A cinebiografia Elvis, de Baz Luhrmann, encaixa-se na categoria de filmes odiados pela crítica e amados pelo público. É difícil não se convencer pelos argumentos de superficialidade, imprecisão histórica, tentativa de edulcorar a biografia do rock star e desleixo para com o conjunto da obra musical de Elvis Presley. Mas como explicar as lágrimas que vertem do público que começou a ver o filme no fim de semana, as várias músicas cantaroladas durante as cenas musicais ou as famílias inteiras que se uniram para ir às salas de cinema?

Elvis coloca seu herói como o personagem branco que cresceu ouvindo e respeitando a música negra, do blues ao gospel, prodigioso e uma milionária cifra por trás do mito que se criou em torno dele. O ritmo do filme segue como o de um teaser ou trailer cinematográfico, com inúmeras sobreposições de histórias contadas rapidamente, tudo para dar conta das quatro décadas em que Elvis Presley marcou presença entre nós. Se é verdade que os principais eventos da vida do roqueiro estão presentes tanto no filme quanto na Wikipedia, é preciso dizer que a imagem que se cria do ídolo entre as gerações mais novas não passa de um nome perdido no tempo e no espaço. Dar uma sobrevida à lenda, parece ser esse o objetivo de Luhrmann com sua cinebiografia.

Austin Butler interpreta Elvis com competência e esforço para entregar mais do que o roteiro lhe permite. As partes dramáticas são poucas na tela, mas foram intensas na vida real do rei do rock. A escolha do diretor foi por entregar mais performances que construíram a imagem do mito, da formação, ascensão e (um pouco da) queda. Sabe-se, por exemplo, que Elvis, em momentos adversos, gostava de se refugiar em bares frequentados pela comunidade negra, onde podia encontrar B.B. King (Kelvin Harrison Jr.), Sister Rosetta Tharpe (Yola), Big Mama Thorton (Shonka Dukureh) e até um nascente Little Richard (Alton Mason) cantando pela primeira vez Tutti Frutti.

Cena do filme "Elvis"
Cena do filme “Elvis” – Foto: Divulgação

Recontar uma história que supostamente todos deveriam conhecer exige algo mais do que seguir a trajetória do cantor, músico e ator. A opção de Luhrmann foi entregar a narrativa à voz de Coronel Tom Parker, interpretado por Tom Hanks, que rouba a cena. O relacionamento com o controverso empresário, que advoga para si o papel de mentor de Elvis, quando alguns afirma que ele foi o responsável pela morte do ídolo, imprime ao filme um jeito diferenciado de se olhar o personagem central a partir de outro ângulo. O Coronel é um ser ganancioso, capaz de manipular não só os passos, mas também os sentimentos do ídolo, os pais de Elvis, o que acaba por secundarizar quem foi, afinal, o Rei do Rock.

O empresário teria sido responsável por tornar o cantor um produto mais palatável à sociedade, seja  orientando-o para requebrar menos para fugir da pecha de Elvis The Pelvis, seja para afastá-lo até de sua família ou impedi-lo de viajar para o exterior, numa tentativa de resgatá-lo do marasmo criativo. E são os momentos mais tensos, como quando Elvis e o Coronel Tom Parker se desentendem para um especial de Natal, que elevam a tensão dramática do filme.

A não-valorização do repertório do cantor, quase como se as músicas caíssem acidentalmente em seu colo, chama a atenção. Por que o diretor Luhrmann escolheu algumas canções e deixou outras tantas de fora? Não é difícil imaginar que uma cinebiografia de Elvis que almejasse ser mais completa teria de se tornar uma série com mais de uma temporada. Mas essa lacuna também é perceptível ao tentar expor, na maior parte do tempo, um personagem sempre jovial, tocando superficialmente nas questões mais delicadas e polêmicas de sua vida, como, por exemplo, seu apetite por comida, sexo e drogas. Essas escolhas cobram seu preço. Elvis teria sido mesmo um cidadão de viés democrático, ao ser retratado no filme como alguém sensível aos assassinatos de Martin Luther King e Robert F. Kennedy? Mas e seu conhecido encontro com Richard Nixon, que fez da Casa Branca um quartel-general de combate a comunistas?

Elvis, por fim, entrega uma história sensível e relativamente nova, ainda que fique na superfície das grandes questões. No TikTok, o filme tem sido “cancelado” por dois motivos principais: o Rei do Rock não passaria de um usurpador da música negra e por ele ter se casado com Priscila Presley quando ela era ainda adolescente e ele prestava serviços militares na Alemanha. O filme, que foi ovacionado por 12 minutos em sua estreia no Festival de Cannes, estreou em 26 de junho nos Estados Unidos e arrecadou mais de 30 milhões de dólares. No mundo total, já superam os 170 milhões de dólares, mais que o dobro de seu orçamento para suas filmagens.

Elvis. De Baz Luhrmann. Estados Unidos, 2022, 159 minutos.

 

(Leia mais sobre Elvis aqui.)

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6 COMENTÁRIOS

  1. Apenas fazendo uma correção: Elvis conheceu Priscilla quando ela tinha 14 anos, mas o casamento aconteceu 8 anos depois, quando Priscilla tinha 22 anos. O namoro entre eles foi autorizado pelos pais dela e era uma coisa bastante comum naquela época as garotas namorarem e até casarem bem jovens.

  2. Elvis e Priscila só se casaram quando ela tina 22 anos. “Drogas” usadas por Elvis na verdade eram remédios em excesso passados por seu médico. Como contar a história de Elvis em um filme com menos de três horas?

  3. Não tem como falar de Elvis em um filme, teria de ser uma série. No livro Eu Priscilla Presley ela conta sobre um homem, carinhoso e muito respeitador. Não adianta tentarem derrubar Elvis Presley, eles sempre será o Rei. Vai assistir o filme é muito bom e emocionante!

  4. Não entendi o que tem de errado em combater Petistas e comunistas não valem nada mesmo…que comentário infeliz e fax4istas de vcs…cancelado palhaco

  5. A pouca semelhança de Austin Butler com Elvis, apesar de todo o esforço do ator, prejudicou enormemente o filme. O filme realmente é um espetáculo, considerando os exageros estilísticos do diretor, mas em pouquíssimos momentos se tem a sensação de que Elvis está ali. É uma pena, ainda estão nos devendo um filme à altura do Rei do Rock.

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