Pois o que pesa no Norte, cai no Sul, grande cidade, diz uma das leis da física belchiorianas. Duas boas novas musicais nos chegam neste final de semana do Recife e de João Pessoa. A primeira vem com show na Avenida Paulista, de graça, nesta sexta-feira, então vamos começar por ela.
“A turma se liga porque, a não ser samba-canção, pego de todo lado, de frevo à música de terreiro. Música que tem balanço, no Brasil, faço todas elas”, já dizia o pai da matéria, o paraibano de Alagoa Grande Jackson do Pandeiro.
Totonho & Os Cabra, originário de Monteiro, no Cariri paraibano, conhece intimamente essa trilha de deglutição universal aberta por Jackson do Pandeiro. É por isso que, nesta noite de sexta-feira, 16, às 20 horas, de graça, no Itaú Cultural da Avenida Paulista, 149, a banda-avatar de Carlos Antonio Bezerra da Silva (o Totonho), apresenta uma safra de canções absolutamente híbridas. Como Emboledance, embolada com dance. “Quem embolar? Embole e dance, eu dou um doce de advance, quero o espelho, quero o beijo, pro crítico de arte querer falar bem de mim. Quero teatro de alfenim, inspiração de curumim, que faz um canoa na rede da tribo, navega em página de site pornô”. Pense, dance, pense, pense dance, como diria o Barão.
O lote de canções estará em seu próximo disco, cujo título anunciado é Ai Dentu: Funk de Embolada e Hip Hop do Mato. Nesse trabalho, Totonho & Os Cabra anunciam uma fusão de “embolada nordestina, funk brasileiro e hip-hop estadunidense”. O disco está em fase de finalização e tem previsão de lançamento para julho próximo.
Totonho estará acompanhado dos músicos Chico Limeira, Nildo Gonzalez, Ernani Sá, Daniel Jesi e DJ Guirraiz. Como Chico César, Zeca Baleiro, Jorge Du Peixe e outros conterrâneos, Totonho é um dos artistas menos alheios à realidade política brasileira. “O pajé é o Ministério de Saúde da aldeia”, canta, na vertiginosa ladeira guitarrística O Pajé, que tem produção de André Abujamra e Furmiga Dub. Ai Dentu: Funk de Embolada e Hip Hop do Mato será o sétimo trabalho em estúdio de Totonho & Os Cabra, com composições inéditas e, além de André Abujamra e Furmiga Dub, tem produtores como Renato Oliveira, Marcelo Macedo e Rica Amabis.
O disco, com alto teor psicodélico, apresentará participações especiais de Bixarte, Ruanna Gonçalves. Helinho Medeiros, Paulo Ró e Pedro Osmar (da banda Jaguaribe Carne), grupo do qual Totonho fez parte. Do coco de embolada da matenidade inicial, sucedem-se as fusões. “Tira o perfume na imaginação, mano, não estamos aqui no status de soberano, não é um desafio com a rima. Trajeto na catinga, a metrópole intermédia sua sorte, acerto na mira, o catimbó do negão velho explode. A metáfora pira”, diz Totonho, que define seu novo trabalho como “prontamente afro-tupi, que trata a questão do racismo, a questão da Amazônia, de forma frontal, mas com a linguagem mais de meme, que é uma linguagem que eu já venho desenvolvendo há muito tempo”.
O álbum tem produção executiva da Toroh Música&Cultura e masterização e distribuíção pela YB Music, com apoio do programa Rumos Itaú Cultural 2023-2024. O ingresso para o show desta noite deve ser retirado pelo público através da plataforma INTI.

Outro lançamento que anuncia uma farra musical é um single do cantor, compositor e pesquisador pernambucano Juvenil Silva, Refresque a Cuca, parceria com Seu Vilela. Notável discípulo de Raul Seixas e Belchior, Juvenil também corteja com igual intensidade essa tradição recifense, o brega – afinal, o rei do brega, Reginaldo Rossi, assentou praça no Recife. A gravação, erguida sobre uma costela de Sultans of Swing, do grupo britânico Dire Straits (canção que fascina todo o brega nacional, do paraense Wanderley Andrade ao baiano Luiz Caldas), Refresque a Cuca é uma revisitação brejeira do universo histórico do gênero, do “rei das empregadas domésticas” (Odair José) ao papa Reginaldo Rossi.
Juvenil Silva já emparelhou seus violões, voz e guitarras com luminares como Lula Côrtes, Edy Star e Cátia de França. Agora, está se debruçando sobre o gênero proscrito mais amado do País. “Desde criança que escuto brega. Nasci na Mustardinha e fui criado ali pela zona oeste, área periférica onde o brega reina. E como Recife é bem mais periferia que bairro nobre, o brega impera. Mas minha maior influência veio do meu pai, que é um bregueiro nato de clubes e gafieira. Cresci com ele escutando Jovem Guarda e brega nos fins de semanas. Aquilo se entranhou em mim, virou minha essência”, diz Juvenil.
Refresque a cuca tem produção de Marco Gonzatto (que também gravou backing vocals, violões e pandeiro), guitarras de Ciro Gonçalves, bateria de Alexandre Baros, teclados de Antônio Nogueira, vocais de Babilônia e guitarra, baixo e voz de Juvenil Silva. A canção será lançado no dia 23 próximo em todas as plataformas digitais.