Ronald Reagan e Frank Sinatra (com Rosalind Russell), que foram amigos de longa data

A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) contratou a apresentação de um ator e cantor carioca, Raul Veiga, para fazer um pocket show cantando o repertório de Frank Sinatra na abertura da exposição “Margareth Thatcher e Ronald Reagan: Pensamento e Poder nos anos de Guerra Fria”. Não há uma data anunciada para a mostra (nem um custo), mas ela tem sido alardeada triunfalmente pela atual presidente da fundação, Letícia Dorneles, desde janeiro de 2020. O cachê do cantor é de R$ 3 mil e não houve edital nem licitação.

Margareth Thatcher (1925-2013), primeira ministra britânica entre 1979 e 1990, formou a mais duradoura aliança conservadora da política mundial, no mesmo período, com o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan (1911-2004). Ambos os líderes expressavam a determinação de combater o comunismo, fazer o elogio do livre mercado e promover valores conservadores. Frank Sinatra (1915-1998) foi amigo pessoal de Reagan, assim como apoiador de suas políticas. Também foi ligado à Máfia, segundo seus biógrafos.

Tradicionalmente devotada ao apoio à pesquisa e ao ensino da cultura brasileira, a FCRB tem 97 anos de existência e trata, pela primeira vez em sua história, de um tema, além de extemporâneo, totalmente alheio às suas funções. Sem falar no descompasso histórico: o governo Reagan se caracterizou por um grande aumento da dívida pública (que subiu de 26% do PIB, US$ 712 bilhões em 1980, para 41% em 1988, US$ 2,052 trilhões). O Thatcherismo, a doutrina de Margareth Thatcher, foi caracterizado por desemprego acentuado, repressão sindical e por uma tragédia histórica, a Guerra das Malvinas.

A FCRB foi tomada de assalto pelo bolsonarismo logo no início da gestão de Jair Bolsonaro e sucateada como instituição de referência. A presidente é a ex-roteirista de TV olavista Letícia Dorneles, sem qualificação acadêmica e cuja maior façanha intelectual na carreira foi a publicação de um livro chamado “Como Enlouquecer em Dez Lições”). Um dos seus primeiros atos foi perseguir a equipe de pesquisadores da fundação – intelectuais do porte do cientista político Charles Gomes, da ensaísta Flora Sussekind, da jornalista Jöelle Rouchou, do sociólogo e escritor José Almino de Alencar e Antonio Herculano Lopes, diretor do centro de pesquisa da fundação.

No ano passado, preocupados com os rumos da instituição, 150 brasilianistas de universidades como Harvard, Princeton, Columbia, New York University, Georgetown, Stanford e Berkeley divulgaram um documento reivindicando a suspensão das medidas que Letícia Dornelles adotou na Casa de Rui Barbosa. Não adiantou nada: o desmonte continuou em ritmo acelerado. Já houve mobilizações de todo tipo, desde protestos na porta da fundação até abaixo-assinado com mais de 2 mil assinaturas de jornalistas, escritores, músicos e artistas diversos, como Caetano Veloso, Silvia Buarque, Lucia Murat, Paulo Beti, Francis Hime, Sérgio Sant’Anna, Jorge Salomão, entre outros.

Há alguns dias, o Ministério Público Federal (MPF) iniciou uma investigação para apurar denúncia de improbidade administrativa contra Letícia Dorneles feita pela associação de servidores – a presidenta da fundação, sem um plano de trabalho, ocupa-se em distribuir honrarias para pessoas de sua predileção, sem comprovação de serviços prestados à valorização da cultura.

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