Patrícia Campos Mello: a “jornalistinha comunista”

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Patricia Campos Mello lança A Máquina do Ódio - Foto Divulgação Marcos Vilas Boas

O novo livro de Patrícia Campos Mello, A Máquina do Ódio (Companhia das Letras), tem sido atropelado pelos fatos. Mas isso não deve ser um trauma para a experiente repórter. Para quem não sabe, a jornalista é uma das profissionais mais odiadas por Bolsonaro e seu clã de seguidores. Foi ela quem, na campanha da facada, denunciou que empresários injetaram milhões de reais para impulsionar, ilegalmente, mensagens pelas redes sociais em apoio ao então candidato. Desde então, Patrícia virou um dos alvos prediletos do bolsonarismo. Ela é chamada de “mentirosa”, “desclassificada”, “sem-vergonha”, “putinha do PT”, “jornalistinha comunista” e daí para baixo.

No relato, Patrícia não revela muito mais do que suas reportagens já o fizeram. A essência da notícia já foi dada, e é bom que seja assim. Os leitores da Folha de S.Paulo, jornal em que ela trabalha, não foram privados da informação. Neste livro, ela nos conta que uma bem engendrada campanha de desinformação foi armada pela equipe de Bolsonaro para manipular a opinião pública, seguindo uma tendência de outros líderes populistas, como Recep Erdogan (Turquia), Viktor Orbán (Hungria), Narendra Modi (Índia), Donald Trump (Estados Unidos) e Rodrigo Duterte (Filipinas). Ex-correspondente internacional, Patrícia conhece bem a realidade da geopolítica mundial.

A repórter conta parte do que os profissionais de imprensa no Brasil, especialmente mulheres, vivenciam e, não raras vezes, como passaram a sofrer perseguições sistemáticas depois da ascensão do bolsonarismo. Ela e seu filho chegaram a ser ameaçados, apareceu em montagens falsas de vídeos pornográficos, teve sua vida revirada do avesso, foi debochada por um dos filhos zero à esquerda de Bolsonaro. Patrícia explica, didaticamente, como essas táticas têm sido incorporadas por políticos da direita para forjar informações mentirosas. E como uma base em um “fluxo constante, repetitivo, rápido e em larga escala de conteúdos”, disseminados nas redes sociais, faz com que as pessoas tenham uma “sensação de familiaridade” e passem a acreditar até em duendes e cloroquinas.

O atropelo do livro se deu porque, desde maio, quando o livro foi fechado com um zeloso “epílogo”, o noticiário sobre as fake news continua trazendo novidades diárias. E Patrícia encerra A Máquina do Ódio com uma mensagem esperançosa de que a imprensa aproveite uma oportunidade única de renascer e combater a manipulação global em curso nas redes sociais. Para ela, os meios de comunicação que não dependem tanto de anunciantes e da publicidade governamental têm mais chances de sobreviver. Não foi o que aconteceu nesta semana, quando foram fechados Nocaute e Conversa Afiada, dois blogs progressistas e antifascistas.

A Máquina do Ódio. De Patrícia Campos Mello, Companhias das Letras, 196 págs, 40 reais.
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