Alex Braga Muniz
Alex Braga Muniz, novo diretor presidente da Ancine

É como diz a sarcástica canção Mantra das Possibilidades, do gaúcho Wander Wildner: “Minha vontade é ser bonito/Mas eu não consigo/Eu sempre volto atrás”. O governo Bolsonaro tentou nesta sexta-feira, 30 de abril, aparentar algum tipo de preocupação administrativa em relação ao audiovisual nacional, indicando dois nomes de diretores a sabatina do Senado Federal e três nomes de eventuais diretores substitutos para a segurança institucional da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

Entretanto, passadas poucas horas da nomeação dos diretores substitutos, Bolsonaro publicou em edição extra do Diário Oficial da União a anulação do decreto com a designação dos três nomes que ele mesmo tinha chancelado para compor a diretoria substituta da Ancine –  as três nomeações canceladas são de Mauro Gonçalves de Souza, Tiago Mafra dos Santos e Jorge Luis da Rosa Gomes. As indicações do diretor-presidente, Alex Braga, e do diretor efetivo, Vinicius Clay, seguem de pé.

Como não há nenhum canal de diálogo do governo Bolsonaro com a sociedade civil, fica impossível saber o que levou à anulação-relâmpago dessas nomeações, mas é possível especular os motivos:

  1. Bolsonaro descobriu que algum dos diretores que nomeara tem pendências com a Justiça e alguma ação policial pode ser desencadeada a qualquer momento (essa é uma hipótese suave, que leva em consideração alguma preocupação com a legalidade);
  2. Enredado na CPI da Covid-19, Bolsonaro estava nomeando algum diretor desses no jogo de toma-lá-dá-cá entre governo e Centrão no enfrentamento das acusações que a comissão parlamentar de inquérito está levantando a respeito de sua atuação na pandemia, mas o Centrão não mostrou empenho na contrapartida, não entregou o prometido, e perdeu alguns cargos;
  3. Alguém avisou Bolsonaro que o próprio diretor-presidente da Ancine, Alex Braga, já foi uma indicação da deputada do Centrão Soraya Santos. Se ele nomeasse mais um indicado da deputada, Mauro Gonçalves de Souza, ele acabaria pagando mais ao bloco de apoio parlamentar do que precisaria pagar – seria como pagar uma pizza extra recebendo apenas uma.
  4. O governo aceitou a lista de diretores substitutos elaborada pela própria Ancine, mas pensou melhor (não é algo típico, mas pode ter acontecido) e resolveu premiar alguns militantes mais agressivos e sem noção do bolsonarismo (admitindo-se gradações nessa turba), considerando que a atual diretoria, acusada de improbidade administrativa, tem um encontro com a Justiça no dia 19 de maio;

 

ANÁLISE

O cenário na Ancine, mesmo com as nomeações de Alex Braga para diretor-presidente efetivo e de Vinicius Clay para diretor, pode se tornar complicado nos próximos dias. Para ficar com pelo menos um diretor efetivo, Clay precisaria ser sabatinado já nos próximos 14 dias pelo Senado e, mais complicado, aprovado. O pastor Tutuca, cujo nome foi preterido e não foi apresentado por Bolsonaro à sabatina do Senado, sai em agosto.

Já Alex Braga só pode ser sabatinado e efetivado na presidência a partir de 21 de outubro, quando vence o mandato do presidente anterior (Christian de Castro). Mas seu mandato atual como diretor vence em 14 de maio. Para prosseguir no cargo, precisaria ser indicado como substituto em 14 de maio na vaga de algum diretor que tenha saído (uma manobra irregular, mas o governo tem feito isso há um ano e meio). Mas segue nebuloso o que acontecerá na presidência, já que essa cadeira ficaria vaga durante 5 meses (Vinicius Clay, como diretor sabatinado pelo Senado, exigência legal, poderia eventualmente ocupar essa função interinamente até outubro).

Nada disso, entretanto, projeta um futuro diferente para a agência de cinema. A estratégia de paralisação deliberada de funcionamento, a suspensão de programas, o calote em compromissos assumidos, o desprezo para com a institucionalidade jurídica, o rompimento com a classe cinematográfica e a desconfiança de servidores: tudo isso já é irreversível com essa gestão que está em curso, cuja continuidade foi assegurada justamente por seu êxito no desmonte. Como apontaram alguns leitores mais sagazes, o que causa curiosidade é o motivo pelo qual certos servidores ainda se digladiam tanto por cargos na agência.

 

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13 COMENTÁRIOS

  1. Os servidores continuam “digladiando” por cargos porque o que importa para alguns é o dinheiro a mais na conta. Para os demais, melhor ficar calado e ter a falsa sensação de paz, por medo de retaliação. O setor que lute e a imprensa que faça o seu papel contribuindo com a informação e a verdade.

  2. Jotabe, apesar de considerar que você possa estar certo nas quatro possibilidades apontadas, provavelmente essa lista tinha um problemão: um dos indicados é auditor-chefe da agência. Então, estava estranho que a diretoria biônica indicasse ao Presidente da República o servidor responsável por auditá-la para participar da própria diretoria que audita. Claro que em tempos de rachadinhas isso pode ser um detalhe ético que alguns governantes não teriam, mas aí é abuso demais, né? É sambar na cara na sociedade….

    Outra hipótese é que alguém “pediu para sair” do Bonde Cinematográfico do Capitão; afinal, 2022 está aí… pode pegar mal ter “Bolsonaro” tatuado na testa.

    • É curioso o auditor chefe figurar na lista de prováveis ocupantes da função de diretor da agência. Mas o ex procurador chefe também é o atual presidente substituto e provavelmente será o presidente com essa nova indicação. Então está tudo em casa! O jurídico e a auditoria já estão dominados…. só falta combinar com “os russos” ou “o russo”….

      • O Russo agora tá em Miami. Arrumou emprego na Disney num show Marreco & Pato Donald. Até ele pulou fora do desgoverno do Capetão. Daqui a pouco os Filhos do Januário vão poder viajar pra visitar o Russo na Disney e colocar o boné do Mickey! Podiam levar essa galerinha da Tia Soraya junto, né?

  3. Cruzes! Toda vez que abro o Farofafa e dou de cara com essa foto gigante do Alex que o Jotabe usa, com esse sorriso de Monalisa Bolsonarista, tomo um susto. Parece uma cena do “Advogado do Diabo”. Do que ele tanto ri? Das empresas quebradas? Da censura disfarçada de dinheiro a conta gotas e dos filtros?

    Na minha terra essa foto é sinal de mau agouro. Tem que benzer a Ancine. Fazer uma lavagem das escadarias, ver se não tem caveira de burro enterrada embaixo da pilha de processos parados.

  4. Tenham certeza: nós servidores não compactuamos com esses vermes e continuamos lutando pelo cinema nacional. Uns poucos fazem de tudo por cargos, mas a maioria está documentando tudo de errado que vem sendo feito por essa gestão.

    • Caro Servidor “INDIGUINADO”,

      Acredito que o Sr. esteja tão INDIGNADO como todos nós, diante de tanta patifaria que assola nosso país há alguns anos. Mas, veja: caso os servidores concursados, aprovados em rigorosos exames que incluem a língua portuguesa, tenham documentos que comprovem alguma coisa irregular, o momento é agora. Sem dúvida os senhores possuem acesso ao que nós sequer sonhamos.

      A indicação ao Senado proporciona uma espécie de “plebiscito”, no qual poderemos submeter a atual diretoria da agência à aprovação ou reprovação, considerando que TODOS os senadores que eventualmente aprovem os nomes destes indicados, diante de tantos fatos levantados há tanto tempo, se responsabilizarão solidariamente com a escolha do Presidente Bolsonaro. Sim, serão corresponsáveis e cobrados nos seus estados de origem, lembrando os impactos econômicos e simbólicos do audiovisual.

      Digamos que seria como se os senadores aprovassem o nome do general Pazuello para continuar no ministério da saúde, mesmo após tudo o que foi reportado, ou elevassem o vereador Jairinho a um hipotético cargo de Ministro da Infância e Juventude. Tudo neste país é possível.

      Por isso, se possuem tais documentos, que encaminhem com urgência ao Presidente do Senado, ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público Federal. Sejam corajosos e colaborem com uma mudança na ANCINE ou se calem e fiquem apenas “indiguinados” (sic) assistindo à permanência de uma gestão que, ao que parece, consideram ser “iguinóbil” (sic).

  5. Registro como brilhante a fala do Jotabê Medeiros, nossa voz incansável: “Nada disso, entretanto, projeta um futuro diferente para a agência de cinema. A estratégia de paralisação deliberada de funcionamento, a suspensão de programas, o calote em compromissos assumidos, o desprezo para com a institucionalidade jurídica, o rompimento com a classe cinematográfica e a desconfiança de servidores: tudo isso já é irreversível com essa gestão que está em curso, cuja continuidade foi assegurada justamente por seu êxito no desmonte. Como apontaram alguns leitores mais sagazes, o que causa curiosidade é o motivo pelo qual certos servidores ainda se digladiam tanto por cargos na agência.”

    É isso. Aqueles que serviram ao projeto político do Presidente Jair Bolsonaro serão agraciados com um mandato de 5 (cinco) anos, alcançando 2026, isto é, vão perdurar ideologicamente o próprio período bolsonarista e estarão acastelados, num bunker, durante todo o novo governo que se iniciará em 2023 e durará até 2026. Manter Alex Braga até outubro de 2026 será mantê-lo até o final do próximo governo. O bastião de combate ao “marxismo cultural” está na ANCINE e não na Secretaria Especial de Cultura, ainda que ambos caminhem em sinergia neste momento.

    Não tenho dúvidas que manobras políticas de amortecimento serão feitas, como prováveis promessas de chuva de recursos do FSA, lançamento de editais com os recursos represados por dois anos e um Plano Anual de Investimentos “agressivo”. Não se deixem ludribriar com a promessa de maná caindo do céu por 40 anos no deserto. Primeiro, que provavelmente será uma estratégia de cooptação e submissão a determinadas condições. Segundo, que será inexequível: a agência está estrangulada pela questão da prestação de contas e a gestão demonstrou nos últimos dois anos incapacidade em propor novos modelos mais inteligentes de financiamento; só sabem fazer “mais do mesmo”. Haverá promessa de recursos, algum ritmo de contratação e gargalos na liberação. Além disso, a maioria dos produtores estará inadimplente em razão dos resultados dos julgamentos das prestações de contas. Terceiro, porque o governo despreza o setor cultural, tem aversão aos agentes culturais e os vê como inimigos ideológicos. O presidente, quando era deputado, já disse que 30 mil mortos numa guerra civil resolveria o problema da “nação”. Adivinhem em quais condições os agentes culturais estariam nessa guerra santa?

    Alex Braga não é incoerente. É coerente. Foi indicado pelo TEMER em 2017. Antes, foi procurador-geral da agência ao abrigo da Soraya Santos e do Alexandre Santos, na época do PMDB de Temer (esteve preso), Cunha (preso), Sérgio Cabral (preso), Moreira Franco (esteve preso), Renan Calheiros (responde a inúmeros processos), Sarney (dispensa comentários) e tantas figuras conhecidas. Vamos lembrar que de 2006 a 2010 esse pessoal era base do governo e de 2010 a 2016 era GOVERNO, sendo Temer vice da Dilma, período que marca a ascensão de Braga a chefe da procuradoria e, depois de 2017 com a subida de Temer, à diretoria. Ele é o rapaz deles.

    Hoje sua base política está no centrão, sua madrinha migrou para o PL, de Valdemar da Costa Neto, um nomeador-mor neste governo, e Temer ressurgiu do seu sepulcro como uma espécie de mentor de Bolsonaro. Ou seja: sai governo, entra governo, e Braga estará lá, cumprindo o programa e o compromisso daqueles que ele representa. É uma pessoa coerente, com o bônus de ser um servidor concursado, e aderente a cargos. É natural que precise estar ali, para defender o seu passado e zelar para que tudo permaneça como está; faz parte do jogo.

    O que supreende é que servidores da agência se prestem a isso e achem o mal banal. Sempre tive a impressão de servidores combativos; gays, lésbicas e até alguns pretos e pretas num ambiente muito branco. Há diversidade naquela agência, muitos aderiram ao FORA TEMER, são militantes identitários, com perfis de esquerda. Postam nas suas redes sociais críticas a Bolsonaro, torceram por Boulos e Freixo, e provavelmente batem panelas, gritam FORA BOLSONARO.

    Como fica a consciência dessas pessoas, especialmente aqueles que tem cargos e funções comissionadas? Será que dormem?

    Por fim, notaram que NENHUMA MULHER foi indicada? QUE TODOS SÃO HOMENS BRANCOS? Pois é.

  6. O setor que lute??? Você deve ter outro caminho de luta muito melhor, então, porque vejo bastante luta aqui nos bastidores do mundo obscuro em que se transformou o audiovisual brasileiro, com o coturno sufocador do bolsonarismo no nosso pescoço.
    Muito fácil ficar julgando que o setor não luta o bastante, ou que os funcionários da Ancine se dividem apenas entre medrosos calados e os que se digladiam por poder e gratificações na conta corrente. Difícil mesmo é seguir lutando, ou só usar esta tribuna para falar alguma coisa que contribua para melhorar o ambiente no “setor”, cara Raquel Barbosa.

  7. Os mais de 500 funcionários da Ancine – ao meu ver, quadros excelentes – recebem seus (bons) salários em dia, enquanto quem faz cinema e TV de fato está sem trabalho. Pra que serve essa agência, então? Se os 500 funcionários não se rebelam, não fazem nada em relação ao que está acontecendo – mesmo tendo estabilidade – que se acabe com a agência. Se não há cinema e TV, não há porque gastar mais de 150 milhões de reais ao ano para bancar a burocracia de algo que não existe mais. Melhor fazer um sorteio e distribuir esse dinheiro – teremos mais produções do que hoje.
    Porque para streaming, sem regulação, não precisa de Ancine. E fiscalizar o quê? Cota de tela? Que cota?
    Ou os (muito) capacitados servidores da Ancine se mexem, ou vão terminar dando expediente em outros órgãos do governo. Serão muito úteis, aliás, porque são servidores acima da média.

  8. Choooora esquerdalhada! Não sei o motivo de tanta farofada! É porque acabou a mamata? Estão com medo da análise das prestações de contas?

    VAMOS DEIXAR OS MENINOS DO BOLSONARO TRABALHAR EM PAZ! VAMOS JULGAR DEPOIS!

    Tenho certeza que com ALEX BRAGA e VINICIUS CLAY na Ancine, conduzidos por nosso brilhante Secretário MÁRIO FRIAS e sob o braço forte e mão amiga do nosso Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO, não teremos mais filmes indecentes como “Bruna Surfistinha” nem apoteose de comunistas, como “Mariguella”.

    Queremos que o dinheiro público seja utilizado para filmes educativos, que traduzam os valores da PÁTRIA, da FAMILIA e do CRISTIANISMO.

    Esperamos que o governo também escolha diretores substitutos alinhados com nossos valores, QUE VENCERAM A ELEIÇÃO DE 2018!

    Todo apoio a ALEX BRAGA e VINICIUS CLAY na marcha da valorização da CULTURA NACIONAL CONSERVADORA!

    BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS!

    FORA COMUNISTAS!!!!!!

    • Os “valores” não são determinados nas eleições, e sim pela Constituição. Mas… o que estou fazendo argumentando com bolsominion de nome falso, que obviamente é um fracassado infeliz e evidentemente recalcado? Afinal, “João Carlos”, é melhor jairseacostumando, seu “mito” vai ser destituído em breve, e preso. Assim como a família de milicianos. E você vai voltar pra sua insigificância e sua vida triste e raivosa.
      (não acredito que tenham investido em robôs aqui no Farofafá, penso que é só mediocridade mesmo e/ou um servidor puxa-saco de Alex&cia)

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