Após a intensa repercussão negativa de alcance internacional, o governo Bolsonaro tirou o Palácio Gustavo Capanema do Feirão de Imóveis que pretende leiloar no Rio de Janeiro, mas colocou no lugar a atual sede da Agência Nacional de Cinema (Ancine) na Avenida Graça Aranha, 35. O edifício é um dos 133 imóveis pertencentes ao INSS que foram colocados à venda pelo Ministério da Economia (e outros 35 da Secretaria do Patrimônio da União, a SPU). Na próxima segunda-feira, em reunião da diretoria colegiada, a agência define sua mudança do Rio de Janeiro para Brasília, mas também já cogitou alugar um “elefante branco” no Rio, ao lado do Sambódromo.
A venda da sede da Ancine no chamado Feirão de Imóveis confirma não apenas o absoluto descaso do atual governo para com o audiovisual brasileiro, mas também sua total falta de critério de gestão – uma nova sede alugada poderá custar até R$ 1 milhão mensais, sem contar nos custos de instalação de uma nova estrutura de tecnologia industrial. A agência está em funcionamento, tem 563 servidores ativos que mantém (a maioria) seu domicílio no Rio. Isso provocou um protesto da Associação dos Servidores Públicos da Ancine (Aspac). “Solicitamos ainda que nenhuma decisão sobre mudança do escritório-sede da Ancine para Brasília seja tomada sem discussão prévia com os servidores, considerando o potencial impacto desta mudança não só sobre as políticas audiovisuais, mas sobre as vidas profissionais e pessoais dos servidores”, afirmou uma mensagem da diretoria da Aspac à diretoria da Ancine.
A mudança pretendida para Brasília, ideia autocrática de Bolsonaro, é, além de contraproducente – milhares de produtores do audiovisual deverão necessariamente passar pelo Distrito Federal para tratar de assuntos relacionados ao seu métier -, também politicamente indesejada, pois fragiliza um órgão técnico expondo-o a interesses políticos. Parte do Centrão, turbinada pelos interesses da deputada Soraya Santos, começou a abrigar aliados e prepostos na estrutura da Ancine, hoje dirigida provisoriamente por Mauro Gonçalves de Souza, ex-assessor do deputado bolsonarista Philippe Poubel, do PSL do Rio (e ligado às milícias cariocas).