio/ e também posso chorar”, arremata a vinheta final de “Hotel das Estelhas”, retomando o riso e o choro frouxos de “Soluços”.
Em território tão underground quanto seria o para sempre habitado pelo próprio Macalé, o biênio 1972-1973 assistiu a gravações de “Revendo Amigos” pela breve Lena Rios e de “Planeta dos Macacos” por Jorge Mautner (trata-se de uma das duas únicas parcerias conhecidas Macalé-Mautner – a outra é “Puntos Cardinales“, gravada no início dos anos 1980, mas só lançada em 1994 em Let’s Play That, um raro álbum de encontro entre Macalé e Naná Vasconcelos). Encerrava-se aqui o ciclo rock’n’roll tropicalista do jovem violonista Jards Macalé, todo povoado pelas guitarras envenenadas de Lanny Gordin. O elemento de transição poderia ser “O Mais Que Perfeito”, poema de Vinicius de Moraes musicado por Macalé, uma bossa nova de fossa velha lançada em 1973 pela sambista em ascensão Clara Nunes.
Aprendendo a nadar com a história da música brasileira

Dois anos depois, o segundo LP, batizado com o título expressionista de Jards Macalé Apresenta a Linha de Morbeza Romântica em Aprender a Nadar (1974), mudou para sempre os rumos musicais do artista, aprofundando o experimentalismo, mas mirando um ponto além do rock tropicalista, sob arranjos orquestrais evocativos do imaginário da Orquestra Tabajara e/ou de Guerra-Peixe.
Para lá da nova leva de parcerias com Waly Sailormoon (“Rua Real Grandeza”, “Anjo Exterminado”, “Dona de Castelo” e “Senhor dos Sábados”), a orquestrada “Boneca Semiótica” introduz o desvio de rota, na corda bamba entre o samba e o não-samba: “Samba é sempre a mesma história/ nosso amor morreu na glória/ a boneca foi embora/ não obstante esqueceu o seu fantasma/ (…) você venceu com sua lógica/ digital e analógica/ você não passa da programadora/ do repertório redundante/ da minha dor”.
Décadas mais tarde Caetano tentaria batizar essa dissonância de “transamba”, algo que Macalé já fermentara ao habitar os bastidores das regravações de “Mora na Filosofia” (1954) por Bethânia (em 1965) e pelo próprio Caetano (em Transa). Samba de Monsueto Menezes cantado em meados dos anos 1950 por Doris Monteiro e por Marlene, “Mora na Filosofia” reaparece em Aprender a Nadar sem receber crédito, na melodia orquestral que se acopla ao clássico de fossa ultradramática “E Daí?” (1959), de Miguel Gustavo, gravado em 1959 por intérpretes como Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Isaura Garcia e Maysa: “Proibiram que eu te amasse/ proibiram que eu te visse/ proibiram que eu saísse/ ou perguntasse a alguém por ti”.
O que Aprender a Nadar introduz no imaginário de Macalé é a manifestação de amor incondicional pela música popular brasileira, em geral, e particularmente pelo samba (e nesse último detalhe o carioca Jards foi substancialmente diferente dos tropicalistas baianos). O segundo LP inclui releituras muito particulares de Valzinho e Orestes Barbosa (o samba-canção simbolista “Imagens”, até então inédito), Paulo da Portela (o sarcástico “Pam Pam Pam”, resgatado do ineditismo muito depois da morte do autor em 1949), Herivelto Martins (nas vinhetas de “Dois Corações”, ultra-romantismo gravado em dueto de 1942 por Dalva de Oliveira e Francisco Alves), Billy Blanco (“Estatutos de Gafieira”, lançamento de Inezita Barroso em 1954) e Gordurinha (“Orora Analfabeta”, lançado por Jorge Veiga em 1959) – o baiano Gordurinha foi o intérprete original do irônico “Mambo da Cantareira” (1960), cuja releitura é um dos pontos culminantes de Aprender a Nadar.
Provavelmente adquirido nos tempos de copista da multivalente Orquestra Tabajara, o hábito de revisitar o relicário da canção brasileira se tornaria arraigado em Jards Macalé, forjador de regravações sempre excêntricas no correr das décadas – nesse último quesito, outro molde é um grande mestre, comparsa e amigo de Jards, João Gilberto, o pai de todos os revigoradores-reformuladores da tradição sambista.
De modo particular e original, Macalé seguiu rumo próprio, primeiro tentando uma derradeira (e não obtida) vitória num extemporâneo festival da canção, no recado direto e reto de “Princípio do Prazer”, mais para João Gilberto que para Caetano Veloso: “Eu estou aqui e ali e você não pode me bodear/ não entro na sua trip/ não entro no seu bode/ o que quero é sambar”.
A seguir, dito e feito, caiu de boca em várias variáveis de samba’n’roll. Abordou a marchinha carnavalesca ainda em 1975, na regravação avulsa de “Sassaricando”, lançada em 1961 pela vedete Virgínia Lane. No terceiro LP, Contrastes (1977), a canção-título era do fundador do samba do Estácio (e do samba em si), Ismael Silva, que lançou esse samba em seu ocaso, em 1973). O disco incorporou ainda regravações pândegas de “Passarinho do Relógio (Cuco Maluco)”, apresentado em 1940 na voz de Aracy de Almeida, e “Conto do Pintor”, mais uma de Miguel Gustavo, original de 1960 na voz de outro mestre de Macalé, o sambista de breque Moreira da Silva. Nesse último, Macalé se permitiu a travessura de atualizar as menções a personagens de época da crônica jornalística, inserindo na lista o então temido José Ramos Tinhorão: “Calma, calma, senhor crítico, calma, Zé!”.

Ainda em Contrastes, o lado autoral de Jards dá um piparote das expectativas: em vez de anjos exterminados ou bonecas semiótica, ele apresenta dois temas instrumentais, “Garoto“, em honra ao violonista inventor do Trio Surdina e de outras bossas, e a gafieira “Choro do Archanjo”. Do compositor como se apresentava até então há apenas a obra-prima em reggae “Negra Melodia (Soul Train Domingueira)” e o candomblé verde “No Meio do Mato”, esboçado em Aprender a Nadar e consolidado aqui.
Nesse mesmo momento (mas não incluído em Contrastes), um Macalé ainda impregnado do sopro de morte e mistério visitou o imaginário infantil na trilha sonora do seriado global Sítio do Picapau Amarelo, dividindo com Marlui Miranda os versos verdes-fantasmagóricos do tema de Tio Barnabé: “Oi, nessa mata tem flores/ os olhos do saci/ mula com suas dores/ gentes com seus amores/ os cantos da caipora/ e os orixás que nos acudam, que nos valham nessa hora”.
Jards seguiu memorialista desobediente do samba, regravando luminares como Geraldo Pereira (“Mais Cedo ou Mais Tarde”, de 1945, em 1980), Adoniran Barbosa (“Iracema”, 1956/1990), Ataulfo Alves (“Laranja Madura”, 1957/1995, no tributo de Itamar Assumpção a Ataulfo), Padeirinho (“Favela”, 1966/1998), Moreira da Silva (“Cidade Lagoa”, 1959/1998), Zé e Zilda (intérpretes originais de “Falam de Mim”, 1949/2003), Tom Jobim (“Foi a Noite”, 2003), Nelson Cavaquinho (“Juízo Final”, em duo com Elton Medeiros, 2011).
Em registro distinto, mas equivalente, Macalé convulsionou standards do jazz (“Black and Blue”, gravado por Louis Armstrong em 1929, numa versão paródica-submarina de 1977) e do rock’n’roll (“Blue Suede Shoes”, de Carl Perkins, 1955, em releitura sambeada de 1987), além de beliscar o xote nordestino em “Sim ou Não”, de Geraldo Gomes Mourão, um dos vários compositores de Moreira da Silva.
Por intermédio dos songbooks dirigidos por Almir Chediak, nos anos 1990 Macalé ampliou o cancioneiro de intérprete com versões despojadas, por vezes pobres, de Noel Rosa (“Cor de Cinza”), Dorival Caymmi (“Saudade”), Vinicius de Moraes (“O Morro Não Tem Vez”), Ary Barroso (“Falta um Zero no Meu Ordenado”), Tom Jobim (“Dindi”), Braguinha (“Seu Libório”). Também desse universo resgatou Paulo Vanzolini (“Ronda”, em 2003), Bezerra da Silva (“Defunto Caguete”, 2008), mais Ary Barroso (“Por Causa Dessa Cabocla”, 2003) e mais Noel Rosa (“Positivismo”, 2003).
Como já começara a fazer lá atrás, gravando “Farrapo Humano” do então ainda inédito Luiz Melodia em 1972 e a peça então recente “Cachorro Babucho” (1975), do par underground Walter Franco, em 1977, Jards aproximou-se de outros autores de sua geração, regravando Sérgio Sampaio (“Velho Bandido”, de 1975, em 1998), Chico Buarque (“Acorda, Amor”, 1974/1999), João Bosco (“Siri Recheado e o Cacete”, 1980/2003), Paulinho da Viola (“Roendo as Unhas”, 1973/2003), Luiz Melodia (“Só Assumo Só”, 1985/2008, “Decisão”, 1987/2015)… Em um de seus derradeiros momentos gravados, cuidou de seis canções no show coletivo de 2024 em tributo ao parceiro histórico Capinan, extraído pelo Selo Sesc para o álbum ao vivo Cancioneiro Geral (2025).

Em 1987, depois de dez anos sem gravar nenhum LP, inaugurou hábito derivado do anterior, ao gravar 4 Batutas & 1 Coringa (citação carinhosa a um conjunto vocal cearense dos anos 1940, Quatro Ases e Um Coringa), todo devotado à releitura dos repertórios de quatro sambistas díspares entre si, mas unos no amor de Macalé: os cariocas Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola, o gaúcho Lupicinio Rodrigues e o mineiro Geraldo Pereira, esse último um favorito de João Gilberto.
Somente agora, via Geraldo Pereira, Macalé estabeleceu um cano direto de comunicação com a matriz bossanovista – faria outras poucas menções explícitas, por exemplo em 2003, ao incluir no álbum Amor, Ordem & Progresso o afro-samba “Consolação” (1963), de Baden Powell e Vinicius de Moraes, o samba-canção “Foi a Noite” (1956), de Tom Jobim, ainda com o parceiro inicial Newton Mendonça, e os clássicos eternizados por João Gilberto “Manhã de Carnaval” (1958), de Luiz Bonfá e Antonio Maria, e “Samba da Pergunta” (1966), de Pingarelho e Marcos Vasconcellos.
Bancado pela gravadora brasileira Continental depois de dez anos na geladeira das gravadoras multinacionais e com atípicos arranjos orquestrais, 4 Batutas & 1 Coringa agrupa num só pacote os sambas antológicos “Acertei no Milhar” (1940), “Bolinha de Papel” (1945) e “Ministério da Economia” (1951), de Geraldo; “Palhaço” (1951), “A Flor e o Espinho” (1957) e “Luz Negra” (1964), de Nelson; (1945); “Dona Divergência” (1951), “Exemplo” (1960) e “Torre de Babel” (1963), de Lupicinio; “14 Anos” (1966), “Para Ver as Meninas (Samba Infinito)” (1971) e “Vela no Breu” (1976), de seu contemporâneo Paulinho.
Em 1988, o intérprete atípico de voz iconoclasta, muitas vezes pastosa, dividiu com Dalva Torres um álbum-tributo a Ismael Silva, Peçam Bis, resgatando “Me Faz Carinhos” (1928), “Ironia” (1931), “Sofrer É da Vida”, “Liberdade” (1932) e o samba inédito “Peçam Bis”; a loa a Ismael repetiu-se em 2005, agora em álbum ao vivo dividido novamente com Dalva Torres, mas dessa vez também com Cristina Buarque e Delcio Carvalho.
Em 2001, consolidou o laço com o mestre Moreira da Silva, iniciado nos palcos, numa endiabrada parceria lançada em 1981 (“Tira o Óculos e Recolhe o Homem”) e no tributo 4 Batutas & um Coringa (Moreira foi quem lançou “Acertei no Milhar”, parceria de Geraldo Pereira com Wilson Baptista): dedicou o álbum Macalé Canta Moreira ao repertório do velho cantor de samba e de breque. Em 2024, no último álbum lançado em vida, dividiu Mascarada, um tributo enviesado a Zé Keti, com o jazzístico e experimental Sergio Krakowski Trio.
Intérpretes de Macalé, interpretados por Macalé
Entre os intérpretes que se entregaram ao cancioneiro de Jards Macalé, além dos já mencionados, predominam as mulheres, numa lista que inclui Elza Maria (o inspirado e então inédito samba “Pano pra Manga”, em 1981), Marlui Miranda (“Volto pra Curtir”, outro nome de “Revendo Amigos”, 1986), Miúcha (“Anjo Exterminado”, 1988), Denise Assunção (“Pulsars e Quasars”, 1990), Adriana Calcanhotto (“Dona de Castelo”, 2000), Ana de Hollanda (também co-autora nas inéditas “Um Filme”, de 2001, “Balada”, 2008, e “Uma Canção para Aninha”, 2009), Thaís Gulin (“78 Rotações”, 2006), Ava Rocha (“Movimento dos Barcos”, 2011), Zezé Motta (num tributo duplo a Macalé e Melodia, em 2011), Emanuelle Araújo (no álbum-tributo Quero Viver sem Grilo, 2020)…
Exceções de intérpretes masculinos incluem Eduardo Conde (“Movimento dos Barcos”, em 1975), Arthur Nogueira (“Mal Secreto”, 2009), Rodrigo Vellozo (“Dente no Dente”, 2009), Moyseis Marques (“Anjo Exterminado”, 2014), Rogério Skylab (“Let’s Play That”, 2017) e Toni Platão (“Sem Essa”, 2020). Um reencontro ímpar aconteceu em 2007, quando voltou a “Let’s Play That” no álbum Duos, de Lanny Gordin.
“Vapor Barato”, provavelmente a obra-prima máxima de Macalé, não foi incensada logo de cara: após as duas gravações de Gal em 1971, a perfurante balada blue só foi lembrada nove anos mais tarde, por Cida Moreira, para voltar à tona com força a partir de 1996, quando regravada em tom de reggae pela banda carioca O Rappa. Daí em diante, foi retomada sucessivas vezes, por Zeca Baleiro (que em 1997 a entremeou com sua “Flor da Pele”, inclusive em versão quase simultânea no Acústico MTV de Gal Costa), Vulgue Tostoi (2001), Daniela Mercury (2005), Rebeca Matta (2006), Garotas Suecas (2013), Sambô (2015), Renato Braz (2017), Catto (2023)…
História bonita tem outra obra-prima, o reggae “Negra Melodia (Soul Train Domingueira)”, homenagem mais ou menos cifrada Luiz Melodia(natural do Morro de São Carlos citado na letra). Lançado em 1977, foi transformada em libelo de orgulho negro por regravações inspiradas de Itamar Assumpção (1983) e Margareth Menezes (1990), até que m 2005, em seu tributo Real Grandeza – Parcerias com Wally Salomão, Macalé trouxe o próprio Luiz Melodia para cantá-la com ele (e também com Kassin, Pedro Sá, Domenico Lancellotti e o conjunto vocal As Gatas). A mais sensacional gravação em dupla Macalé-Melodia aconteceu em 2011, no álbum Jards.
No balanço das décadas, Macalé fez participações especiais antológicas em obras alheias, intervindo no “The Empty Boat” (Caetano Veloso, 1969) de Gal Costa e cantando “Estropício” (1994) com Itamar Assumpção, “Lanny Qual? (de Chico César, 1995) com Vange Milliet, “Pai Postiço” (2004) com Carlos Careqa, “A Outra Beleza” (2005) com Patrícia Ahmaral, “Teu Nome Mais Secreto” (sobre poema de Waly, 2008) com Adriana Calcanhotto, “Mundanças” (2019) com DJ Dolores.
A geração roqueira dos anos 1980 abriu-se para Macalé por intermédio do Camisa de Vênus de Marcelo Nova, que quando ninguém mais o fazia regravou “Gotham City” (1985) e “Farinha do Desprezo” (1987) em brabas versões rock’n’roll. Mais adiante, os baianos Nancyta e Os Grazzers regravaram “Negra Melodia” (em 2002), a banda de indie samba a releu “Mal Secreto” (em 2003) com participação do autor e o tributo E Volto pra Curtir (2013) integrou Macalé às novas gerações, em releituras por Apanhador Só, Arícia Mess, Ava Rocha, Bruno Cosentino e Marcos Campello, Catto, Garotas Suecas, Léo Cavalcanti, Letuce, Marcia Castro, Metá Meta, Rafael Castro.
Na associação direta com artistas de gerações posteriores, Macalé foi comedido, mas certeiro. Em 2021, Romulo Fróes gravou duas parcerias inéditas, “Ó Nóis” e “Baby Infeliz”, e no ano seguinte Edson Natale lançou a parceria inédita “Use o Frio pra Isso”. A última canção inédita conhecida de Macalé, “A Voz de Sal”, outra da parceria com Romulo Fróes, foi lançada neste 2025 pela veterana Wanda Sá.
Macalé compositor, sempre compositor
A veia autoral de Jards Macalé não foi fechada pelo mergulho no relicário popular brasileiro, mas sofreu uma solução de continuidade que durou até 1998, quando Macalé lançou o álbum de título auto-explicativo O Q Eu Faço É Música. No prolongado intervalo 1977-1998, houve pouca coisa: a parceria com Moreira da Silva e a inédita gravada por Elza Maria (ambas em 1981), uma parceria solene com Zé Ramalho em “Mulheres” (1984), gravada pelo músico paraibano nas companhias de Wanderléa e Zezé Motta; uma des-homenagem estranha ao Rio de Janeiro e a Tom Jobim (“Rio sem Tom”, 1987).
Gravadas em 1983, as inéditas do disco com Naná Vasconcelos esperaram uma década pra vir à luz – entre elas havia a única parceria conhecida Jards-Naná, “Encontro”, tema verde instrumental à base de berimbau e violão. Enfim, o lirismo absoluto abriu e fechou O Q Eu Faço É Música, começando por “Rei de Janeiro”, sobre versos póstumos do amigo cineasta Glauber Rocha, e terminando pelo samba ritual “Coração do Brasil”, que se basta a repetir, em sístole e diástole, os dizeres “coração/ ai, coração”.
Daqui em diante, o Macalé compositor se exibirá em frequência limitada, mas com constância, produzindo momentos de inspiração como “Destino” e “Dente no Dente” (1998, parcerias póstumas com Torquato Neto), “Canção Singela” (2003, com Xico Chaves), “Berceuse Crioulle” (parceria póstuma com Waly, gravada na voz de Bethânia em 2005 e na de Ava Rocha em 2008), “Se Você Quiser” (idem, 2008), “O Engenho de Dentro” (2008, com Abel Silva)…

Por último, e bastante importante, houve o soluço criativo concentrado chamado Besta Fera (2019), encontro orquestrado por Romulo Fróes, Kiko Dinucci e Thomas Harres para tempo de trevas, com 12 composições inéditas de Macalé. Aqui estreou parcerias inter-geracionais Rio-São Paulo, à la “Gotham City”, com Dinucci (“Vampiro de Copacabana”, carro-chefe do álbum), Ava Rocha (“Limite”), Rodrigo Campos (o afro-samba caymmiano “Peixe”, cantado com Juçara Marçal), Tim Bernardes (“Buraco da Consolação”)…
O tijolaço anti-trevas incluiu também composições solitárias (“Besta Fera”, “Trevas”, “Obstáculos”, “Tempo e Contratempo”, “Valor”) e uma retomada da parceria histórica com Capinan, em “Pacto de Sangue”, de tom pós-tropicalista guitarreiro e letra inter-geracional: “Seu pai não quer que corra o sangue dos filhos nos túneis da cidade má e misteriosa/ você não quer que corra o sangue do pai nos túneis da cidade má e misteriosa/ e a cidade misteriosamente cresce/ pacto de sangue que todos fizeram e desconhecem”.
Besta Fera casa-se perfeitamente com as revisitações do Macalé maduro fez a “Gotham City”, cantando-a em shows, alguns deles gravados e registrados em disco. Nessas ocasiões, após várias repetições do refrão, o artista pede uma salva de vaias em nostalgia ao festival de 1969. Na versão incluída no Jards Macalé ao Vivo de 2015, Jards aproveita para tirar um sarro de leve da era dos festivais e seus protagonistas, arremedando o discurso de Caetano diante das vaias a “É Proibido Proibir” em 1968, mas com o deboche ocupando o lugar da raiva: “Vocês não estão entendendo nada, nada! Vocês são os velhinhos de hoje que querem o velho no Brasil de amanhã!”.

Deu-se um hiato para gravar e lançar o testamento musical duplo Síntese do Lance (2021), também todo inédito e todo em duo com João Donato (1934-2023), com mansidão donatiana, momentos de melancólica alegria (o cubano “Coco Táxi”), macaleísmos (o instrumental “João Duke”, “O Amor Vem da Paz”) e resgate da parceira primeva com Joyce Moreno (“Um Abraço do João”, no percursubida Garoto-Luiz Bonfá-Tom Jobim-João Gilberto-João Donato-Jards-Joyce).
E então, já no 44º minuto do segundo tempo, Coração Bifurcado (2023) retomou o trabalho com integrantes do núcleo de neovanguarda paulista de Besta Fera (que já havia feito trabalho semelhante no ocaso de Elza Soares, em A Mulher do Fim do Mundo, 2015, e Deus É Mulher, 2018) em Coração Bifurcado (2023), co-produzido por Jards e Romulo Fróes. De volta aos temas do coração, do amor e da morbeza (nem tão) romântica, o derradeiro álbum de inéditas se esbalda nas definições possíveis para o amor e na sinuosidade agridoce da faixa-titulo, de “Grãos de Açúcar” (“você não existe, Dindi”) e de “Amor in Natura” (de novo com Capinan): “O amor é lindo, o amor é louco, o amor é laico”.
Mostrando que o último soluço era também um canto de cisne, pulsars e quasars num tempo de inúmeras e dolorosas despedidas, Coração Bifurcado deixa a carta de adeus “A Arte de Não Morrer” (mais uma co-assinada por Capinan), do tempo da utopia e não de distopias: “A arte de não morrer/ no tempo de todas as dores/ a arte de ainda ver/ na escuridão das cores/ vivo dentro de um poema/ preso na minha canção/ a arte de viver livre/ nas grades do coração”. De A a Z, Jards Macalé parte e deixa uma obra que para em pé de qualquer ângulo que se admire, de alto a baixo, de baixo ao alto, de lado a lado – e jamais instalada preguiçosamente em cima dos muros altos e baixos da tradição, da omissão, da acomodação.

Playlist: mora da filosofia de Macalé
1 Jards Macalé, Soluços (Jards Macalé-Duda Machado), 1970
2 Elizeth Cardoso, Meu Mundo É Só Seu (Macalé-Roberto Nascimento), 1964
3 Maria Bethânia, Missa Agrária (Carlos Lyra-Gianfrancesco Guarnieri)/ Carcará (João do Vale-José Cândido), 1965
4 Maria Bethânia e Gal Costa, Sol Negro (Caetano Veloso), 1965
5 Nara Leão, Amo Tanto (Jards Macalé), 1966
6 Joyce Moreno, Choro Chorado (Joyce Moreno-Jards Macalé), 1968
7 Nara Leão, Poema da Rosa (Jards Macalé-Augusto Boal), 1969
8 Jards Macalé, Poema da Rosa, 1977
9 Jards Macalé, Gotham City (Jards Macalé-Capinan), 1969 (versão ao vivo no festival, só lançada em 2017)
10 Os Brazões, Gotham City, 1969
11 Os Brazões, Módulo Lunar (Jards Macalé-Capinan), 1969
12 Gal Costa, Pulsars e Quasars (Jards Macalé-Capinan), 1969
13 Gal Costa, Jards Macalé, Erasmo Carlos, Tim Maia e Naná Vasconcelos, Love, Try and Die (Jards Macalé-Gal Costa-Lanny Gordin), 1970
14 Jards Macalé, O Crime (Macalé-Capinan), 1970
15 MPB 4, O Crime, 1970
16 Jards Macalé, Só Morto (Burning Night) (Jards Macalé-Duda Machado), 1970
17 Jards Macalé, Sem Essa (Jards Macalé-Duda Machado), 1970
18 Marília Pêra, Sem Essa, 1975
19 Zezé Motta, Sem Essa, 1980
20 Gal Costa, Hotel das Estrelas (Jards Macalé-Duda), 1970
21 Gal Costa, The Archaic Lonely Star Blues (Jards Macalé-Duda), 1970
22 Caetano Veloso, Salto de Sapato “Pula, Pula” (Jards Macalé-Capinan), 1971
23 Maria Bethânia, Texto Nº 4 (Clarice Lispector)/ Movimento dos Barcos (Jards Macalé-Capinan), 1971
24 Jards Macalé, Movimento dos Barcos, 1972
25 Gal Costa, Mal Secreto (Jards Macalé-Waly Salomão), 1971
26 Jards Macalé, Mal Secreto, 1972
27 Gal Costa, Vapor Barato (Jards Macalé-Waly Salomão), 1971
28 Gilberto Gil e Gal Costa, Vapor Barato, 1971 (gravação ao vivo, só lançada em 2014)
29 Jards Macalé, Vapor Barato/ Revendo Amigos (Jards Macalé-Waly Salomão), 1972
30 Caetano Veloso, Mora na Filosofia (Monsueto Menezes-Arnaldo Passos), 1972
31 Maria Bethânia, Mora na Filosofia, 1965
32 Monsueto Menezes, Mora na Filosofia/ Couro do Falecido (Monsueto Menezes-Jorge de Castro), 1962
33 Marlene, Mora na Filosofia, 1955
34 Jards Macalé, Mora na Filosofia/ E Daí?… (Miguel Gustavo), 1974
35 Jards Macalé, Farinha do Desprezo (Jards Macalé-Capinan), 1972
36 Maria Bethânia, Anjo Exterminado (Jards Macalé-Waly Salomão), 1972
37 Jards Macalé, Anjo Extermionado, 1974
38 Jards Macalé, Let’s Play That (Jards Macalé-Torquato Neto), 1972
39 Jards Macalé, 78 Rotações (Jards Macalé-Capinan), 1972
40 Jards Macalé, Farrapo Humano (Luiz Melodia), 1972
41 Jards Macalé, A Morte (Gilberto Gil)/ Hotel das Estrelas, 1972
42 Luiz Melodia, Farrapo Humano, 1973
43 Jorge Mautner, Planeta dos Macacos (Jorge Mautner-Jards Macalé), 1973
44 Gilberto Gil, Planeta dos Macacos, 1974 (lançada em 1999)
45 Gal Costa, Pontos de Luz (Jards Macalé-Waly Salomão), 1973
46 Clara Nunes, O Mais Que Perfeito (Jards Macalé-Vinicius de Moraes), 1973
47 Jards Macalé, Rua Real Grandeza (Jards Macalé-Waly Salomão), 1974
48 Jards Macalé, Dona de Castelo (Jards Macalé-Waly Salomão), 1974
49 Jards Macalé, Boneca Semiótica (Jards Macalé-Rogério Duarte-Duda Machado-Ricardo Chacal), 1974
50 Jards Macalé, Mambo da Cantareira (Barbosa da Silva-Eloide Warthon), 1974
51 Gordurinha, Mambo da Cantareira, 1960
52 Jards Macalé, Orora Analfabeta (Gordurinha-Nascimento Gomes), 1974
53 Jorge Veiga, Orora Analfabeta, 1959
54 Jards Macalé, Pam Pam Pam (Paulo da Portela), 1974
55 Jards Macalé, Imagens (Valzinho-Orestes Barbosa), 1974
56 Jards Macalé, Princípio do Prazer (Jards Macalé), 1975 (versão demo lançada em 2016)
57 Jards Macalé, Classificados (Marlui Miranda-Xico Chaves), 1975
58 Jards Macalé, Sassaricando (Luiz Antônio-Oldemar Magalhães-Zé Mário), 1975
59 Virgínia Lane, Sassaricando, 1951
60 Jards Macalé, Contrastes (Ismael Silva), 1977
61 Ismael Silva, Contrastes, 1973
62 Jards Macalé, Conto do Pintor (Miguel Gustavo), 1977
63 Moreira da Silva, Conto do Pintor, 1960
64 Jards Macalé, Passarinho do Relógio (Cuco Maluco) (Haroldo Lobo-Milton de Oliveira), 1977
65 Aracy de Almeida, Passarinho do Relógio (Cuco Maluco), 1940
66 Jards Macalé, Black and Blue
67 Louis Armstrong, (What Did I Do to Be So) Black and Blue, 1929
68 Jards Macalé, Negra Melodia (Soul Train Domingueira) (Jards Macalé-Waly Salomão), 1977
69 Jards Macalé, Luiz Melodia, Pedro Sá, Kassin, Domenico Lancellotti e As Gatas, Negra Melodia, 2005
70 Jards Macalé, Cachorro Babucho (Walter Franco), 1977
71 Walter Franco, Cachorro Babucho, 1975
72 Jards Macalé, No Meio do Mato (Jards Macalé), 1977
73 Emanuelle Araújo, Tio Barnabé (Marlui Miranda-Jards Macalé-Xico Chaves), 2020 (gravada em 1977 por Macalé e Marlui Miranda)
74 Moreira da Silva e Jards Macalé, Tira o Óculos e Recolhe o Homem (Jards Macalé-Moreira da Silva), 1981
75 Cida Moreira, Vapor Barato, 1981
76 Itamar Assumpção e Isca de Polícia, Negra Melodia, 1983
77 Jards Macalé e Naná Vasconcelos, Pano pra Manga (Jards Macalé-Xico Chaves), 1983 (lançada em 1994)
78 Jards Macalé e Naná Vasconcelos, Língua de Mosquito (domínio público), 1983 (lançada em 1994)
79 Zé Ramalho, Zezé Motta e Wanderléa, Mulheres (Jards Macalé-Zé Ramalho), 1984
80 Camisa de Vênus, Gotham City, 1985
81 Camisa de Vênus, Farinha do Desprezo, 1987
82 Jards Macalé, Acertei no Milhar (Geraldo Pereira-Wilson Baptista), 1987
83 Moreira da Silva, Acertei no Milhar, 1955
84 Jards Macalé, Bolinha de Papel (Geraldo Pereira), 1987
85 Anjos do Inferno, Bolinha de Papel, 1945
86 João Gilberto, Bolinha de Papel, 1961
87 Jards Macalé, Ministério da Economia (Geraldo Pereira-Arnaldo Passos), 1987
88 Geraldo Pereira, Ministério da Economia, 1951
89 Jards Macalé, A Flor e o Espinho (Nelson Cavaquinho-Alcides Caminha-Guilherme de Brito), 1987
90 Elizeth Cardoso, A Flor e o Espinho, 1965
91 Jards Macalé, Luz Negra (Nelson Cavaquinho-Amâncio Cardoso), 1987
92 Nara Leão, Luz Negra, 1964
93 Jards Macalé, Dona Divergência (Lupicinio Rodrigues-Felisberto Martins), 1987
94 Linda Batista, Dona Divergência, 1951
95 Jards Macalé, Exemplo (Lupicinio Rodrigues), 1987
96 Jamelão, Exemplo, 1960
97 Jards Macalé, Torre de Babel (Lupicinio Rodrigues), 1987
98 Jamelão, Torre de Babel, 1963
99 Jards Macalé, 14 Anos (Paulinho da Viola), 1965
100 Paulinho da Viola, 14 Anos, 1966
101 Jards Macalé, Para Ver as Meninas (Samba Infinito) (Paulinho da Viola), 1987
102 Paulinho da Viola, Para Ver as Meninas, 1971
103 Jards Macalé, Vela no Breu (Paulinho da Viola), 1987
104 Paulinho da Viola, Vela no Breu, 1976
105 Jards Macalé, Blue Suede Shoes (Carl Perkins), 1987
106 Carl Perkins, Blue Suede Shoes, 1955
107 Denise Assunção, Pulsars e Quasars, 1990
108 Margareth Menezes, Negra Melodia (Soul Train Domingueira), 1990
109 Boca Livre, Gotham City, 1992
110 Jards Macalé, O Morro Não Tem Vez (Antonio Carlos Jobim-Vinicius de Moraes), 1993
111 Itamar Assumpção & As Orquídeas do Brasil e Jards Macalé, Estropício (Itamar Assumpção), 1994
112 Itamar Assumpção e Jards Macalé, Laranja Madura (Ataulfo Alves), 1995
113 Jards Macalé, Falta um Zero no Meu Ordenado (Ary Barroso-Benedicto Lacerda), 1995
114 Vange Milliet e Jards Macalé, Lanny Qual? (Chico César), 1995
115 O Rappa, Vapor Barato, 1996
116 Zeca Baleiro, Flor da Pele (Zeca Baleiro)/ Vapor Barato, 1997
117 Gal Costa e Zeca Baleiro, Vapor Barato/ Flor da Pele, 1997
118 Jards Macalé, Rei de Janeiro (Jards Macalé-Glauber Rocha), 1998
119 Jards Macalé, Favela (Padeirinho-Jorginho), 1998
120 Nara Leão, Favela, 1966
121 Jards Macalé, Velho Bandido (Sérgio Sampaio), 1998
122 Sérgio Sampaio, Velho Bandido, 1976
123 Jards Macalé, Acorda, Amor (Leonel Paiva-Julinho da Adelaide), 1999
124 Adriana Calcanhotto, Dona de Castelo, 2000
125 Jards Macalé e Zeca Baleiro, Na Subida do Morro (Moreira da Silva-Ribeiro Cunha), 2001
126 Moreira da Silva, Na Subida do Morro, 1958
127 Ana de Hollanda, Um Filme (Jards Macalé-Ana de Hollanda), 2001
128 Vulgue Tostoi, Vapor Barato, 2001
129 Numismata e Jards Macalé, Mal Secreto, 2003
130 Carlos Careqa e Jards Macalé, Pai Postiço (Carlos Careqa-Itamar Assumpção), 2004
131 Maria Bethânia, O Mais Que Perfeito, 2005
132 Jards Macalé e Maria Bethânia, Berceuse Crioulle (Jards Macalé-Waly Salomão), 2005
133 Jards Macalé e Waly Salomão, Olho de Lince (Jards Macalé-Waly Salomão), 2005
134 Jards Macalé, Pontos de Luz, 2005
135 Jards Macalé, Marcelo H, Junior Tostoi e Rodrigo Campello, Vapor Barato, 2005
136 Rebeca Matta e Orquestra Sônica, Vapor Barato, 2006
137 Toni Platão, Movimento dos Barcos, 2006
138 Thaís Gulin, 78 Rotações, 2006
139 Jards Macalé, Ronda (Paulo Vanzolini), 2008
140 Inezita Barroso, Ronda, 1953
141 Jards Macalé, Um Favor (Lupicinio Rodrigues), 2008
142 Gal Costa, Um Favor, 1977
143 Jamelão, Um Favor, 1972
144 Jards Macalé, Só Assumo Só (Luiz Melodia), 2008
145 Luiz Melodia, Só Assumo Só, 1995
146 Jards Macalé e Ana de Hollanda, Balada (Jards Macalé-Ana de Hollanda), 2008
147 Ana de Hollanda, Canção para Aninha (Jards Macalé-Ana de Hollanda), 2009
148 Jards Macalé e Luiz Melodia, Negra Melodia, 2011
149 Jards Macalé e Ava Rocha, Berceuse Crioulle, 2011
150 Ava Rocha, Movimento dos Barcos, 2011
151 Thaís Gulin, Revendo Amigos, 2011
152 Zezé Motta, Pano pra Manga, 2011
153 Zezé Motta, Soluços, 2011
154 Rogério Skylab e Jards Macalé, Cogito (Torquato Neto-adaptação Rogério Skylab), 2014
155 Jards Macalé, Vampiro de Copacabana (Jards Macalé-Kiko Dinucci), 2019
156 Jards Macalé, Trevas (Jards Macalé), 2019
157 Jards Macalé e Juçara Marçal, Peixe (Jards Macalé-Kiko Dinucci-Rodrigo Campos), 2019
158 Jards Macalé e Romulo Fróes, Longo Caminho do Sol (Jards Macalé-Kiko Dinucci-Thomas Harres-Clima), 2019
159 Emanuelle Araújo, Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata (Jards Macalé-Capinan), 2020
160 Jards Macalé, Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata, 1972
161 João Donato e Jards Macalé, “Coco Táxi” (Jards Macalé-João Donato), 2021
162 João Donato e Jards Macalé, “João Duke” (Jards Macalé), 2021
163 João Donato e Jards Macalé, “Um Abraço do João” (Jards Macalé-Joyce Moreno), 2021
164 Romulo Fróes e Jards Macalé, Baby Infeliz (Jards Macalé-Guilherme Held-Romulo Fróes-Nuno Ramos), 2021
165 Simone Mazzer e Jards Macalé, O Crime, 2022
166 Catto, Vapor Barato, 2023
167 Jards Macalé, Amor in Natura (Jards Macalé-Capinan), 2023
168 Jards Macalé, Coração Bifurcado (Jards Macalé-Kiko Dinucci), 2023
169 Jards Macalé, Grãos de Açúcar (Jards Macalé-Alice Coutinho), 2023
170 Jards Macalé, A Foto do Amor (Jards Macalé-Rodrigo Campos), 2023
171 Wanda Sá e Jards Macalé, A Voz de Sal (Jards Macalé-Romulo Fróes), 2025
172 Jards Macalé, A Arte de Não Morrer (Jards Macalé-Capinan), 2023173 Monarco, Cristina Buarque e Velha Guarda da Portela, Coração do Brasil (Jards Macalé), 1998



