“Au Revoir”, a conhecida despedida em francês, é uma das primeiras palavras de Pequena Mamãe, filme francês da diretora Céline Sciamma, em cartaz nos cinemas brasileiros. Na tela, uma menina de 8 anos, de cabelos longos e loiros, profere a expressão repetidas vezes após entrar nos quartos de uma casa de repouso e encontrar senhoras sentadas nas cadeiras de seus respectivos dormitórios. Até que a menina adentra o último quarto e encontra uma mulher de costas para a porta, guardando itens dispostos pelos móveis. Nesse momento, descobrimos que o longa é uma história de despedida e talvez “adeus” seja uma das palavras que melhor a descreve.
Após perder a avó materna, Nelly (Joséphine Sanz) conhece a casa de infância de sua mãe, Marion (Nina Meurisse). Ao ajudar os pais na limpeza do espaço, a garota explora os arredores e os itens antigos presentes da residência. Nelly pede à mãe para lhe apresentar a cabana no bosque que Marion construiu na infância e que ela tanto ouviu falar. Mas a mãe, alegando estar ocupada, recusa o pedido.
No dia seguinte, a mãe deixa a filha e o marido (Stéphane Varupenne) na casa antiga, sem detalhes sobre onde iria. Ao passear no bosque próximo à casa, Nelly avista uma menina arrastando um grande galho entre as árvores. Ela a ajuda e descobre duas coisas: que a garota está construindo uma cabana e que seu nome é Marion (Gabrielle Sanz), como a mãe. Joséphine e Gabrielle são irmãs gêmeas fora das telas, o que acrescenta profundidade à conexão de suas personagens.
Por meio da mãe Marion, Pequena Mamãe expõe como lembrar pode ser um processo doloroso. Mas mostra, por meio de Nelly, a importância de reviver memórias e criar novas. Céline Sciamma, que também é roteirista do longa, faz essa partilha para além da narrativa. Para desenvolver o cenário da casa na qual se passa grande parte da trama, a cineasta usou elementos das residências das suas avós. Mesmo tendo como base casas francesas, é possível identificar peças comuns de casas de avós brasileiras como a pintura que foi feita em volta do móvel da cozinha ou o armário do corredor repleto de caixas, potes e brinquedos antigos.
Lançando mão de cenas com câmera parada, planos longos e pausas entre diálogos, o filme dá espaço para o espectador absorver cada momento disposto em cena e tem duração suficiente para que o ritmo do filme não se torne cansativo. Pequena Mamãe é, afinal, uma produção intimista e sincera no que se propõe.