No ano passado, a Pinacoteca de São Paulo adquiriu o quadro Feitiço para Salvar a Raposa Serra do Sol, de Jaider Esbell, e um conjunto de obras de Denilson Baniwa. Esbell, da etnia Macuxi, viveu até os 18 anos na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, graduou-se em geografia e chegou a trabalhar como eletricitário, antes de começar a pintar, no ano de 2013. Denilson Baniwa nasceu na aldeia Dari, em Barcelos, à beira do Rio Negro, no Amazonas. As primeiras pinturas se inspiraram em suas observações das mulheres indígenas que confeccionavam a hoje cultuada arte baniwa. A presença dos dois artistas indígenas contemporâneos no acervo da Pinacoteca é parte de um esforço da instituição em questionar a si própria sobre o tema da representação. No mundo das artes visuais, muitas histórias permanecem invisibilizadas.
A Pinacoteca reorganizou a exposição de seu acervo de arte brasileira em 19 salas do Edifício Pina Luz. No total, são cerca de mil obras de mais de 400 artistas distribuídos em três núcleos. A montagem é fruto de uma inquietação da equipe curatorial de dar visibilidade a um trabalho em curso para apresentar outras narrativas no campo das artes visuais. Por conta desse esforço, o número de artistas mulheres passou de 17 para 95, e o de artistas afrodescendentes, de 7 para 26 desde a última exposição.
Além da nova montagem do acervo, a Pinacoteca apresenta a inédita exposição Véxoa: Nós Sabemos, dedicada à produção de artistas indígenas. Com curadoria de Naine Terena, doutora em educação e mestre em artes, Véxoa é composta de pinturas, esculturas, instalações, objetos e artefatos, vídeos e fotografia de 23 artistas ou coletivos de etnias espalhadas por todo o País. Baniwa e Esbell têm outras obras nessa mostra, incluindo o painel Árvore de Todos os Saberes, que vem sendo construído coletivamente desde 2013 por povos indígenas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Estados Unidos e México.
A diretora Olinda Muniz Tupinambá, com o filme Kaapora, e Daiara Tukano, com uma série de pinturas, apresentam as cosmovisões de suas etnias. A mesma preocupação trazem os artistas plásticos do coletivo Huni Kui Mahku, do Acre, e a Associação Cultural dos Realizadores Indígenas, do Mato Grosso do Sul, que apresenta como os jovens utilizam a linguagem cinematográfica para falar dos povos Terena e Kaiowá. O fotógrafo Edgar Kanayrõ traz imagens em preto e branco da dança, da pintura corporal e da luta do povo Xakriabá pela demarcação de suas terras em Minas. A Rádio Yandê (nós, em Tupi), a primeira emissora indígena do Brasil, estará presente com Anapuaká Tupinambá, seu cofundador, apresentando uma programação especial. Até o fim da exposição, em 11 de abril, estão previstas atividades paralelas com os artistas.