Todo repentista é um pensador, no sentido de que tem que improvisar uma resposta ao desafio, enquanto o ouve. Mas Repensista, neologismo que intitula o novo EP do pernambucano Ortinho, está longe de ser uma obviedade e dá o que pensar. Ou repensar.
Artista de veia roqueira profundamente influenciado por elementos da cultura popular do Nordeste profundo, Ortinho disponibilizou hoje um pequeno lote de três canções autorais, produzidas por Rovilson Pascoal (seu parceiro em “De Repente Cássia Eller”). “A minha vida é toda tua/ com você eu sou inteiro”, derrama-se a voz rascante, Caruaru cantando para o mundo, na romântica “Grito de Uma Arara” (Ortinho/ Marco Polo Guimarães).
O ex-Querosene Jacaré evoca a psicodelia nordestina na sonoridade de Repensista, não à toa a parceria com o cantor do Ave Sangria na faixa de abertura. “De Repente Cássia Eller” homenageia a cantora Cássia Eller (1962-2001), num martelo com pegada rock, eco de literatura de cordel que permeia o trio de canções. “Senhora do Amor”, que encerra o EP, é aberta aludindo a um canto sacro, mas logo se transforma em uma canção ao mesmo tempo romântica e dançante, com ares de capoeira, inclusive o refrão-palavra-chave “camará”.
Para garantir a sonoridade urbana-psicodélica-agreste do EP, Ortinho se faz acompanhar de um power trio formidável: Rovilson Pascoal (guitarras e violas), Ricardo Prado (baixo e sanfona) e Guilherme Kastrup (bateria e mpc).
A capa é uma obra de arte à parte: a artista gráfica Noelle Marão mescla elementos psicodélicos a obras de artistas pernambucanos, como a reprodução da escultura Mané Pãozeiro, de Mestre Galdino (1924-1996), e o detalhe de uma obra do artista plástico Derlon.
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Ouça Repensista: