O império de Sullivan & Massadas durou 11 anos, de 1983 a 1994. Paulo Massadas fazia as letras das canções, Michael Sullivan se encarregava das melodias e de quebra era produtor musival e executivo da multinacional RCA Victor. Praticamente todo o elenco da gravadora cantou suas composições românticas, a maioria delas de dor de cotovelo, de Gal Costa a José Augusto, passando por Alcione, Fagner, Fafá de Belém, Sandra de Sá, Joanna… Quando a apresentadora infantil gaúcha Xuxa se transferiu para a Rede Globo, convocou os dois para serem os lobos maus autores das canções tipo chapeuzinho vermelho que gravou numa fase bastante específica do entretenimento e da música brasileira para crianças. O sucesso de “Parabéns da Xuxa” (1987) e “Brincar de Índio” (1988) abriu as portas do império chamado Rede Globo para a dupla, que passou a criar jingles, vinhetas e canções para Domingão do Faustão, Criança Esperança, Os Trapalhões, sucessivas Copas do Mundo… O céu era o limite.
A ruptura, jamais explicada abertamente, levou à interrupção da parceria por 30 anos, até o dia de hoje, quando o império contra-ataca no palco do Cine Joia, em São Paulo, para um show de memorabília em dupla que deve passar por “Me Dê Motivo” (1983), “Um Dia de Domingo” (1985), “Talismã” (1989) e mais algumas dezenas de standards da música mais-que-popular brasileira dos 1980 e 1990. Se até hoje não dão sinal de uma retomada da dupla, Sullivan e Massadas têm sido vistos juntos em entrevistas desde que a Globoplay lançou o documentário Retratos e Canções, dirigido pelo jornalista André Barcinski, sob argumento dele e do apresentador global Pedro Bial. Por chamada de vídeo, eles falaram com FAROFAFÁ às vésperas do show de reencontro, na entrevista que segue mais abaixo.
A história de ambos começou há sete décadas, nos braços da convulsão pop conhecida como jovem guarda. Nascido em 1950, o pernambucano (nascido em Recife e criado em Nazaré da Mata) Michael Sullivan migrou para o Rio de Janeiro ainda na adolescência e se entrosou com futuros gênios da soul music nacional, como Tim Maia, Cassiano e Hyldon. As primeiras bandas de que participou foram a anárquica Os Nucleares, responsável por um único álbum pós-iê-iê-iê em 1969, e Os Selvagens, que lançou Ls entre 1968 e 1976. Entre 1973 e 1976, Sullivan foi vocalista e guitarrista da principal banda da era iê-iê-iê, Renato e Seus Blue Caps, então já à deriva pela deserção de Roberto Carlos, em 1968.
O carioca Paulo Massadas, nascido sete meses depois do futuro parceiro, deu seus primeiros passos musicais nos anos 1960, tocando nos conjuntos de bailes suburbanos do organista carioca Lafayette, responsável por parcela importante da sonoridade da jovem guarda liderada por Roberto Carlos, e do nilopolitano Lincoln Olivetti, futuro alquimista dos teclados e da produção musical do Brasll dos anos 1980. Como discípulo de Lafayette, Massadas integrou, portanto, a primeira ninhada de filhotes da mitológica Turma (da Rua) do Matoso, na Tijuca carioca, que colocou em contato uma gangue de respeito, composta pelo organista e por Roberto Carlos ao lado de figuras como Jorge Ben Jor (então Jorge Ben), Wilson Simonal, Erasmo Carlos e Tim Maia.
Paulo Massadas foi o primeiro a assinar uma composição própria, a esdrúxula “O Mago de Pornois“, que apareceu em 1973 na voz de Vanusa e já fazia antever o futuro do autor junto à música infantil. Michael Sullivan deu a cara a tapa como autor e cantor solo já com um hit, o baladão “My Life” (1976), inserido na novela global O Casarão. Era o momento histórico em que as gravadoras forjavam artistas supostamente norte-americanos para concorrer com os produtos importados no mercado musical – desse truque se originou o nome artístico de Sullivan, na realidade chamado Ivanilton de Souza Lima. O recém-nascido Michael Sullivan dobrou a aposta no ano seguinte, emplacando a igualmente chorosa “Sorrow” na trilha da novela Locomotivas. Como astro gringo, Ivanildo rendeu apenas dois compactos e quatro canções “gringas” de fossa.
Sou Brasileiro… (1978) seria o nome do primeiro LP solo assinado por Michael Sullivan, quando a máscara estrangeira já havia caído e ele almejava se acomodar ao cenário black-pop cantado em português. Entre os 12 não-sucessos, na maioria assinados solitariamente por ele, havia uma composição também solitária de Massadas, “Na Escuridão da Estrada”. Em Michael Sullivan (1979), a fórmula se repetiu, com canções assinadas separadamente por ambos e nenhum sucesso radiofônico. Entre os intérpretes do jovem compositor pernambucano nos tempos de vacas magras, estiveram nomes como Jane & Herondy (“Por Favor Amor”, uma versão em português para “My Life”, em 1977), Ronnie Von (idem, mas em espanhol, como “Volverás”) e José Augusto (“Meu Dilema“, 1978, que Fafá de Belém regravaria em 1987).
Enquanto isso, Massadas compunha para grupos mais ou menos obscuros de rock e/ou black-pop, como A Bolha, Painel de Controle (várias dos LPs Desliga o Mundo, de 1978, e Chama a Turma Toda, de 1979, inclusive “Acredite no Amor”, em parceria com o homem por trás da banda, Lincoln Olivetti) e um tal Banho de Lua. O único hit da fase Painel de Controle não leva a assinatura de Massadas: o saboroso funk “Black Coco” (1978), de Lincoln e Ronaldo Barcellos, como sempre levado em portunhol exótico pelo vocalista Papi.
Passada a primeira tentativa de construir uma carreira solo, Sullivan entrou em outro grupo egresso da jovem guarda, The Fevers, entre 1980 e 1986. Da usina de produção de Sullivan & Massadas saíram composições em série para os Fevers, assinadas ora por Sullivan (a versão “Mãos ao Alto”, “Não Negue Seu Amor”, “Quem Ri por Último Ri Melhor”, 1982), ora por Massadas (“Chove e Não Molha”, 1984), mas principalmente pela dupla em ascensão (“Hey Banana”, 1983; “Luz da Manhã”, “Recomeçar”, 1984; “Baby Sitter”, 1985; “Sete Vezes Sete”, 1986; “Feito Mágica”, “Por Que Não”, 1987; “Nunca Esqueci de Você”, “Vai Ser Agora”, 1988; “Tira Teima”, 1989; “Não Escutei Meu Coração”, 1991; “Nascemos Um para o Outro”, 1992). Nenhum dos pop-rocks antiquados dessa associação escalou montanhas nas paradas de sucessos.
As primeiras parcerias efetivas Sullivan-Massadas apareceram em 1981, quando The Fevers gravaram o frevo malicioso “Rabo de Foguete” e Almir Bezerra (vocalista que antecedeu Sullivan na banda) lançou o cabaré “Anjo da Noite” (e, em 1984, “Delícias da Noite Passada”, que Joanna relançaria em 1988). Nessa época, Sullivan & Massadas também compunham usando pseudônimos que não demonstram interesse em revelar, e que forneciam canções para artistas de forró e do então chamado “brega” no selo Jangada, cujo cantor mais bem-sucedido era o pernambucano Reginaldo Rossi. Curiosamente, o uso de pseudônimos denota algum desconforto inicial da futura dupla ultrapopular, fosse com as próprias composições ou com os gêneros e artistas a que serviam.
Os primeiros agraciados pela marca Sullivan & Massadas, de êxito popular modesto ou nulo, foram artistas da seara “cafona”/”brega”/romântica: Benito di Paula (“Senhorita Liberdade”, 1983), Fernando Mendes (“Pior pra Você”, 1983), José Augusto (“Por Causa de Você”, 1983), Odair José (“A Princesa e o Plebeu“, 1983), Antonio Marcos (“Corpo e Alma”, 1984), Perla (“Renascer”, 1984) e Leonardo (não o sertanejo, mas o irmão mais velho de Sullivan, numa série de composições a partir de 1982). Entre os primeiros a se render à dupla estiveram também os veteraníssimos Angela Maria (o bolerão feminino desprovido de amor-próprio “Não Haverá Mais Uma Vez“, 1983) e Nelson Gonçalves (“Cena”, 1984).
O jogo começou a virar quando The Fevers chamaram Tim Maia para gravar com eles “Frente a Frente” (1983), de Massadas com Miguel Plopschi, romeno que era saxofonista dos Fevers e estava em vias de se tornar diretor artístico da multinacional RCA Victor. Tim gostou da música, que citava seu clássico “Você” (1971) em melodia e letra, e encomendou mais uma, que imediatamente veio a ser o primeiro grande hit de Sullivan & Massadas: “Me Dê Motivo”.
Tim voltou à carga em seguida lançando o baladão “Leva” (1984): “Leva o meu som contigo, leva/ e me faz a tua festa/ quero ver você feliz”. Em 1985, “Um Dia de Domingo” cristalizou definitivamente o estilo romântico e açucarado de Sullivan & Massadas, ao mesmo tempo que apresentava um único e matador dueto de Tim com Gal Costa. Em última instância, foi Tim Maia o responsável pela consolidação e hegemonia da sonoridade que Plopschi, Sullivan e Massadas emplacaram nas paradas como o pop brasileiro dos anos 1980. Nos bastidores e na imprensa, foram muitas as acusações de que o jabaculê impulsionava artificialmente o toque de midas de Sullivan & Massadas.
Paralelamente à ascensão de “Me Dê Motivo”, o letrista Massadas fincou (em dupla com Sérgio Diamante) um hit de outra seara: “Meu Ursinho Blau Blau” (1983), do grupo Absyntho, na primeira e mais infantil seara do pop-rock/new wave que também se avolumava no mesmo período. Foi a senha para o mergulho profundo da dupla na música para crianças, a começar por canções do programa Clube da Criança (1984), da extinta TV Manchete, que a iniciante Xuxa liderou com a dupla infantil Patricia & Luciano (que no ano seguinte evoluiria para Trem da Alegria), o palhaço Carequinha, Sérgio Mallandro e outros.
Ali, foi extensa a lista de hits de Sullivan & Massadas. Sempre sem qualquer preocupação ou compromisso com valores educativos, Patricia (futura Patricia Marx) & Luciano emplacaram “É de Chocolate” (com a dupla adulta Emilinha & Robertinho de Recife), “Carrossel de Esperança” (1984, com Roupa Nova) e “Lápis de Cor” (1984, com Xuxa, em sua primeira experiência como cantora), e o Trem da Alegria enfileirou “Uni, Duni, Tê” (com The Fevers, 1985), “He-Man” (1986), “Thundercats” (1987), “Iô-Iô” (1988, com Xuxa). O Trem da Alegria foi criando para rivalizar em popularidade com A Turma do Balão Mágico, criada com o suporte da Globo pelo arranjador e versionista Edgard Poças (hoje mais conhecido como pai da cantora Céu). O grupo infantil liderado por Simony só gravaria um número (inexpressivo) de Sullivan & Massadas, “Gira Gira” (1988).
Em 1986, Xuxa inseriu seu ideário mercadológico de babá eletrônica sensual nas manhãs da TV Globo, passou a gravar discos pela gravadora da emissora (Som Livre) e fez a ponte que levou Sullivan & Massadas aos domínios globais e engordou definitivamente os cofres dos diversos integrantes do pacto. A fábrica de hits pop por encomenda e sem muito miolo passou a funcionar a pleno vapor: “Parabéns da Xuxa”, “Rambo”, “Aquecendo (Ginástica)” (1987), “Alto Astral“, “Bombom”, “Brincar de Índio”, “Arco-Íris” (1988), “Bobeou Dançou” (1989), “Lua de Cristal” (1990), “A Vida É uma Festa” (1992)…
O estrondo causado por Xuxa forjou uma linha de produção de canções infantis cabeça-de-vento (e bem menos exitosas) da dupla, feitas indiscriminadamente para Os Trapalhões, Mara Maravilha, Os Abelhudos, Atchim & Espirro, Algodão Doce, Jairzinho Oliveira e, nos domínios também imperiais de Xuxa, os derivados Paquitas (o tema de abertura do infantil TV Colosso, em 1993), Paquitos, Andréa Veiga, Angel (irmã da eminência parda Marlene Mattos)… Tentando ampliar o arco, Sullivan & Massadas testaram o universo adolescente, compondo para Patricia (Marx) em transição para a música adulta, Dominó e seu ex-integrante Afonso Nigro, as duplas Luan & Vanessa e Jean & Marcos e, em português, para os porto-riquenhos Menudo e Robby Rosa (ex-integrante da boys band e futuro produtor musical). Em 1989, a dupla estendeu as asas para as rivais loiras infanto-juvenis de Xuxa Angélica e Eliana (essa teve de se contentar com regravações e inéditas de Sullivan sem Massadas, no pós-ruptura). O esgotamento da fórmula era inevitável.
Fora do ambiente infantil, o pop de sintetizadores dos 1980 e o “brega” se fundiram nas composições de Sullivan & Massadas, por exemplo nos hits de abertura de novela global da banda Roupa Nova (“Whisky à Go-Go”, 1984) e do trio Los Angeles (“Transas e Caretas”, 1984). O Roupa Nova, em particular, trocou a filiação inicial ao Clube da Esquina de Milton Nascimento e à gravadora Philips pela fábrica de hits da RCA.
A adesão de Gal e Tim abriu a porteira para que intérpretes da chamada MPB passassem a gravar descontroladamente as encomendas feitas a Sullivan & Massadas. A dupla se distribuiu com habilidade e sem cansaço entre os principais artistas do elenco da RCA (mas também de outras gravadoras), que foram, um a um, escalando hits na parada de sucessos. Vieram, mais ou menos nesta ordem, Alcione (“Nem Morta”, 1985; “Estranha Loucura”, 1987; “Melhores Momentos”, 1990), Ney Matogrosso (“Manequim“, 1985), Roberto Carlos (“Amor Perfeito”, 1986; “Meu Ciúme”, 1990), Joanna (“Amanhã Talvez”, 1986; “Amor Bandido”, 1988), Fafá de Belém (“Coisas Mais Loucas”, 1987; “Amor Cigano”, 1989), Rosana (“Nem Um Toque”, 1986), Sandra de Sá (“Retratos e Canções”, “Joga Fora”, 1986), Fagner (“Deslizes”, 1987), Simone (“Amei Demais”, 1988), Wanderléa (“Me Ame ou Me Deixe”, 1988) e Fábio Jr. (“Muito Prazer”, 1993), além de um e outro não-sucessos de Gal (“Sou Mais Eu“, 1987), Fafá (“Erê”, 1986) e da musa veterana do samba-canção Nora Ney (“Por Incrível Que Pareça“, 1987) etc.
Não-sucesso foi também o álbum em que a dupla estreou não só como produtora ou compositora, denominado Michael Sullivan & Paulo Massadas (1987), feito de composições inéditas, com um semi-hit em homenagem a Xuxa (“Lady X“, com o Trem da Alegria) e com participações ilustres de Sergio Mendes (“Quero Mais”, com guitarras à la Santana) e Jermaine Jackson (irmão do ídolo Michael Jackson, em “I Need Somebody”). A faixa “Dê uma Chance ao Coração“, uma versão melosíssima de canções tipo o “We Are the World” (1985) coletivo norte-americano, traz as vozes de quase todas as estrelas da RCA, entre elas Alcione, Fagner, Fafá de Belém, Sandra de Sá e Joanna. O álbum não convenceu o grande público, e nem o LP Os Grandes Sucessos de Sullivan & Massadas ao Vivo (1991) ajudou a engrenar uma carreira artística da dupla.
As peças mudaram de lugar no tabuleiro do mercado. Se a dupla puxou Alcione do samba para a canção romântica, Sandra de Sá puxou a força soul-funk de Massadas e, sobretudo, Sullivan, em especial no funk arrasa-quarteirão “Joga Fora”. No final dos 1980, a dupla tentava se assentar aos ritmos que começavam a dominar as paradas: em 1989, Elson (futuro Elson do Forrogode) lançou “Talismã” em tempo de pagode romântico; no ano seguinte, Leandro & Leonardo transformaram o pagode em um clássico sertanejo, acarretando uma leva de encomendas para Ataíde e Alexandre, João Mineiro e Marciano, Chrystian & Ralf, Roberta Miranda, Sula Miranda…
Além de “Talismã”, os sertanejos se apropriaram de “Um Dia de Domingo” (Roberta Miranda, em 2000), “Deslizes” (Chitãozinho & Xororó, 2000), “Fui Eu” (original de José Augusto em 1988, retomada por Zezé di Camargo & Luciano em 2005), “Me Ame ou Me Deixe” (Leonardo, 2006), “Carrossel de Esperança” (Michel Teló, 2017, originalmente gravada em 1984 por Patricia & Luciano e Roupa Nova), “He-Man” (Marcos & Belutti, 2017), “Uni, Duni, Tê” (transformada em “Altas Loucurinhas” pelo forrozeiro-sertanejo cearense Matheus Fernandes).
Já em fase de desgaste, os operários da fábrica de canções descartáveis compuseram lambada para Sidney Magal, axé para Sarajane e assim por diante… Em 1998, o funkeiro MC Marcinho transformou “Te Cuida Meu Bem” (lançada em 1987 por Patricia Marx) em “Garota Nota 100“. A exaustão dos anos 1998 culminou na dissolução da dupla, aparentemente para nunca mais voltar a compor junta. O canto de cisne coube ao Roupa Nova, no não-sucesso “Raio de Sol” (1994). Em 1995, Sullivan e o grupo funk melody Copacabana Beat lançaram simultaneamente uma dor-de-cotovelo estranhamente festiva e muito simbolicamente chamada “Depois da Tempestade”, assinada por ele e Solange Pereira.
“Amor Perfeito”, uma raríssima composição a oito mãos com os modeladores do padrão pop brasileiro dos anos 1980, Lincoln Olivetti e Robson Jorge, foi um dos hits que sobreviveram ao fim da associação, com regravações em série por Babado Novo (2001), Chiclete com Banana (2003), Latino (2003), Inimigos da HP (2006), Ney Matogrosso (2013)… Antes, o grupo Só pra Contrariar foi pioneiro em resgatar para o pagode romântico os standards pop “Um Dia de Domingo” e “Retratos e Canções”, em 1993.
Seguiram-se releituras significativas por Sampa Crew (de “Retratos e Canções”, em 1996), Ivete Sangalo (“Retratos e Canções”, 2003), Nando Reis (“Whisky à Go-Go”, 2010), Adriana Calcanhotto (“Me Dê Motivo”, 2013), Fernanda Takai (“Fui Eu”, 2013), Zeca Baleiro (“Chuva Fina”, 2013, lançada pelo ex-Menudo Robby em 1988), Criolo (“Me Dê Motivo”, 2015), Maíra Freitas (“Estranha Loucura”, 2015), Alice Caymmi (“Joga Fora”, 2016), Ludmilla (“Lua de Cristal”, 2017), Yahoo e Frejat (“Me Dê Motivo”, 2021).
Num cenário em que frequentemente cantores e músicos não mal-sucedidos nas paradas se convertem em manda-chuvas de gravadoras, Sullivan & Massadas foram um caso de meio terno, que se beneficiou do controle do maquinário industrial, mas ao mesmo tempo tinha talento artístico suficiente para cravar alguns clássicos na música nacional (e, mais ainda, para agradar o patrono do samba baiano Dorival Caymmi) e, eventualmente, para ir para o topo do palco, como Sulllivan tem feito sazonalmente desde 1993 e a dupla volta a fazer agora, em mais um voo sem direção definida. A seguir, eles reprisam momentos marcantes de suas trajetórias.
Pedro Alexandre Sanches: Sullivan & Massadas eram uma dupla de artistas ou de produtores musicais e executivos de gravadora? As cabeças de vocês conseguem dividir essas duas dimensões?
Paulo Massadas: As coisas se misturam muito. Cada hora a gente ocupou um espaço na vida artística. Tanto eu quanto Sullivan começamos fazendo muitos e muitos bailes. Mais tarde, Sullivan gravou em inglês, fez um enorme sucesso no Brasil, e foi quando eu o conheci. A a gente começou a entender que quem sabe ele não fosse o H2 e eu fosse o O e juntos fôssemos H2O. E foi. Foi um processo muito intuitivo. A gente sentiu intuitivamente que um poderia completar o outro de alguma forma, na hora da composição musical. Ele era mais cantor naquela época, e eu ficava fazendo as minhas composiçõezinhas, mas ainda nada de expressão. Foi só no momento em que a gente se uniu e eu fui fazer bailes com Sullivan. Eu tocava na banda dele. Esse tal de Michael Sullivan estava tocando muito no rádio, e eu pensava: esse cara está em gravadora, vou tocar com ele. Na hora dos bailes, quando a gente saía para comer um pastel de madrugada, eu mostrava um negocinho para ele. Fomos começando a perceber, caramba, que de repente um pode completar o outro. Fomos embrionariamente, sem uma visão do que poderia vir a ser. Se uma cigana aparecesse e contasse que esses dois iam fazer história, eu diria que essa mulher está maluca, sai de perto. Nem a gente tinha essa noção. Acho que era a mesma vontade de John Lennon e Paul McCartney, Mick Jagger e Keith Richards, com os mesmos sonhos, sempre buscando seus próprios caminhos quando você ainda não é nada. Hoje, olhando em retrospecto, vejo que a história conseguiu fazer com que a gente se eternizasse de alguma forma. E isso era completamente imprevisto. A gente queria fazer sucesso com uma música aqui, outra ali, mas com o passar do tempo a obra foi ficando maior do que a gente. A verdade é essa.
Michael Sullivan: Eu sempre tive dentro de mim essa coisa da gravadora, do executivo de estúdio. Fui criado dentro de estúdio. Quando morava em Recife, fiz rádio e a televisão e fui o cara que já cantava com grande orquestra, com 15 anos. Mas quando cheguei no Rio achei uma banda de baile em que fui tocar, Os Nucleares, e foi ali que conheci Tim Maia, Raul Seixas, [o produtor e compositor] Mauro Motta, Renato Barros, Roberto Carlos, todo mundo começando. Sempre vivi dentro, conhecia tudo da gravadora, como era promoção, produção, como era para organizar uma verba. Na parte executiva, fui criado ali dentro mesmo. Fui criado dentro de estúdio e saía para ser artista. Saía e fazia bailes, ia na televisão com Renato & Seus Blue Caps. Depois estourei como Michael Sullivan, cantando inglês, e minha música foi bem no mundo inteiro. “My Life” (1976) foi realmente a minha primeira composição e a composição que mais vendi na minha história. Quando [o produtor espanhol] Manolo Camero foi ser presidente da gravadora RCA, chamou Miguel Plopschi, Edson Coelho e a gente para dar uma assistência, para mim era natural e me tornei gerente de produção da RCA. Isso para mim não era muito difícil de fazer. Estava dentro de estúdio, continuei dentro de estúdio e sendo artista. A dupla Sullivan & Massadas foi tão forte, na composição e na produção, que acabou que nos tornamos artistas naturalmente. Eu já era artista, já cantava, e Paulo junto comigo. Nos apresentávamos na Xuxa, no Faustão, fizemos a abertura do Domingão do Faustão, na maior audiência da América Latina, que era a Globo. A gente estava trabalhando ali dentro com Xuxa, Trem da Alegria, então havia um elo com a Globo. Tudo que Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho] queria – uma campanha da Copa do Mundo, “Papa Essa Brasil“, aquelas músicas todas – éramos nós que fazíamos porque ele pedia. A criação das canções, da campanha publicitária – porque uma música é quase isso -, sempre correu junto e não foi difícil pra gente, como não é até hoje. Agradecemos André Barcinski e Pedro Bial [diretor e roteirista da série “Retratos e Canções”], à [produtora e gravadora] Kuarup e a todo mundo que fez essa festa para a gente em vida. Isso é lindo.
PAS: Onde vocês nasceram?
PM: Eu nasci no Rio de Janeiro.
MS: Eu vim do interior. Minha música começa com Luiz Gonzaga, no interior. Também ouvia muito Vicente Celestino, Angela Maria, Nelson Gonçalves. Nasci em Recife, mas me criei no interior, em Nazaré da Mata. Vim nascer em Recife, voltei para o interior e me criei até os 15 anos, quando vim para Recife e entrei em programa de calouros. Com dez anos vi Luiz Gonzaga cantar num programa de rádio em Timbaúba e falei: vou ser cantor. Responsabilidade, ouvir Luiz Gonzaga e querer ser cantor, né? Ganhei o concurso com 15 anos, e quem me entrega o troféu? Luiz Gonzaga. Recebi o prêmio da mão dele. Minha vida foi isso. Busquei sucesso, mas não vendi muitos discos nem fui bem-sucedido em tudo que fiz como compositor, produtor ou cantor. Buscava em tudo que fazia, mas nunca esperei que Deus fosse tão maravilhoso e me desse essa coisa grandiosa.
PAS: No pré-Sullivan & Massadas, Paulo tocou com duas figuras mitológicas na música pop brasileira, Lafayette e Lincoln Olivetti, e Michael participou das bandas Renato & Seus Blue Caps, e The Fevers. Como foi essa pré-história da dupla?
PM: Essa é a raiz. Chega um ponto em que o baile ensina realmente como tocar música, cantar, fazer vocal, letra, tudo. Mas tem que fazer um pouco de parceria com o destino, e em 1982 tive a sorte de ir tocar com Lincoln Olivetti. O baterista era Serginho Herval [futuro integrante do grupo Roupa Nova], que morava no prédio de frente. Lincoln me chamou para tocar contrabaixo, que eu não tocava. Me fez tocar contrabaixo em um mês. Em baile eu cantava, minha voz era tipo Led Zeppelin, e Lincoln queria fazer Led Zeppelin, Humble Pie, aquelas coisas todas em baile. Éramos uns tarados maníacos que conseguimos fazer isso. Outro grande aprendizado foi com Lafayette. Tudo na jovem guarda começava com aquele órgão do Lafayette. Nessa trajetória, ao mesmo tempo em que cantava fui fazer universidade, me formei em publicidade, o que também me deu uma visão. Não é que se faça música exatamente com uma visão publicitária, não é isso, mas te dá um gancho de conhecer coisas como público-alvo, faixa etária. Vou fazer música para quem? Para criança. Até quantos anos, dez? Qual é a linguagem? Isso ajudou muito o processo. A vida foi me dando essas cartas, que foram muito preciosas no sentido de formar, de me dar total visão de um mercado e de como criar uma linguagem. Não era uma visão, era uma antevisão, porque não estava pronto ainda. Sullivan & Massadas foi muito importante, fora as melodias sensacionais que Sullivan sempre fez, por criar uma linguagem específica, diferenciada das linguagens que estavam acontecendo. Isso principalmente porque, com a queda do governo militar, a linguagem mudou e a gente sacou isso, não de maneira racional, mas intuitiva. Isso fez muita diferença na hora da composição, porque trouxe uma personalidade muito grande. Se escutar, Alcione, era Alcione, Sandra de Sá era Sandra de Sá. Cada um tinha uma linguagem muito específica, e isso me ajudou muito a identificar imediatamente quem é o cantor, a cantora, qual é o tipo de música. Não sofríamnos com o que o cantor tal quer ou não quer, a gente já sabia o que ele queria. É como um garçom do restaurante que já conhece aquele cliente, já sabe qual cardápio vai mostrar.
MS: Quando saí de Recife já tinha um know-how como profissional de música. Trabalhei no famoso estúdio Rozenblit, da Mocambo, em Recife, e gravei alguma coisa no estúdio Rozenblit.
PAS: Você testemunhou as enchentes que destruíram a Rozenblit?
MS: Estreei na televisão em março de 1966. Quando cheguei, num sábado, começou a chover e foi a noite da enchente. A água cobriu a casa em que eu morava com meu irmão. Aquele tempo marcou muito a minha vida por causa dessa enchente. Foi uma grande escola. Quando Cauby Peixoto passou por Recife, ele me disse: “Garoto, vai embora, vai para São Paulo ou para o Rio de Janeiro”. Vim para o Rio, em 15 dias meu dinheiro acabou, e fiquei pela rua por três meses. Quando saí da rua, arrumaram um conjunto para eu cantar, Os Nucleares. Seis meses depois gravei um disco com Os Nucleares [Os Nucleares, de 1969], quando Tim Maia estava com o primeiro disco pronto. Eu estava dentro do movimento black music Brasil, que eu não sabia que era um movimento. O black Brasil começou em 1968, em 1969 conheci Tim, Cassiano, Tony & Frankye, Fábio, Wilson Simonal. Passou um ano, Os Nucleares viraram Os Selvagens, entrou Hyldon. Dois do grupo começaram a tocar na banda Vitória Régia com Tim, desse grupo saiu muita coisa. Todo esse movimento eu peguei. Os bailes foram importantes para Sullivan & Massadas. Nós nascemos no mesmo ano, tudo que Paulo ouviu eu escutei junto. A nossa pegada, tinha um histórico igual, era ali que a gente se encontrava.
PAS: Paulo, os bailes com Lafayette e Lincoln coincidem com o movimento Black Rio?
PM: Foi um pouquinho antes, comecei a tocar com Lincoln em 1972. Tudo ainda era embrionário. Eu estava começando como músico de baile, era um músico regular apenas. Acho muito importante apreciar no outro uma qualidade que você ainda não tem. Primeiro, você tem que ter humildade para perceber isso, porque há muita rivalidade entre os músicos, é normal. Mas eu sabia o quanto primário ainda estava, sabendo que estava num processo de aprendizado. Lidar com Lincoln, Serginho, Lafayette foi fazendo um upgrade muito forte. Eu poderia estar tocando em qualquer conjunto, naquela época tinha 600 conjuntos de baile no Rio. Foi uma dádiva do destino que transformou um carinha que só tocava num cara que começou a enxergar muito mais. Quando se toca com gente de extremíssima qualidade, só tem um caminho: tem que tocar bem para cacete, porque você não vai querer ficar por baixo. Não por uma rivalidade, e sim por uma ânsia de aprender com as pessoas que sabem. Sou um eterno aprendiz, me seduzo e fico fascinado quando vejo alguém que sabe uma coisa que eu nem sabia que existia. O primeiro passo é passar a copiar aquela pessoa, e depois desenvolver um estilo próprio. Foi essa minha formação.
PAS: A dupla se conheceu em 1979, mas o primeiro grande hit, “Me Dê Motivo”, com Tim Maia, só veio em 1983. O que aconteceu nesse intervalo, por que ele existiu?
PM: A gente já estava junto desde que eu estava na banda dele, e quando a banda acabou a gente continuou junto. Ele veio gravar ainda dois discos, fiz música para os dois, mas estava embrionário ainda. Até que chegou um ponto em que um olhou pro outro e intuitivamente falou: cara, acho que a gente tem uma fórmula que pode desenvolver naturalmente. Você tem uma coisa que eu preciso, eu tenho uma coisa que você precisa. Mas foi subconsciente, foi acontecendo naturalmente. É como seguir uma estrada desconhecida, mas sua intuição diz para seguir, porque vai ter coisa lá na frente. Às vezes parece uma coisa insignificante, você nem liga muito, mas aquela coisa insignificante já é uma dica do que vai vir adiante. Passamos a acreditar mesmo em coisinhas muito pequenas que apareciam no caminho. Fomos trabalhando essas coisinhas pequenas e elas foram ficando meio maiores, maiores, maiores, até ficarem maiores até do que a gente.
MS: A primeira música que nós fizemos já mostrava que a coisa ia ser muito grande, honestamente. A primeira música, ou pode ter sido a segunda ou a terceira, foi uma noite lá em casa. Eu morava na Ilha do Governador, e nós compusemos uma música chamada “Frente a Frente” [creditada a Massadas e Miguel (Plopschi)], em 1982, quando eu estava nos Fevers, que deu ideia para Miguel Plopschi, diretor da companhia, de chamar Tim Maia para cantar comigo. Miguel adorou a música, era o produtor da companhia, acreditou e nós gravamos. Foi no dia da gravação de “Frente a Frente” que Tim pediu para a gente fazer uma música para ele, uma música assim meio de corno, um musiquinha que falasse no ouvido, meio Barry White – uma sofrência, não com essa palavra ainda, ele falou muito de dor de corno. Fomos pra casa, fizemos, dois meses depois a música estava pronta e saiu. Tim gravou o final de 1982, no selo Lança, de Jairo Pires, e em 1983 a música explodiu, porque era o disco que tinha “Descobridor dos Sete Mares”. A partir dali nós explodimos. Foi a música do ano, já estava sendo regravada no mundo inteiro. Aí vieram “Um Dia de Domingo” (1985), aberturas de novelas, a música da Copa do Mundo. Era muito pedido, foram acontecendo coisas e coisas e coisas. Em 1986 a gente estava explodido, o disco da Sandra de Sá tinha quatro ou cinco músicas tocando, nossas “Joga Fora no Lixo” [“Joga Fora”], “Retratos e Canções” e tanta coisa. A gente participou tão forte no disco dela que fez uns coros, com Junior Mendes e Claudia Olivetti, esposa do Lincoln. Eu e Paulinho estávamos ali na frente dos coros, parecia que a gente estava cantando junto com Sandra. É importante esse disco para a dupla. A partir dali foi embora.
PAS: De quem foi a ideia de promover o encontro de titãs de Tim Maia e Gal Costa, para cantar “Um Dia de Domingo”?
PM: Isso é novela, olha a novela aí.
MS: Foi da própria Gal. Passava na casa do Paulo para a gente compor, depois ia para a gravadora, onde eu trabalhava. Quando não tinha tempo de passar na casa dele, Paulo ia na gravadora, para fazer algum coro e para a gente compor e fechar as letras. Numa dessas, estávamos sentados no corredor da gravadora e Gal passou. A gente tinha feito “Leva” (1984), um jingle que Tim cantou na TV Bandeirantes. Quem cantava era eu, mas Tim falou: “Tira tua voz, que eu vou cantar”. Falei que não ia dar certo, ele disse: “Ô, meu irmão, aqui é o Tim Maia do Brasil”. E deu certo mesmo, hoje é um clássico nosso. Mas Gal passou e falou: “Foram vocês que fizeram essa música ‘Leva’ do Tim Maia?”. Fomos nós. “Fizeram ‘Me Dê Motivo’ e ‘Leva’?” Fomos nós. “Queria que vocês fizessem uma música para mim, que estou pensando em chamar Tim pra gravar. Ainda estou pensando, mas mesmo que ele não venha queria que vocês fizessem para eu analisar se gravo com ele”. Fomos para a casa do Paulo e fizemos uma música. Quando ela ouviu, aprovou e falou para a gravadora que iria trazer Tim Maia, o pessoal da gravadora enlouqueceu, acharam que a música já era um sucesso. E foi tudo lindo, uma explosão absurda.
PAS: Como Tim reagiu quando ele ficou sabendo da ideia?
MS: Ele adorou, mas, como Gal fala na série, Tim adorava confusão. Ele queria cantar junto, porque adorava Gal, queria namorar com ela. Fiquei de botar a voz com eles juntos., mas Gal botou a voz sozinha porque tinha que viajar. Quando ele chegava no estúdio, por duas vezes, não quis gravar, a primeira porque Gal não estava e ele foi embora, na segunda ela também não estava e ele fazia volteios na música. A música estava muito longa, ele volteava no meio, “eu preciso respirar”, fazia uma modulação no tom que vinha cantando, mas falou: “Mas irmão, tenho que cantar ao mesmo tempo, ao mesmo tempo, no início da música”. Não botou voz naquele dia, tivemos que voltar para refazer o arranjo, uma confusão danada. Enfim, foi sucesso, foi muito bom pra gente, foi um dos maiores clássicos, talvez o nosso maior clássico, o mais arrebentado.
PAS: É verdade que quando estava no topo dessa montanha de sucesso vocês chegaram a fazer cinco músicas num só dia?
MS: Aconteceu, com certeza.
PM: Certas coisas se tornam naturais. Sabe aqueles malucos que o cara tem um arco e uma flecha e tem um alvo a 100 metros de distância? Vedam o olho do cara, rodam, botam na direção de olho vendado, e ele acerta. Tem esses doidos. Isso é mais ou menos para tentar explicar o que é, porque é tão absurdo. Como é que o ser humano possui uma capacidade até ilimitada nesse aspecto? Depende de quanto você vai forçar o elástico. Se for habituando devagarinho, não de uma vez só, vai adaptando aos pouquinhos, sedimentando, aprendendo todo o processo. Quando chega a hora de começar a fazer, a música e a letra já estão pronta na sua cabeça. Você só vai materializar. Mas isso é depois de ter feito milhares de vezes, quando já tem aquela noção e a autoconfiança está dentro de você. Às vezes, sim, a gente fazia uma, duas, três, ia embora fazendo, porque precisava. Os pedidos eram tantos que não sabíamos o que fazer para não perder a oportunidade não só de fazer o sucesso, como de servir aqueles cantores ansiosos. Todo mundo quer fazer sucesso, e a gente adquiriu, pode-se dizer vulgarmente, uma fórmula. Não é bem isso, na verdade, é fazer as coisas com naturalidade e beleza, porque todos esses padrões estavam infiltrados no nosso pensamento. Mas não foi fácil chegar até aí. Trata-se de genialidade? Não, se trata de aprendizado. Quando se quer uma coisa, não tem limite, desde que você entregue sua própria vida em troca. Foi o que aconteceu.
MS: Nós não temos explicações para Sullivan & Massadas, era uma coisa sobrenatural. Acredito em Deus, então digo sempre que a explicação é com 0800-Deus. É através da oração que ele vai responder, porque eu mesmo não sei explicar. Acho que é essa coisa da gente ter nascido no mesmo ano, ter o mesmo repertório, ser da mesma época. A gente era irmão em tudo e não sabia, só soubemos quando começamos a trabalhar juntos e foi dando certo, foi dando certo, foi dando certo. Acho que fazer tudo para servir o outro é a chave do sucesso. Nós tínhamos isso porque tínhamos esse DNA de tudo que ouvimos. Eram as mesmas coisas, parecia que nós nascemos da mesma barriga. Essa foi a fórmula, tentar servir, já que éramos fãs de todo mundo. Quando saí das ruas, gravei com Os Nucleares, Tim Maia, Cassiano, fui para a CBS, um ano depois estava dentro da CBS com Roberto Carlos, Renato Barros, [o produtor e versionista de jovem guarda] Rossini Pinto, Raul Seixas, aprendendo tudo ali. Dividia prato na Espaguetelândia com Raul Seixas, ele sempre me pagava porque tinha dinheiro, e eu, não. Mauro Motta, um dos principais produtores de Roberto Carlos, já contou isso. A vida é uma aprendizagem, um recomeço todos os dias. Você não deve virar a cara para que está acontecendo. Eu não viro a cara. Sou inclusivo, incluo no meu trabalho. Fiz um disco há pouco tempo com todo mundo dos novos [Carrossel de Esperança, 2017, com versões por Ludmilla, Michel Teló, Dream Team do Passinho, Lexa e MC Guimê, entre outros]. Gosto de saber tudo que está acontecendo. Nossa vida foi decidida pelo povo. Tudo que fiz, sempre que cheguei em primeiro lugar, aconteceu e não sei explicar o porquê. Não é ver a música como meu universo, e sim como o universo total, que é de todos, fonte inesgotável de inspiração. Quando você quer ter inspiração, se concentra e ela vem.
PAS: Em algum dia desses saíram dois hits no mesmo dia? Quais?
PM: Sim, dois, três… Lembro quando ele chegou em casa e falou: “Tenho Fagner para fazer”. Geralmente, ele faz a melodia e eu vou acompanhando e colocando a letra. Mas, às vezes, teve horas que eu queria ficar mais livre pra fazer a letra sem, entre aspas, me escravizar à melodia. Aí então preparei “Deslizes” em sílabas, tudo com 11 sílabas.
MS: Nesse dia, fizemos uma música que eu tinha deixado a melodia, “Desfez de Mim“, que Fagner gravou depois [em 1989]. Mas achamos que a gente podia fazer uma outra coisa, e nesse dia saiu “Deslizes”. Foi em 1984, pensamos no Fagner para “Deslizes”, mas nem mostramos para ele. Mostramos para um monte de gente, inclusive Roberto Carlos. Fizemos “Deslizes”, “Nem Morta” [gravada por Alcione em 1985], muitas. Não aconteceu uma vez só, aconteceu uma meia dúzia de vezes de termos três ou quatro músicas que aconteceram na mesma noite. Em 1990 já, fizemos a música das Paquitas, “Eu Não Largo o Osso” (1993), e mais umas duas que foram sucesso, e fizemos “Talismã” [lançada em 1989 por Elson como pagode romântico e transformada em sertaneja no ano seguinte por Leandro & Leonardo] naquela mesma noite.
PAS: E, depois disso tudo, vocês estão há 30 anos sem compor juntos? Por quê?
PM: Porque tudo nasce, cresce, reproduz e morre. E com a possibilidade de renascer. É mais ou menos por aí.
PAS: Está renascendo?
PM: Sim, claro que está. Está renascendo, sim, porque deixamos centenas de filhos dos quais a gente tem que cuidar. A gente não pode ser pai que abandone suas criaturas. Por isso, estamos voltando, apresentando o show com os sucessos, fazendo praticamente uma máquina do tempo. Como Sullivan & Massadas, nós conseguimos atravessar gerações. No passado, uma geração suplantava a outra, e a partir do momento que a música se tornou digital e não existem mais as gravadoras, o que ficou do que nós fizemos, de certa forma, imortalizou. Já estamos na segunda ou terceira geração, o avô contou para o filho que já passou para o neto. Isso é um fenômeno não só no Brasil, no mundo inteiro é assim. As músicas dos anos 1980 e 1990 se eternizaram na falta de novos produtos proporcionados por gravadoras, direcionados aos gostos populares. Hoje em dia, o gosto é uma coisa dispersa. São milhares de gostos diferentes.
MS: Tenho vivido um dia a cada vez. É tempo de celebrar o que foi feito. Na realidade, a dupla nunca terminou com o sucesso que fez. Nós temos filhos para criar. Mais importante é viver criando esses filhos o resto da vida. Se tiver que ter uma coisa nova, tem que ser um acontecimento, como foi o acontecimento da série, da gente se reencontrar no palco. É um reencontro para tudo, mas não tem nada marcado, nem nada programado. Tudo pode acontecer, porque estamos vivos. A cada dia vamos ver o que vai acontecendo pela frente.
PAS: A crítica e a imprensa musical rejeitavam vocês, não aceitavam muito o que faziam. Aí passa-se esse tempo todo e hoje dá para dizer que Sullivan & Massadas têm uma aura cult. Alice Caymmi, da novíssima geração, regrava “Abandonada” [2014, composição de Sullivan e Paulo Sérgio Valle lançada por Fafá de Belém em 1996], produz e grava com Michael Sullivan, num dueto ao nível daqueles de Tim Maia e Gal [“Coisa à Toa”, de Sullivan e Celso Fonseca 2023]. Como se sentem com essa virada de jogo?
PM: Felizes, porque quando você faz muito bem, bem demais, é normal que outros se incomodem. Quando os outros se incomodam, estão te dando um troféu de que você é muito bom naquilo que está fazendo. Considero naturalíssimo hoje em dia esses mesmos jornalistas que falavam no passado dizendo “me arrependo e estou aqui para dizer que realmente…”. O tempo é o senhor, sabe de tudo, mostrou que o que nós fizemos eternizou. Diante da eternidade ninguém pode falar nada.
MS: Foi feita uma restrição, porque é uma briga de cachorro grande nas gravadoras. A RCA estava em déficit desde não sei quando, não estava vendendo nada. E nós vendemos, e isso criou um problema. Algumas gravadoras não conseguiam vender o suficiente como nós vendíamos. Nós fazíamos Gal Costa, Reginaldo Rossi e Pink Floyd. Não dá pra explicar. A gente compunha e dava certo.
PAS: Qual é sua afinidade com Alice Caymmi, Michael? Ela diz que o avô, Dorival Caymmi, gostava muito de você. Como você atinge duas gerações dessa família?
MS: Seu Dorival me chamou na casa dele para me conhecer. Eu tinha produzido um disco do filho dele, Danilo Caymmi…
PAS: Que é o pai de Alice.
MS: É. Produzi um disco em que Alice cantou, depois chamei ela para participar do meu disco e ela disse: “Até produzir eu produzo”. E produziu maravilhosamente [o álbum Ivanilton, de 2023]. Quando conheci seu Dorival, ele me falou coisas maravilhosas. Falou que eu tinha o intelecto do povo, que eu era igual a ele, que também tinha o intelecto do povo. Peguei um avião com Tom Jobim, que disse: “Fica tranquilo, eu sei da competição, você sabe a minha frase, que no Brasil o sucesso é uma afronta pessoal. Fica tranquilo que vão reconhecer você e vai dar tudo certo”. Alice, para mim, é uma das maiores cantoras deste país. Ela se entregou a tudo que fiz naquele disco. Fiz uma música com ela, um dos maiores sucessos que Alice tem cantando, “Meu Recado” (2015). Fizemos rapidinho, em meia hora, e é lindo. Ela meteu a caneta, eu fiz a melodia, com ela junto.
PAS: Por que no início da dupla vocês compunham por pseudônimos? Quais seriam esses pseudônimos?
MS: A gente compunha para muita gente, José Augusto, Reginaldo Rossi. Quando tinha conflito de editora, a gente botou uns pseudônimos. Eu botava os nomes dos meus filhos, Luciana e Rodrigo.
PM: Num cenário em que isso era proibido de cima para baixo, a gente compunha desde a música mais humilde até a mais sofisticada. Então éramos obrigados a fazer isso. Como a gente podia lidar com eles? Tinha que ter uma saída para poder satisfazer aquelas pessoas naquele grupo mais modesto. Foi mais ou menos por aí.
MS: Tinha problemas de editora. Quase a música “Me Dê Motivo” não foi gravada, porque Tim tinha editora própria e gostava que as músicas saíssem pela editora dele.
PM: E a gente era da editora do [José Antônio] Perdomo [Corrêa, da União Brasileira de Compositores]. Gravou, virou música do ano, Troféu Imprensa. Ele foi muito inteligente nessa parte.
MS: Minha música não tem preconceito. Nossa música não tem preconceito. Ela venceu o tempo, venceu qualquer preconceito.
O império pop de Sullivan & Massadas
(composições de Michael Sullivan e Paulo Massadas, exceto onde indicado)
- Os Nucleares, “Apolo 0” (1969) – de Eduardo Araujo e Chil Deberto
- Vanusa, “O Mago de Pornois” (1973) – de Paulo Massadas
- Renato & Seus Blue Caps, “Se Você Soubesse” (1973) – de Renato Barros e Rossini Pinto
- Michael Sullivan, “Sorrow” (1977) – de Michael Sullivan, Richard Lee e Mark
- Jane & Herondy, “Por Favor Amor (My Life)” (1977) – de Richard Lee, Michael Sullivan e Mark, versão Fábio Marcel
- Ronnie Von, “Volverás (My Life)” (1977) – de Richard Lee, Michael Sullivan e Mark, versão Gabino Correa
- A Bolha, “Talão de Cheques” (1977) – de Bolha e Massadas
- Michael Sullivan, “Sou Brasileiro” (1978) – de Michael Sullivan
- Michael Sullivan, “Na Escuridão da Estrada” (1978) – de Paulo Massadas
- Painel de Controle, “Black Coco” (1978) – de Ronaldo e Lincoln Olivetti
- Painel de Controle, “Quero Mais um Rock’n’Roll” (1978) – de Papi e Massadas
- José Augusto, “Meu Dilema” (1978) – de Leonardo e Michael Sullivan
- Painel de Controle, “Chama a Turma Toda” (1979) – de Papi e Paulo Massadas
- Painel de Controle, “Acredite no Amor” (1979) – de Papi, Paulo Massadas e Lincoln Olivetti
- Leonardo, “Meu Coração” (1981)
- The Fevers, “Rabo de Foguete” (1981)
- The Fevers, “Mãos ao Alto (Quero Seu Coração) (Hands Up) (Give Me Your Heart)” (1982) – com J. Kluger, D. Vangarde e N. Byl, versão Michael
- Benito di Paula, “Senhorita Liberdade” (1983) – de Maicon O’Sullivan (sic), Paulo Massadas e Don Carlos
- Fernando Mendes, “Pior pra Você” (1983)
- José Augusto, “Por Causa de Você” (1983)
- Absyntho, “Meu Ursinho Blau-Blau” (1983) – de Sérgio Diamante e Paulo Massadas
- The Fevers e Tim Maia, “Frente a Frente” (1983) – de Miguel e Paulo Massadas
- Tim Maia, “Me Dê Motivo” (1983)
- Nelson Gonçalves, “Cena” (1984)
- Tim Maia, “Leva” (1984)
- Los Angeles, “Transas e Caretas” (1984) – de Michael Sullivan, Miguel e Paulo Massadas
- Roupa Nova, “Whisky à Go-Go” (1984)
- Almir Bezerra, “Delícias da Noite Passada” (1984)
- The Fevers, “Luz da Manhã” (1984)
- Los Angeles, “Tempero Latino” (1984)
- Perla, “Renascer” (1984)
- Absyntho, “Palavra Mágica” (1984)
- Emilinha & Robertinho de Recife, Patricia & Luciano, “É de Chocolate” (1984)
- Sérgio Mallandro, “Break Esperto” (1984)
- Os Abelhudos, “Amigo Invisível” (1985)
- Gal Costa e Tim Maia, “Um Dia de Domingo” (1985)
- Roupa Nova, “Um Show de Rock’n Roll” (1985)
- The Fevers, “Baby Sitter” (1985)
- Trem da Alegria e The Fevers, “Uni, Duni, Tê” (1985)
- Demônios da Garoa e Benito di Paula, “A Vida É Dura” (1985)
- Alcione, “Nem Morta” (1985)
- Angela Maria, “Velhos Tempos” (1985)
- Núbia Lafayette e Alcione, “Entre Amigas” (1985)
- Antonio Marcos, “E Você Ainda Diz Que Eu Não Te Amo” (1985)
- Rosemary, “Bye Bye” (1985)
- Roberto Carlos, “Amor Perfeito” (1986) – de Michael Sullivan, Paulo Massadas, Lincoln Olivetti e Robson Jorge
- Sandra de Sá, “Retratos e Canções” (1986)
- Joanna, “Amanhã Talvez” (1986)
- Rosana, “Nem Um Toque” (1986)
- Sandra de Sá, “Não Vá” (1986) – atribuída originalmente a Sandra e Mirna
- Fafá de Belém, “Erê” (1986) – de Anyzette, Michael Sullivan e Paulo Massadas
- Alcione, “Comentários” (1986)
- Sandra de Sá e Michael Sullivan, “Entre Nós” (1986)
- Joanna e Roupa Nova, “Um Sonho a Dois” (1986)
- Fernando Mendes, “Longe e Perto de Você” (1986)
- Sandra de Sá, “Joga Fora” (1986)
- Trem da Alegria, “He-Man” (1986)
- Trem da Alegria, Xuxa e Sylvinho, “Na Casca do Ovo” (1986)
- Fagner, “Deslizes” (1987)
- Alcione, “Estranha Loucura” (1987)
- Rosana, “Custe o Que Custar” (1987)
- Fafá de Belém, “Coisas Mais Loucas” (1987)
- Marquinhos Satã e Alcione, “Por Incrível Que Pareça” (1987)
- Fafá de Belém, “Meu Dilema” (1987) – de Michael Sullivan e Leonardo
- Trem da Alegria, “Thundercats” (1987)
- Xuxa, “Rambo” (1987)
- Xuxa, “Aquecendo (Ginástica)” (1987)
- Mara Maravilha, “Coração na Mão” (1987)
- Xuxa, “Parabéns da Xuxa” (1987)
- Xuxa, “Estrela Guia (Natal)” (1987)
- José Augusto e Renato & Seus Blue Caps, “Amar Você (Segredo do Meu Coração)” (1987)
- Kátia, “Se Eu Ficar sem Você” (1987)
- Simone, “Amei Demais” (1988)
- Wanderléa, “Me Ame ou Me Deixe” (1988)
- José Augusto, “Fui Eu” (1988)
- Sandra de Sá, “Alma Gêmea” (1988)
- Joanna, “Amor Bandido” (1988)
- Sandra de Sá e Billy Paul, “Amanhã” (1988)
- Fafá de Belém, “Gosto” (1988)
- Joanna, “Delícias da Noite Passada” (1988)
- Peninha, “Por Nós Dois” (1988)
- Robby, “Chuva Fina” (1988)
- Xuxa, “Arco-Íris” (1988) – de Michael Sullivan, Paulo Massadas e Ana Penido
- Xuxa, “Brincar de Índio” (1988)
- Trem da Alegria e Xuxa, “Iô-Iô” (1988)
- A Turma do Balão Mágico, “Gira Gira” (1988)
- Xuxa, “Bombom” (1988)
- Angélica, “Coração Encantado” (1989)
- Paquitas, “Sorvetão” (1989)
- Trem da Alegria, “Jaspion – Changeman” (1989)
- Robby, “Vou Te Conquistar” (1989)
- Elson, “Talismã” (1989)
- Fafá de Belém, “Amor Cigano” (1989)
- Fagner, “Desfez de Mim” (1989)
- Joanna, “Quem Viver Verá” (1989)
- Roberto Carlos, “Meu Ciúme” (1990)
- Leandro & Leonardo, “Talismã” (1990)
- Alcione, “Melhores Momentos” (1990)
- José Augusto, “Parece Que Foi Ontem” (1990)
- Yahoo, “Miragem” (1990)
- Dominó, “Nocaute” (1990)
- Xuxa, “Lua de Cristal” (1990)
- Paquitos, “Conquistadores do Futuro” (1990)
- Luan & Vanessa, “Cenas de Ciúme” (1990)
- Mara Maravilha, “Lobo Mau” (91)
- Fafá de Belém, Michael Sullivan e Lia Monteiro, “Dê uma Chance ao Coração” (1991)
- Roberto Carlos, “Pergunte pro Seu Coração” (1991)
- Roberta Miranda, “Galope” (1991)
- Sula Miranda, “Sofro” (1991)
- Rosana, “Todos os Sentidos” (1991)
- Os Trapalhões, “Trapalhadas” (1991)
- Roberto Carlos, “Eu Preciso Desse Amor” (1992)
- Dalvan, “Por Causa de Você” (1992)
- Xuxa, “A Vida É uma Festa” (1992)
- The Fevers, “Nascemos Um para o Outro” (1992)
- Wanderléa, “Preciso Te esquecer” (1992)
- Sandra de Sá, “Nossa História’ (1993)
- Fábio Jr., “Muito Prazer” (1993)
- Joanna, “Água e Vinho” (1993)
- Só pra Contrariar, “Um Dia de Domingo” (1993)
- Só pra Contrariar, “Retratos e Canções” (1993)
- Sarajane, “Silhueta” (1993)
- Roupa Nova, “Raio de Sol” (1994)
- Copacabana Beat, “Depois da Tempestade” (1995) – de Michael Sullivan e Solange Pereira
- Sampa Crew, “Retratos e Canções” (1996)
- Fafá de Belém, “Abandonada” (1996) – de Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle
- Michael Sullivan e Cassiano, “A Lua e Eu” (1997) – de Cassiano e Paulo Zdanowski
- Michael Sullivan, “As Dores do Mundo” (1997) – de Hyldon
- Michael Sullivan, “Eu Preciso Te Esquecer” (1997) – de Mauro Motta e Robson Jorge
- MC Marcinho, “Garota Nota 100 (Te Cuida Meu Bem)” (1998)
- Reginaldo Rossi, “Whisky à Go-Go” (1999)
- Frank Aguiar, “Por Favor Amor (My Life)” (2001) – de Michael Sullivan, Richard Lee e Mark, versão Fábio Marcel
- Babado Novo, “Amor Perfeito” (2001) – de Michael Sullivan, Paulo Massadas, Lincoln Olivetti e Robson Jorge
- Alcione, “Além da Cama” (2001) – de Michael Sullivan e Carlos Colla
- Wando, “Deslizes” (2002)
- Michael Sullivan e Anayle, “My Life” (2003) – de Richard Lee, Michael Sullivan e Mark
- Ivete Sangalo, “Retratos e Canções” (2003)
- Latino, “Amor Perfeito” (2003) – de Michael Sullivan, Paulo Massadas, Lincoln Olivetti e Robson Jorge
- Zezé di Camargo & Luciano, “Fui Eu” (2005)
- Waldonys, “Deslizes” (2005)
- Eliana de Lima, “Abandonada” (2005) – de Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle
- Leonardo, “Me Ame ou Me Deixe” (2006)
- Ivete Sangalo e Carlinhos Brown, “Quanto ao Tempo” (2009) – de Michael Sullivan e Carlinhos Brown
- Nando Reis, “Whisky à Go-Go” (2010)
- Kelly Key, “Certo ou Errado” (2012)
- Zezé di Camargo & Luciano, “Sonho de Amor” (2012)
- Alice Caymmi, “Abandonada” (2013) – de Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle
- Zeca Baleiro, “Chuva Fina” (2013)
- Arnaldo Antunes, “Vou Fazer Você Mulher” (2013) – de Michael Sullivan e Paulo Coelho
- Fernanda Takai, “Fui Eu” (2013)
- Carlinhos Brown, “Whisky a Go Go” (2013)
- Adriana Calcanhotto, “Me Dê Motivo” (2013)
- Criolo, “Me Dê Motivo” (2015)
- Maíra Freitas, “Estranha Loucura” (2015)
- Ivete Sangalo e Criolo, “Um Dia de Domingo” (2015)
- Carlinhos Brown, “Te Amo, Família” (2015) – de Carlinhos Brown e Michael Sullivan
- Carlinhos Brown, “Paraíso Descontaminado” (2015) – de Carlinhos Brown e Michael Sullivan
- Alice Caymmi, “Joga Fora” (2016)
- Michel Teló, “Carrossel de Esperança” (2017)
- Ludmilla, “Lua de Cristal” (2017)
- Buchecha, “Brincar de Índio” (2017)
- Dream Team do Passinho, “Parabéns da Xuxa” (2017)
- MC Guimê e Lexa, “Certo ou Errado” (2017)
- Solange Almeida, “Iô-Iô” (2017)
- Johnny Hooker e Fafá de Belém, “Abandonada” (2021)
- Trenzinho do Sullivan, “Eu Não Largo o Osso” (2023)
- Yahoo e Frejat, “Me Dê Motivo” (2023)
- Matheus Fernandes, “Altas Loucurinhas (Uni Duni Tê)” (2023) – de Michael Sullivan e Paulo Massadas, versão Matheus Fernandes, Balove, Davi Marques, Davi Melo e Jefferson ZN
Nunca entendi porque algumas pessoas rotulam grandes artistas como Antônio Marcos e Odair José de br… ou ca…,seguindo essa escala,Zezé di Camargo e,os outros sertanejos,seriam o quê?
Quanto à dupla de compositores,eles tem a mesma importância radiofônica de Roberto e Erasmo.