Coro dos Amantes se define, no material de divulgação da montagem, como um “poema teatral sobre a passagem do tempo”. Primeira peça do português Tiago Rodrigues, ela gira em torno de uma situação-limite, a quase morte de uma mulher, “Ela”, que sofre um ataque de asma e é então levada às pressas para um pronto-socorro. É “Ele” quem corre contra o tempo para salvar sua companheira, dirigindo alucinadamente pela cidade.
Em cartaz no Sesc Pinheiros e com trilha-sonora executada ao vivo pelo pianista Paulo Maron, que confere uma camada extra de dramaticidade ao texto, Raquel Anastásia (“Ela”) e Igor Kovalewski (“Ele”) imprimem, de partida, uma acelerada perspectiva da morte a partir de um jogral, cada um falando a mesma coisa sob a sua ótica. Ambos passam a encarar e enfrentar a situação atípica à sua maneira.
Diante da fragilidade da vida, que escorre pelos nossos dedos a todo momento e nunca nos damos conta, Ela e Ele têm a oportunidade ímpar de rever seus momentos a dois, das pequenas e fúteis às mais importantes e valiosas coisas que conquistaram juntos. E isso a partir de uma ruptura, Ela já perdendo a conexão com a vida terrena, e Ele atônito e impotente sem saber como reagir.
Raquel e Igor formam o casal de amantes que parecem distantes à primeira vista, porque não há cenas que explicitem o antes da situação-limite. Apenas pequenas lembranças dos dois, como sobre o filme (Scarface, de Brian de Palma) que não puderam terminar de ver ou da filha que tiveram. Mas o Coro dos Amantes nos faz ver mesmo o quanto deixamos de dar um abraço, um beijo, uma fala, e que muitas vezes será tarde demais para voltar atrás.
A vida é um sopro, como gostava de repetir o longevo arquiteto Oscar Niemeyer, que viveu 104 anos. A morte próxima, mote da peça Coro dos Amantes, traz a necessária reflexão sobre a finitude da vida, e de como fomos nos afastando das nossas essências e da nossa conexão com a natureza. Ela e Ele queriam ter apenas mais uma chance, e é isso que eles querem ensinar ao público.
Coro dos Amantes é um texto inédito de Tiago Rodrigues, que no dia 30 de março terá um bate-papo com o elenco e o público, em encontro com a participação do professor de literatura Leonardo Gandolfi. A peça foi escrita em 2007 e revisitada pelo autor 13 anos depois.