Marighella. Frame. Reprodução
Cena do filme Marighella

Por unanimidade, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Cinema, em reunião na manhã deste dia 17 de fevereiro, quinta-feira, negou mais uma vez a opção de investimento na comercialização do filme Marighella, de Wagner Moura, uma das maiores bilheterias do cinema brasileiro durante a pandemia de Covid-19. O filme foi o mais visto nas salas de cinema do País no ano passado, um total de 325 mil espectadores.

A decisão, que não aponta motivos técnicos, reafirma o ímpeto censório da Ancine para com o diretor Wagner Moura, considerado desafeto pessoal pelo presidente Jair Bolsonaro. O secretário Especial de Cultura de Bolsonaro, Mario Frias, chegou a admitir publicamente a censura ao filme – o que não foi negado pela diretoria da Ancine.

O ressarcimento de despesas da produção com a comercialização é um direito legal de todo produtor de cinema do País. A diretoria colegiada anotou em sua decisão que “tomou conhecimento da oferta ao direito de opção de investimento na comercialização da obra, afastando eventuais sanções administrativas e contratuais, e decidiu, por unanimidade, pelo não exercício do referido direito”.

A saga de Marighella dentro da estrutura burocrática do Estado brasileiro já se arrasta há três anos. Em agosto do ano passado, após enrolar durante dois anos, a Ancine, alegando “desistência do proponente” (fato negado pelos produtores), usou uma manobra para fustigar a produtora. A agência informou que, logo após a desistência, aceitou um pedido de priorização de análise pela produtora O2 Cinema para encaminhar um novo processo para o agente financeiro. Na prática, era como se pegasse um processo de dois anos e o colocasse de novo no fim da fila. Em nota oficial distribuída no dia 13 de agosto, após a repercussão da suposta desistência, a agência já informava que não tinha obrigação de investir recursos em comercialização. Para uma agência de fomento, tendo à sua frente um filme com o potencial de Marighella, era no mínimo um absurdo.

A Ancine, encabeçada por Alex Braga Muniz há quatro anos, tratou Marighella com novas artimanhas de censura, estratégia que vem adotando para todos os “adversários” do regime bolsonarista. No caso, joga o filme num labirinto burocrático para protelar ações efetivas e torce para que a imprensa esqueça o caso ou minimize sua gravidade.

O primeiro pretexto que a Ancine usou para retardar a entrada de Marighella nas telas foi segurar a prestação de contas de um documentário da mesma produtora, O Sentido da Vida. O documentário perdeu o prazo para ser concluído e a agência cobrava a devolução dos recursos empregados neste filme. FAROFAFÁ obteve cópia de correspondência do BRDE na qual o setor jurídico daquele banco advertia a Ancine de que a prorrogação de prazos era um expediente corriqueiro e vinha sido concedida a diversas outras produtoras.

Tudo que se refere à produção Marighella tem tido tratamento excepcional na Ancine, diferentemente de outras produções, o que já atesta o uterino relacionamento de sua diretoria com o governo. No caso do documentário O Sentido da Vida, a agência fez de um mero atraso (deslize que geralmente gera uma simples advertência) um nó burocrático irresolúvel.

 

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