Que Pixinguinha (1897-1973) foi um dos maiores gênios da música brasileira em todos os tempos, não há dúvidas, bastariam “Carinhoso” e “Rosa” para atestar a afirmação. O que ninguém poderia imaginar é que do baú do artista continuam brotando pérolas, 50 anos após seu falecimento.
Em 2017, o cantor Marcelo Vianna, neto de Pixinguinha, e o cavaquinhista Henrique Cazes, pesquisadores, receberam cerca de 50 músicas inéditas de Alfredo da Rocha Vianna Filho, seu nome de batismo, certificadas por pesquisadores do Instituto Moreira Salles (IMS).
Após um trabalho minucioso de Vianna e Cazes (e muitas outras mãos), a obra inédita de Pixinguinha chegou às plataformas de streaming, através do projeto “Pixinguinha Como Nunca” dividida em quatro álbuns: “Pixinguinha Virtuose” (de fevereiro), a abordar a sofisticação de um compositor popular (ele que à época do lançamento de “Carinhoso” foi muito criticado por uma suposta jazzificação da música brasileira, num tempo pré-bossa nova); “Pixinguinha na Roda” (também de fevereiro), que mostra a espontaneidade e genialidade do assim chamado São Pixinga, evocando o clima festivo das rodas de choro; “Pixinguinha Internacional” (de abril), que reúne a obra do compositor fora de seu habitat natural, isto é, compondo em gêneros menos usuais que os comumente ouvidos no lado mais conhecido de sua obra; e o recém-lançado (em julho) “Pixinguinha Canção”.
Este último álbum aprofunda o conceito de “Pixinguinha Como Nunca”: diversos nomes da música brasileira (mais a cantora argentina Cecilia Stanzione) tornaram-se parceiros de Pixinguinha, colocando letras em suas melodias inéditas. O resultado atesta o quão original e atemporal é o eterno batuta.
Mais identificado com o choro, “Pixinguinha Canção” mostra um Pixinguinha muito à vontade em gêneros como o samba (a amaxixada “Poética (Chuvisco na Telha)”, parceria com Arnaldo Antunes interpretada por Leila Pinheiro), o partido alto (“Partido Alto (Fina Locomotiva)”, parceria com João Cavalcanti, interpretada por ele), modinha (“Modinha (A Dor Traz o Presente)”, parceria com Paulinho Moska), tango (“Do Tango ao Amor”, com Cecilia Stanzioni), e até mesmo o forró e o samba rural (no medley “Coração de Mulher/ Amor de Sertaneja/ Caboclo Pizindim”, parceria com Alberto Deodato, Danton Vampré e Henrique Cazes, interpretado por Marcelo Vianna).
Eduardo Gudin é o parceiro de Pixinguinha em “Seu Modo de Olhar”, na voz de Pedro Paulo Malta; Nilze Carvalho canta “Inocência” (parceria de Pixinguinha com Guinga e Paulo Cesar Feital); e Ana Costa “Implorar” (letra de Elisa Lucinda). O maranhense Salgado Maranhão também comparece ao repertório, com a letra de “Ignez”, interpretada por Marcelo Vianna, que também canta “Me Leva, Neném” (letra de Nei Lopes) e “Choro das Recordações” (letra de Oswaldo Gusmão), além de “Hino do Gouveia Copo e Bola”, com letra de Moacyr Luz, cujo clima descontraído encerra “Pixinguinha Canção”.
“Pixinguinha Como Nunca” tem curadoria de Marcelo Vianna, direção musical de Henrique Cazes, arte da capa de Solange Escoteguy e design gráfico de Haroldo Cazes. Pelo álbum desfilam grandes nomes da música instrumental brasileira: Cristóvão Bastos (piano), Dirceu Leite (flauta, clarone, clarinete, flautim e saxofone), Guto Wirtti (contrabaixo), Henrique Cazes (cavaquinho, violão e violão tenor), Hugo Pilger (violoncelo), João Camarero (violão), Luís Filipe de Lima (violão sete cordas), Marcelo Caldi (sanfona), Marcos Suzano (percussão), Marcus Thadeu (percussão), Nair Cândia (coro), Narinha (coro) e Paulino Dias (percussão).
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Ouça “Pixinguinha Canção”: