“10 pedras” mergulha em um Brasil profundo, desconhecido e exuberante

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Mestre Manoel Batazeiro e Mãe Gildete, personagens centrais da "Tenda de São José". Fotos: Acervo Maracá. Divulgação
Mestre Manoel Batazeiro e Mãe Gildete, personagens centrais da “Tenda São José”. Fotos: Acervo Maracá. Divulgação

A partir desta terça-feira (17 de janeiro) a diretora, musicista e pesquisadora Renata Amaral começa a disponibilizar, no canal do Acervo Maracá, no youtube, a websérie “10 pedras”, que em 10 curtas-metragens aborda, através de alguns personagens referenciais, verdadeiros guardiões da diversidade, alguns já falecidos, a riqueza das culturas afro-brasileiras e indígenas. Os episódios serão disponibilizados sempre às 19h.

A websérie, selecionada pelo programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020, é resultado de mais de 30 anos de pesquisas empreendidas pela contrabaixista, que integrou o grupo A Barca, que detém um acervo tão importante quanto os das missões folclóricas de Mário de Andrade ou o da gravadora Discos Marcus Pereira, ajudando também a revelar um Brasil ainda infelizmente pouco conhecido pelo Brasil.

O primeiro curta-metragem da série é “Tenda São José”, com direção, roteiro e montagem de Luiza Fernandes, sobre o terreiro da religião de matriz africana localizado em Pirapemas/MA. O filme se constrói a partir do olhar de Mãe Gildete, Mestra Luizinha, Mestre Manoel Batazeiro e Pai Eduardo Régis, guardiões dos ritos do Terecô, religião afro-brasileira centenária com origem no interior do Maranhão, também conhecido como Umbanda ou Tambor da Mata.

“A Renata tem esse trabalho do Acervo Maracá, que reúne os trabalhos e as captações que ela tem, que ela realizou ao longo desses anos de trabalho. Eu comecei a trabalhar no acervo em 2017. O primeiro trabalho que eu fiz foi no filme, o “Guriatã” [sobre Humberto de Maracanã, também personagem de episódio da websérie], e depois o trabalho de digitalização do acervo, junto com a Ana [Caroline Bittencourt, que assina montagem adicional, créditos e legendas no primeiro episódio] e outras pessoas, e a partir disso, a Renata me chamou para começar a fazer outros filmes, eu já fazia umas edições de outros trabalhos, fiz o “De mais longe já viemos”, ano passado, que mostra como três grupos de matrizes de religiões afro-brasileiras de São Paulo se reinventaram durante a pandemia, e ela me chamou para dirigir este curta sobre a Tenda São José. Eu já tinha tido relação com a Tenda, a partir do Acervo, e em 2021 eu fui com a Renata até Pirapemas, fazer outro trabalho e eu conheci a Luizinha e seu Manoel Batazeiro. Fiz imagens, fiz uma parte da fotografia do documentário e pensei essa concepção da montagem, do roteiro, a partir do material que tinha, tanto do Acervo quanto esse material que eu captei. Essa direção veio a partir de um amadurecimento de minha relação com o Acervo e com a Renata, que é uma pessoa que eu admiro muito, em quem eu me inspiro. Eu fico muito feliz, trabalhar com ela é sempre um grande aprendizado”, afirma Luiza Fernandes, graduada em Comunicação Social (USP) e mestranda em Música, Cultura e Sociedade (Unicamp), que dirige o primeiro episódio da websérie.

“Eu pensei o documentário a partir das imagens do Acervo e das que a gente captou em 2021. Como as doutrinas da Tenda São José são um repertório muito lindo, eu tentei passar o documentário a partir disso. Tem vários momentos, a voz da Luizinha é muito bonita, a voz da Mãe Gildete também é muito bonita, a voz de seu Manoel Batazeiro é muito bonita. Eu tentei costurar o documentário muito a partir dessa questão da musicalidade da Tenda São José e a partir de alguns eixos, falar um pouco dessa questão da mediunidade, da espiritualidade e da relação da música com a encantaria”, continua.

“As entrevistas e depoimentos apresentados nos vídeos, mostram a força criativa e o fazer artístico presente nas comunidades. São melodias, movimentos e ritmos matrizes da nossa cultura urbana, muitas vezes criados em meio a um contexto de conflito e exclusão social”, explica Renata Amaral, idealizadora do projeto.

Ela conheceu a Tenda São José em 1999, durante o projeto Universidade Solidária, com o grupo A Barca. Em 2016 ela produziu o álbum homônimo “Tenda São José”, lançado em cd em 2016, que chega às plataformas de streaming no mesmo dia de lançamento da websérie.

“É um amplo painel da cultura tradicional brasileira hoje, mostrando uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade destas tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo”, afirma Renata Amaral, sobre “10 pedras”.

Os próximos episódios são dedicados a “AváDjejokó – O guardião dos nomes”, uma das principais lideranças Guarani de sua geração, morto em 2011, dirigido pelo artista e pensador guarani Carlos Papá; e “Legba – Senhor dos caminhos”, relacionado ao orixá Exu, que mostra uma cerimônia Vodun, da Coletividade Kpengla, em Abomey, região do antigo reino do Dahomé, no Benin, África Ocidental, dirigido pelo músico Kiko Dinucci, fundador das bandas Metá Metá e Passo Torto, e da produtora Beatriz Dantas, que vão ao ar, respectivamente 24 e 31 de janeiro.

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Assista ao primeiro episódio, “Tenda São José”, da websérie “10 pedras”:

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