O jabuti pode ser de tudo
Depende da imaginação
Pode ser da selva,
Pode ser do mundo cão
Disputa como finalista da 64ª edição do Prêmio Jabuti, no próximo dia 24, no Teatro Municipal de São Paulo, o livro O jabuti não tá nem aí, do cantor, compositor e músico paulista Itamar Assumpção (1949-2003), escrito há 20 anos e só publicado agora pela Caixote Editora, e de onde saiu o trecho acima.
Itamar é amplamente conhecido como cantor e compositor. Deixou mais de 300 músicas, 9 discos e centenas de poemas. Durante 5 anos, durante 1998 e 2003, o artista (pai de Anelis e Serena) desenvolveu uma série de 4 livros para crianças que permaneceu inédita até o ano passado, quando a Caixote publicou os 2 primeiros deles, Homem-bicho, bicho-homem e O jabuti não tá nem aí. Em 2023, a editora pretende publicar os outros dois livros, como desejava Itamar.
O título do livro parece uma ironia com o prêmio que disputa, mas é coincidência, foi extraído de uma frase do livro. O senso de humor de Itamar tinha exatamente essa levada – quando ele assinou com a gravadora Continental, deu o título ao disco pela gravadora de Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava!
“Todos são sobre animais e sobre um jeito tranquilo de levar a vida”, disse Isabel Malzoni, editora da Caixote e responsável pela publicação. “Tenho um orgulho enorme desses livros, de poder concretizar um projeto do Itamar”. O jabuti não tá nem aí tem ilustrações de Dalton Paula, artista cuja linguagem alimenta-se de referências da presença afro-brasileira (e que está com mostras em curso no Masp e na Pinacoteca de São Paulo). Já é um dos 5 finalistas do prêmio literário, um reconhecimento especial.
No dia 24 de novembro, haverá a divulgação dos vencedores do Prêmio Jabuti no Theatro Municipal de São Paulo. O local foi escolhido para comemorar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, cujas apresentações e exposições conceituais foram realizadas no teatro. A cerimônia do Jabuti será fechada para convidados, mas o público poderá assistir ao evento, que terá transmissão ao vivo pelo canal da CBL no Youtube. É o retorno ao formato presencial do prêmio, que teve recorde de inscritos: 4.290 livros, um aumento de 25% em relação a 2021.
No prefácio do livro de Itamar, a filha, Anelis, conta algumas histórias de sua convivência com o pai. “Tínhamos uma pequena plantação de morangos, e o papai, na época dos frutos, chamava minha irmã Serena e eu no quintal e dizia: “Abra a mão e feche os olhos!”. A gente adorava essa brincadeira, porque, às vezes, em vez de um moranguinho doce, ele punha em nossas mãos um tatu ou uma minhoca e pedia pra que sentíssemos primeiro, sem abrir os olhos. E nesse durante, contava por que a minhoca era gelada ou o tatu se enrolava numa bolinha. E, antes que os pudéssemos de novo ver o mundo, ganhávamos um beijinho e, então, o morango vermelho.Não sei se gostava mais do mistério, da história, do beijo ou do morango.”