Cena do filme
Cena do filme "Treze Vidas", na Amazon Prime Video - Foto Divulgação

Treze Vidas é um filme de ficção baseado em um resgate real de 12 meninos e seu treinador de futebol dentro de uma caverna na Tailândia. O mundo se comoveu com o episódio, de 2018, que se arrastou por nove dias, e teve um desfecho positivo – um mergulhador morreu. Mas o diretor Ron Howard, de Apollo 13 (1995), O Grinch (2000) e O Código da Vinci (2006), transformou o extraordinário resgate em um drama arrastado de 2 horas e 27 minutos. Com personagens que jamais saberemos quem são, o drama aposta na narrativa do homem branco salvador da espécie humana – deixando de dizer quem eram os incríveis e resilientes jovens e seu treinador que suportaram na escuridão, no frio e com fome o medo de não saírem vivos daquele simples passeio?

As treze vidas em questão são meninos que num dia qualquer decidiram entrar numa caverna antes de ir a uma festa de aniversário de um deles. Por sorte, seu sábio treinador de futebol decidiu acompanhá-los, mesmo não sendo sua obrigação. Era época do início da temporada das monções, e naquela tarde um dilúvio alagou rapidamente a caverna, impedindo-os de saírem. Eles estavam a quilômetros da entrada da caverna. Tão logo souberam do desaparecimento, familiares e autoridades iniciaram as buscas, mas ninguém sabia onde eles estavam, nem se estavam vivos.

Howard decide “jogar” os meninos para a caverna e deixá-los na escuridão, enquanto foca na imagem do salvador-branco. John Volanthen (Colin Farrel) e Rick Stanton (Viggo Mortensen) são dois britânicos especializados em mergulhos em cavernas que entram na história a pedido do também mergulhador britânico Vern Unsworth (Lewis Fitz-Gerald), que morava na Tailândia. Volanthen e Stanton adentram a caverna e vão além de onde as equipes locais de resgate conseguem chegar. A cena deles encontrando os meninos vivos é reproduzida tal e qual a verdadeira, uma vez que esse registro existe e foi amplamente divulgado na imprensa mundial.

Mas encontrar jovens encolhidos e assustados numa gruta seca, com água potável e um treinador que os ensinou a meditar para não pensar no pior, estava longe de ser o desfecho feliz. Não seria simples resgatar as treze vidas. Muitas crianças não sabiam nadar e poderiam entrar em pânico numa caverna – quem já entrou em uma sabe o quão claustrofóbico é essa sensação. A solução do salvador-branco foi chamar o anestesista australiano Richard “Harry” Harris (Joel Edgerton), que teria a missão de sedar cada menino para que eles fossem tirados da caverna enquanto “dormiam”.

Cena da operação de resgate com moradores tailandeses montando canos para desviar a água do alto de uma montanha, enquanto equipes de resgate tentavam tirar jovens de dentro de uma caverna
Tailandeses ajudam no resgate de 12 meninos e seu treinador numa caverna, em 2018 – Foto Divulgação

Tal como em filmes de suspense como O Destino de Poseidon (1972), Inferno na Torre (1974) e Terremoto (1974), Treze Vidas procura enfatizar as tensas situações envolvidas no resgate, sobretudo nas cenas silenciosas de alguns segundos de mergulho dentro da caverna. Esses momentos salvam o filme. Também destaca o envolvimento da comunidade que tentava, de várias formas, expulsar a água com bombas do lado de dentro e improvisados canos no alto da montanha, evitando que as chuvas torrenciais inundassem por completo o abrigo dos meninos e seu treinador. Mas ao centrar a narrativa na operação de resgate, o diretor deixou escapar o drama humano dos personagens.

A caverna de Tham Luang, na Tailândia, é hoje aberta ao público, e se tornou um ponto de visitação, embora não seja permitida chegar até o ponto onde se protegeram os garotos e o treinador.

Treze Vidas. De Ron Howard. Reino Unido, 2022, 132 minutos. Na Amazon Prime Video.
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