‘A Última Floresta’ é uma obra de reconhecimento

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Cena de indígenas Yanomami em 'A Última Floresta'
Cena de indígenas Yanomami em 'A Última Floresta' - Foto: Pedro J Márquez

Se fosse um filme de ficção, ‘A Última Floresta’ representaria uma potente mensagem poética dos e para os indígenas. Já se fosse um documentário, ninguém questionaria que se trata de um urgente alerta contra o extermínio dos povos originários da Amazônia. Luiz Bolognesi, diretor desse longa vencedor do prêmio do público na mostra Panorama no 71º Festival de Berlim, produziu uma obra que flerta com esses dois gêneros, a ficção e o documentário, mas cujo resultado transcende a linguagem cinematográfica e, esperançosamente, atingirá universos desconhecidos.

O filme é um mergulho etnográfico sobre o povo Yanomami. Quem conduz essa jornada é o xamã Davi Kopenawa Yanomami, que ajudou Bolognesi a roteririzar ‘A Última Floresta’. Uma das maiores lideranças indígenas vivas do Brasil, Davi Kopenawa é detentor de uma rara sabedoria que ele faz questão de transmitir para as novas gerações. Ele sabe que o seu povo está novamente ameaçado, com o garimpo ilegal já dentro de suas terras tentando roubar o “ouro do sangue Yanomami“, como ele mesmo define. Mas, sábio que é, ele entende que essas ameaças exteriores contaminam também gente de seu povo. É por isso que se faz necessário ensinar as tradições e os costumes, respeitando os espíritos da floresta.

‘A Última Floresta’ embute lições preciosas para o povo Yanomami para quem esta obra parece primeiro se dirigir. Não é raro na cinematografia encontrar filmes, ficcionais ou mesmo documentários, em que a leitura dos não indígenas se sobrepunham à realidade. Toda a cosmologia indígena, nessas ocasiões, são ignoradas ou fantasiadas a ponto de se tornarem folclóricas. Davi Kopenawa e Bolognesi fogem dessa armadilha, porque a eles interessam contar uma história que faça sentido aos indígenas. O xamã é o narrador da história, com seu jeito sereno e centrado de explicar o que se passa em torno de sua aldeia, Watoriki, na região do rio Demini, em Barcelos (AM).

Davi Kopenawa Yanomami, que protagoniza 'A Última Floresta'
Davi Kopenawa, que protagoniza ‘A Última Floresta’ – Foto: Pedro J Márquez

“As mercadorias deles podem enfeitiçar a gente. Eles parecem bons, querem ajudar. Mas quando você fica sozinho, ninguém se importa com você, e você passa fome. Tem fome e não tem o que caçar. Não te dão um lugar para dormir. Somente na nossa floresta você pode dormir em paz”, ensina a um jovem Yanomami que sinaliza estar se aproximando dos garimpeiros invasores. Para não ficar apenas no pito, Davi Kopenawa resgata a origem de seu povo, que começa quando o criador Omama pesca com um cipó Thuëyoma, um peixe em forma de mulher, e se casa com ela.

Não há didatismo, nem concessões feitas no roteiro para as transições dos trechos fictícios e os documentais. Em um momento, um marido de uma jovem Yanomami desaparece nas águas e ela busca ajuda dos pajés para encontrá-lo. Em outro, Davi Kopenawa e outros Yanomami participam de um ritual de rapé e pode-se ver o xamã incorporando outro espírito. Tudo é real, respeitando a cosmologia dos indígenas. A equipe de Bolognesi (que antes dirigiu Ex-Pajé) permaneceu na comunidade quatro semanas, em junho de 2018, buscando compreender quem são os Yanomami. Ao final, ‘A Última Floresta’ resulta numa obra de reconhecimento difícil de ser retratada no cinema.

O filme faz uma pré-estreia nesta quinta-feira (2), ficando disponível das 19 às 23 horas, no Itaú Cultural Play. Mas, na semana que vem, entra em cartaz no circuito comercial, após uma longa e adiada espera por conta da pandemia. ‘A Última Floresta’ tem abocanhado prêmios em diversos países e estados.

A Última Floresta. De Luiz Bolognesi. No Itaú Cultural Play, nesta quinta-feira (2), das 19 às 23 horas, e a partir de 9 de setembro no circuito comercial.

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