O documentário Sociedade do Medo, de Adriana L. Dutra, é uma jornada em busca de uma não-resposta. Mas seria possível obter uma solução para um grande mal-estar do século 21? A julgar pelas falas dos especialistas ouvidos no filme, não. Como e por que o medo, um conhecido instrumento de poder, se tornou fabricado e até institucionalizado nas sociedades contemporâneas é o mote para essa viagem da cineasta em busca de compreender o fenômeno.
A riqueza do documentário é a de dar voz a diferentes especialistas, com distintas percepções do mundo. Eles enriquecem o que cada um de nós somos capazes de perceber, mas não necessariamente conceituar. O medo que permeia a sociedade ganhou, ao longo do tempo, diferentes concepções. A visão de uma deputada federal, Talíria Petrone Soares (Psol-RJ), negra e militante de direitos humanos, é muito distinta da cineasta japonesa Yuka Tanaka ou da de um sociólogo norte-americano como Barry Glassner.
São ouvidos ainda os professores David Carrol,Jason Stanley e Tamsin Shaw, os filósofos Francis Wolff e Cyrille Bret, o historiador Marcelo Jasmin, os sociólogos Frank Furedi e Paula Johns, o padre Júlio Lancellotti, o físico Amit Goswami, a vereadora Benny Briolly, a pesquisadora Ivana Bentes e a economista Linda Yueh.
A cineasta Adriana L. Dutra viajou por cidades mundiais como Tóquio, Nova York, Los Angeles, Londres e Paris para fazer registros de como o medo tem sido utilizado para manipulação das massas. Em outras palavras, como diz a jornalista Flavia Oliveira, “se você acha que o outro, por ser diferente, te ameaça, se não enxerga igualdade nas diferenças, nas nuances, você combate, e o medo é um instrumento de combate muito eficiente, especialmente para um grupo que se acomodou no domínio de territórios, de espaços de poder, no controle de corpos”.
Sociedade do Medo instiga o espectador a compreender por que somos tomados pelo pânico e pela insegurança, ainda que eles sejam componentes imobilizadores. E é sintomático que uma aterrorizante pandemia tenha atingido em cheio a produção do documentário, traduzindo como o coronavírus impôs o medo real a um planeta inteiro, e ainda em sua finalização, uma outra ameaça, a guerra da Rússia contra a Ucrânia, se tornou realidade.
O escritor e líder indígena Ailton Krenak, sabiamente, lembra que “se os humanos desaparecerem da Terra, a Terra vai continuar se expressando em amor incondicional. Ela não precisa da gente, (…) a gente não faz falta”, já na tomada final, quando o documentário ainda tenta trazer respostas para solucionar esse problema paradigmático. Coproduzido pela Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil e GNT, o longa-metragem estreia em 20 de outubro.