Lee ‘Scratch’ Perry arranha fronteiras da arte na Bienal

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Curadores anunciam a programação completa da 34ª edição da Bienal de São Paulo, a maior mostra de artes do continente

A 34ª edição da Bienal de São Paulo, sob o mote Faz Escuro Mas eu Canto (citação de um verso do poeta amazonense Thiago de Mello, de 95 anos), anunciou os 91 artistas que participarão da mostra, uma das maiores do mundo, entre 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021, no Pavilhão da Bienal. Entre artistas consagrados da pintura, como Antonio Dias e Lasar Segall, e de outras linguagens, como a fotografia de Pierre Verger, chama a atenção um certo esforço de ampliar a representação do espectro artístico e da legitimidade do questionamento político, o que a mostra chama de “polifonia” de vozes e visões.

Entre os medalhões, pontifica uma totêmica estrela do reggae jamaicano, o DJ e produtor Lee “Scratch” Perry, o Miracle Man, aos 85 anos, o que parece indicar que a mostra se destina também a uma compreensão multidimensional do mundo e de seu conceito de fronteiras. Cigano cultural, Perry é um dos pioneiros do reggae e criou um dos mais festejados estratagemas da música moderna, o dub (uma técnica de colagem musical sobre canções pré-existentes, na qual se exacerba os sons do baixo e os ecos, criando-se uma paisagem sônica). O dub está na base da invenção do que chamamos de remix e do drum ‘n’ bass.

Há alguns anos, Perry (que já teve um diagnóstico de esquizofrenia paranóide) se dedica à criação de uma arte de grande originalidade, incorporando ao grafite de sua experiência mais remota um arsenal de rejeitos tecnológicos (monitores velhos, laptops quebrados, fotografias, pedras e gadgets sem uso) em procedimentos de colagens e instalações. Um tipo de pintura do scratch, um jeito de obter algo visual a partir de arranhões na superfície da velha pintura. São esses trabalhos que serão mostrados.

Menos conhecida, mas igualmente interdisciplinar, a japonesa Yuko Mohri, de 40 anos, investiga a força das expressões que podem ser obtidas em um ambiente de elementos intangíveis (como luz, gravidade e magnetismo). Em 2018, ela e o consagrado pianista, compositor e ator Ryuichi Sakamoto (intérprete no filme Furyo, de Nagisa Oshima, ao lado de David Bowie, em 1983) desenvolveram em conjunto uma mostra em que a instalação consistia numa performance musical e pictórica em movimento, com os artistas realizando a intervenção em tempo real, com referências aos trabalhos vanguardistas de John Cage e Nam June Paik.

Entre inventores históricos, como León Ferrari e Lygia Pape, e extremos continentais, do português Queimadela ao sul-africano Muyanga, da arte conceitual do alemão Lothar Baumgarten à personagem amazônica Uýra Sodoma, uma drag indígena cunhada por Emerson Munduruku, a bienal articula um esforço de compreensão do mundo por meio da capacidade persuasiva da arte. Os curadores (Jacopo Crivelli Visconti, Paulo Miyada, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez) também mencionam a intenção de evidenciar as múltiplas situações em que se dá o encontro da arte com o público.

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