O cantor e compositor Walter de Afogados, o rei do salão - foto: Jozart/ Rec-Beat/ divulgação
O cantor e compositor Walter de Afogados, o rei do salão - foto: Jozart/ Rec-Beat/ divulgação

“Apesar de colher as batatas da terra/ com essa mulher eu vou até pra guerra”, que dirá pro carnaval. Qualquer maranhense lembra do estouro de “Morango do Nordeste”, parceria de Fernando Alves e Walter de Afogados, o bairro recifense de origem por sobrenome artístico, composta em 1987, tendo por musa uma mulher de cabelos vermelhos (daí o título), que estourou em rádios e programas de tevê brasileiros em 1999, na gravação de Lairton e Seus Teclados.

Walter de Afogados foi uma das atrações da noite de abertura do Rec-Beat, que aconteceu ontem (10), no Recife. Antes de sua apresentação, o compositor conversou com exclusividade com FAROFAFÁ. “Primeiramente é um prazer enorme estar participando pela primeira vez desse megafestival, o Rec-Beat, que se tornou um patrimônio histórico do nosso estado de Pernambuco. Quero poder cantar e encantar a todos com um repertório que contém músicas como brega romântico, mambo e muita cumbia, entre outros sucessos. Lembrando que no meu repertório não pode faltar “Morango do Nordeste”, a bola da vez, amor secreto e o raparigueiro, entre outras composições de minha autoria”, disse, destacando a importância da composição na trajetória dele, alcunhado rei do salão.

Sobre “Morango do Nordeste”, ele revela ainda uma curiosidade: “Hoje com 53 anos de carreira e 71 anos de idade, falar do “Morango do Nordeste” é dizer que essa canção me orgulha muito, pois foi ela que me consagrou como cantor e compositor mundialmente. E hoje essa canção é referência no país Timor-Leste, na África. Antes de ser nomeada como “Morango do Nordeste” por Lairton junto com sua gravadora na época, a Gema, a música se chamava “Sonho dos Sonhos”, composição essa de Walter de Afogados e Fernando Alves. Essa música foi lançada pela primeira vez no ano de 1986, no meu primeiro álbum, “Walter de Afogados”.

Se à primeira vista parece deslocado um artista como Walter de Afogados no line up de um festival como o Rec-Beat, foi justamente a aposta no inusitado que consagrou o festival como um dos mais importantes do país, já tendo realizado edições itinerantes em cidades como Salvador/BA e São Paulo/SP. A programação da edição de 2024 tem ainda nomes como Rico Dalasam, Letrux e Ana Frango Elétrico, entre outros – veja a programação completa no instagram @recbeatfestival.

Antonio Gutierrez, o Gutie, idealizador e produtor do Rec-Beat, também falou com exclusividade ao FAROFAFÁ.

A identidade visual da 28ª. edição do Rec-Beat é assinada por Afro’G, jovem artista plástico e grafiteiro recifense, que se inspira no "afromodernismo", uma fusão entre elementos futuristas, a negritude e suas vivências/ Rec-Beat/ divulgação
A identidade visual da 28ª. edição do Rec-Beat é assinada por Afro’G, jovem artista plástico e grafiteiro recifense, que se inspira no “afromodernismo”, uma fusão entre elementos futuristas, a negritude e suas vivências/ Rec-Beat/ divulgação

TRÊS PERGUNTAS PARA ANTONIO GUTIERREZ, O GUTIE

ZEMA RIBEIRO: Recentemente, durante o Porto Musical, no Recife, a Funarte anunciou a retomada da Rede Música Brasil. Qual a importância da iniciativa e quais as suas expectativas?
GUTIE: Acho que a música, como todas as manifestações artísticas, precisa do suporte de políticas públicas para sua sustentação e desenvolvimento. A Rede Música Brasil reacende o otimismo dos agentes da música, bastante abalado nos últimos anos. Como diretor de um festival que existe há quase 30 anos, é alentador saber que vamos poder atuar com o suporte de políticas sólidas e democráticas.

ZR: O Rec-Beat é hoje Patrimônio Imaterial do Recife e consolidou-se como um dos maiores festivais do país, acontecendo em pleno carnaval. Apesar de todo reconhecimento ainda é difícil fazê-lo?
G: É grande a dificuldade, mesmo com todo o reconhecimento. O Rec-Beat é um evento gratuito. A gratuidade torna o festival inclusivo e possibilita uma maior liberdade curatorial, os lados bons da coisa. Também proporciona a um segmento do público acesso a uma programação não óbvia que não seria possível se não fosse a gratuidade. Por outro lado, a gratuidade elimina a possibilidade de recursos oriundos de venda de ingressos, o que torna o festival dependente exclusivamente de patrocinadores e apoiadores e aí reside a maior dificuldade. Nesta edição temos patrocínio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR), apoio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), da Uninassau e de instituições internacionais. Estamos com o projeto aprovado na Lei Rouanet apto para captação, o que nos abre novas possibilidades para o próximo ano.

ZR: O Rec-Beat, através de sua curadoria, propõe e realiza encontros de artistas de diferentes estilos, gerações e geografias. Quais as dores e as delícias deste desafio constante?
G: As delícias estão na garimpagem e descobertas de artistas que podem entrar e surpreender no nosso line up. O Rec-Beat tem, desde sua origem, um olhar periférico, para o que está sendo produzido nas bordas, para o que ainda está “invisível”. Começamos em meio ao mangueBeat, um movimento periférico, abrimos para o Bragafunk, também periférico, programamos tudo que veio do Pará nos últimos vinte anos, os novos da Bahia, quando programamos atrações latino-americanas e africanas, estamos olhando para sons “periféricos” e revelando suas influências no que é produzido no “centro”. Gosto de buscar a origem das coisas, é gratificante promover esse cruzamento de fronteiras, aproximar diferentes regiões e gerações, são as delícias de fazer o festival. As dores estão nas dificuldades de viabilizar o festival financeiramente, conseguir recursos. Invariavelmente, o orçamento  transforma o line up dos sonhos em line up possível, mas acho que mesmo assim sempre conseguimos trazer originalidade e surpresas em nossa programação.

Serviço: o Rec-Beat acontece até 13 de fevereiro (terça-feira), no Cais da Alfândega, Recife/PE, com entrada franca, sempre a partir das 19h.

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