Com apresentações sábado (21 horas) e domingo (20), o espetáculo Paradoxo Hamlet encerra temporada em São Paulo. A peça é fruto de um esforço de duas cabeças pensantes, Daniel Warren e João Paulo Bienemann, que escreveram, dirigiram e atuam como atores e produtores. Quase de forma artesanal, eles se desdobram em personagens que têm de fazer tudo no palco: da iluminação à sonoplastia, da construção do cenário à interpretação das falas.
A dupla faz isso a partir de uma feliz escolha, que é dialogar com uma das peças mais simbólicas de todos os tempos, porém a partir de personagens secundários. Na peça de William Shakespeare, Hamlet contrata atores para encenar o assassinato de seu pai, o rei da Dinamarca, cujo trono foi usurpado por seu tio Cláudio. Warren e Bienemann assumem os papéis desses atores, que para além de serem coadjuvantes representam um mero instrumento para o projeto de vingança do protagonista.
Em cena, a dupla procura desnudar o fazer teatral, ao mesmo tempo em que incorporam os papéis a que se propõem os atores de Hamlet. Cientes do que são, eles se põem a divagar não sobre a clássica formulação shakeperiana “ser ou não ser, eis a questão”, mas sobre o “ser ou parecer ser”. A distinção não é trivial, mas remete ao mundo atual das aparências, das redes sociais, em que a existência parece ter sido rebaixada uma posição em relação ao mundo das aparências.
Paradoxo Hamlet ocorre numa casa na zona oeste de São Paulo, no bairro do Sumaré, onde a seleta plateia é recepcionada com canapés, vinho e água saborizada. O mimo ajuda a quebrar o gelo de a peça ocorrer em um local não-convencional. Nesta casa, funciona o Espaço de Artes Integradadas, um centro cultural independente que procura abrir espaço para trocas no campo das artes e da filosofia. E é de lá, no jardim do imóvel, que Warren e Bienemann iniciam o espetáculo como os personagens de coveiros, também shakesperianos, convidando o público a fazer esse mergulho cênico.