Hoje (11) completam-se 200 anos do nascimento da maranhense, abolicionista e pioneira; livro de Andréa Oliveira, ilustrado por Mônica Barbosa, ajuda a despertar interesse de crianças e adolescentes pela vida e obra da escritora e compositora
Neste 11 de março celebra-se o bicentenário da escritora e compositora Maria Firmina dos Reis, abolicionista que, como muitos artistas brasileiros, faleceu esquecida. Nascida na capital maranhense em 11 de março de 1822, mudou-se aos cinco anos para Guimarães, berço do sotaque de zabumba do bumba meu boi maranhense, a autora de “Úrsula” faleceu aos 95 anos, em 11 de novembro de 1917.
Pioneira em várias frentes, foi a primeira professora maranhense aprovada num concurso público, tendo que vencer todo tipo de preconceito. Quando publicou “Úrsula”, por exemplo, usou o pseudônimo “Uma maranhense”, para vencer o racismo e a misoginia vigentes na época – e ainda hoje, infelizmente. O livro é considerado o primeiro romance abolicionista publicado no Brasil e o primeiro escrito por uma pessoa negra no país.
A obra de Maria Firmina dos Reis voltou a despertar interesse a partir da década de 1960, quando um exemplar de “Úrsula” foi encontrado em um sebo. De lá para cá a autora “vem sendo estudada e reconhecida como uma das pioneiras da luta antirracista no Brasil”. As aspas são do texto de “Maria Firmina, a menina abolicionista” (Palavra Acesa, 2022, 82 p., R$50,00), que a jornalista e escritora Andréa Oliveira lança hoje (11), às 18h, na Sala Sesc de Exposições (Av. dos Holandeses, em frente ao Ibis Hotel). O livro foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, com apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) e Sesc/Fecomércio/Senac.
Todas as homenagens a Maria Firmina dos Reis são importantes. Também hoje, por exemplo, acontece o lançamento da biografia “Maria Firmina dos Reis e o cotidiano da escravidão no Brasil”, de Agenor Gomes; a sessão de autógrafos será às 17h, na Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA, Av. Dep. Luís Eduardo Magalhães, 20, Calhau). O historiador e roteirista Iramir Araújo está finalizando uma adaptação de “Úrsula” aos quadrinhos, com toques biográficos da autora, a partir da pesquisa de Nascimento Moraes Filho, ilustrada por Rom Freire e Ronilson Freire, com previsão de lançamento para o mês que vem, somando-se às comemorações de seu bicentenário.
O livro de Andréa Oliveira anuncia o início da série Meninas do Maranhão, em que pretende “contar a história de muitas outras meninas maranhenses que foram além do lugar pequeno que o mundo queria para elas”, “sempre na companhia de outras mulheres, nas ilustrações, no projeto gráfico, na revisão e em todas as atividades necessárias à realização de um livro”. Em “Maria Firmina, a menina abolicionista”, ela está acompanhada de Mônica Barbosa, Tay Oliveira e Eulália Oliveira, respectivamente, nas funções citadas.
A contribuição de Andréa Oliveira é inestimável e confunde-se com a da própria homenageada. “Maria Firmina dos Reis, em seus 95 anos de vida, nunca deixou de ser a menina que lutava pela liberdade para todas as pessoas, e para isso usou a ferramenta mais poderosa que recebeu ao nascer: a sua inteligência. Nos livros e jornais usava a linguagem culta dos mais letrados; para a sua gente, que não teve os mesmos direitos à educação, sua expressão era simples. Em tudo o que criou há beleza, melodia, sonho, magia e, mesmo no meio de muita tristeza, em suas palavras deixou impressas grandes esperanças por um mundo melhor e mais justo”, diz o texto da página 70 do livro.
É o que faz a autora: a seu texto leve, ao mesmo tempo em que recheado de informações fruto de séria e profunda pesquisa, movida pela paixão da jornalista pela abolicionista e sua obra, alia caprichadas e fartas ilustrações, num resultado que certamente chamará a atenção de crianças (mas não só) para o universo de Maria Firmina dos Reis, autora de uma das quadras mais conhecidas do repertório da cultura popular do Maranhão: “senhora dona da casa,/ eu também sou fumador,/ mas a ponta que eu trazia/ caiu n’água e se molhou”, que o compositor Ronald Pinheiro usou em “Mimoso” (sem o devido crédito à autora), gravada por Alcione, Cláudio Nucci e Papete, entre outros.
Não é a primeira vez que Andréa se aventura pela literatura infantil: em 2017 ela publicou “João, o menino cantador” (Pitomba!), em que conta a infância do compositor João do Vale para crianças; o artista, negro como Maria Firmina dos Reis, também foi tema de sua monografia de conclusão do curso de Comunicação Social (UFMA), posteriormente transformada em livro (esgotado, há tempos merecendo uma reedição): “João do Vale, mais coragem do que homem” (1998); publicou ainda “Nome aos bois – tragédia e comédia no bumba meu boi do Maranhão” (2003).
Agora é apreciar este “Maria Firmina, a menina abolicionista” e esperar a chegada das outras Meninas do Maranhão.