O prometido e tão esperado retorno das atividades culturais se converteu em um mega-adiamento. De Norte a Sul, das capitais aos interiores, da música ao teatro, e não só no Brasil, mas em várias outras partes do mundo, os eventos presenciais estão sendo adiados. Culpem os vírus Sars-CoV-2 e influenza. Artistas estão testando positivo e atrações previstas para os próximos dias foram postergados, muitas delas para datas incertas e até para o ano que vem.
Tudo estava pronto para o festival Universo Spanta, que ocorreria de 14 a 28 de janeiro na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Já estavam escalados Ney Matogrosso, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Alok, Planet Hemp, Djonga, Pabllo Vittar e Mano Brown, algumas das 150 atrações em três palcos. O #OVerãoDeNossasVidas se converteu, a contragosto, em #UmVerãoSemFim. “Seguiremos, desde hoje, o nosso trabalho com doses fortes de esperança, amor e dedicação para que em 2023 possamos, juntxs, tomar um porre de felicidade”, anunciou o comunicado oficial de adiamento.
O cantor e compositor Lulu Santos tinha agendado uma turnê que passaria pelo Espaço das Américas, em São Paulo, QualiStage, no Rio, Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e na Concha Acústica, em Salvador. Todos foram adiados na segunda-feira (10). Ele participou de um show em Punta del Este, no dia 28 de dezembro, e da festa de réveillon no Corcovado. “Foram dois shows e quatro voos para cada um de nós, o que resultou em oito integrantes de nosso elenco e equipe que testaram positivo para a Covid-19”, declarou em seu Instagram. O show de abertura no Universo Spanta, no dia 6 de janeiro, foi cancelado. “A gente acha irresponsável convidá-los para estarem em um ambiente fechado, aglomerados, onde todos na melhor das hipótese, cantam, dançam e suam e potencialmente infectam ou são infectados.”
A onda de adiamentos não é uma ação dos governantes, que a essa altura da pandemia lavaram as mãos para as medidas de isolamento social. São as próprias produções culturais que estão reavaliando as novas e crescentes ondas de contaminação por coronavírus e influenza. O repórter Henrique Santiago traduziu, no perfil do Cine Joia, o sentimento de que não é hora de aglomerar: “Por favor, adiem o show da Alcione ou devolvam o dinheiro de quem não se sente seguro para ir! É o mínimo nesse momento.” Dois dias depois, a casa de shows em São Paulo adiava mais esse evento, remarcando-a para 14 de abril. A cantora Marina Sena também teve seu show adiado, previsto para 8 e 9 de janeiro no Cine Joia.
Peças teatrais, que costumam começar na segunda semana do ano, tiveram estreias adiadas. O Grupo Magiluth iniciaria temporada no Sesc Ipiranga com o espetáculo Estudo nº1: Morte e Vida, baseado na obra de João Cabral de Melo Neto, nesta sexta-feira (14). Mas um integrante da equipe testou positivo para a Covid-19. A peça Chroma Key, com dramaturgia de Angela Ribeiro e direção de Eliana Monteiro, também foi adiado pelo mesmo motivo no Sesc Avenida Paulista. Com os Bolsos Cheios de Pão, de Matei Visniec, realizou ensaios abertos no último fim de semana, e adiou a estreia prevista para 14 de janeiro. Casos de influenza na equipe do musical As Cangaceiras, de Newton Moreno, fizeram a retomada do espetáculo ser adiada por uma semana, agora previsto para 21 de janeiro, no Tuca, em São Paulo.
A maioria dos carnavais pelo Brasil já foi adiada, mas os shows e espetáculos ao ar livre ou em espaços fechados continuam permitidos. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) empurrou para os prefeitos a decisão de limitar a realização dos grandes eventos, sugerindo reduzir em 30% a lotação máxima. O estado de Pernambuco reduziu pela metade a lotação dos locais, limitando ainda a mil pessoas em locais fechados e a 3 mil em espaços abertos. Os festivais Olinda Beer, previsto para 20 de fevereiro, e Cavalheira na Ladeira, de 26 de fevereiro a 1º de março, também foram cancelados. O Ceará restringiu os eventos em locais fechados para 250 pessoas e a 500 em abertos, inviabilizando os grandes shows.
A variante ômicron fez o número de internações em enfermarias e UTIs saltarem no início deste ano. As média móveis de pacientes internados com Covid-19 voltaram a crescer, indicando um cenário de alta e interrompendo uma tendência de seis meses de queda. O mercado de produções culturais entrou em tilt após a série de adiamentos e cancelamentos, mas a incerteza sobre a pandemia tem falado mais alto. Nos Estados Unidos, o Grammy Awards, que já havia sido agendado para o fim de janeiro, decidiram adiar o evento para uma data ainda incerta. A maior premiação da música norte-americana, decidiram adiar a cerimônia por causa da alta de casos de Covid-19 naquele país.