O ex-secretário de Cultura Mário Frias com o atual diretor presidente da Ancine, Alex Braga Muniz

A Ancine divulgou nesta manhã de terça-feira, 14, no Diário Oficial da União (DOU), a forma como pretende destinar 178 milhões de reais em chamadas públicas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) nos próximos meses. A novidade do pacote é a afinação com o ideário olavista-bolsonarista, com a inclusão de recursos polpudos para duas áreas que são consideradas cruciais pelo atual governo: Belas Artes e Jogos Eletrônicos.

Serão destinados 10 milhões de reais para a área de Jogos Eletrônicos e 5,4 milhões de reais para a de Belas Artes (mais do que o destinado a Patrimônio Cultural, que terá 4,8 milhões). Belas Artes é um conceito academicista do século 18, superado e com fetiche pela contemplação do “belo”.

Quanto aos games, considerando-se a reserva de 4,6 milhões de reais para o insondável projeto mariofriista Casinha Games (que desapareceu misteriosamente desde que foi denunciado pelo FAROFAFÁ), e mais 10 milhões de apoio direto do Ministério do Turismo para as secretarias estaduais, a área de Jogos Eletrônicos já tem recursos dignos do Pentágono norte-americano (com a ressalva de que já é um setor bem-sucedido comercialmente). É uma área na qual o filho mais novo do presidente Bolsonaro, Jair Renan, tem negócios.

As produções audiovisuais destinadas às comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil receberão um aporte de 30 milhões de reais. A produção de TV para VoD (Video por Demanda, cuja regulação vem sendo escamoteada pelo governo há dois anos) receberá estímulo de 115 milhões de reais. Curioso é que os novos projetos para cinema receberão apenas 85 milhões de reais.

Ao mesmo tempo em que investe pesadamente contra o que considera inimigos do governo, com atos de censura econômica e burocrática (um novo sistema de fustigar adversários políticos), a Ancine também busca se afinar com os discursos bolsonaristas de enfatizar o valor propagandístico de certo tipo de arte relacionada ao patriotismo, à supremacia cultural e ao heroísmo bélico (pontos caros ao discurso do Terceiro Reich, na Alemanha nazista). O engraçado é que a cúpula da cultura que conduz esse plano é semiletrada, escreve “chícara” e “assesso à cultura”, e desconhece profundamente todos os processos históricos da cultura brasileira. Estão num patamar de pré-coerência, mas são bastante agressivos.

A forma como o bolsonarismo impõe sua agenda no audiovisual está sendo facilitada por dois fatores: a adesão incondicional de servidores públicos em cargos diretivos e o aparelhamento puro e simples. Na semana passada, Jair Bolsonaro indiciou para sabatinas no Senado o número 2 de Mário Frias, Helio Ferraz de Oliveira, para um cargo de diretor da Ancine, e o braço direito do general Walter Braga Netto para o cargo de Ouvidor-Geral da Ancine. O primeiro terá mandato de 5 anos a partir de junho de 2022, e o Ouvidor ficará 3 anos na função.

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