Editora Boitempo lança Coleção Pandemia Capital com pensadores contemporâneos que refletem sobre os efeitos da pandemia do coronavírus em várias áreas

Editora Boitempo lança livros de pensadores contemporâneos que refletem sobre os efeitos da pandemia do coronavírus em várias áreas

O sociólogo português Boaventura Sousa dos Santos é cirúrgico ao dizer, em A Cruel Pedagogia do Vírus, que qualquer tentativa de compreender a atual “liberdade caótica” resultará em fracasso “porque a realidade vai sempre adiante do que pensamos ou sentimos sobre ela”. E, sem papas na língua, ele critica o filósofo italiano Giorgio Agamben que em artigos rápidos, agora reunidos no livro Reflexões sobre a peste, insurgia-se contra os riscos da emergência de um Estado de exceção. Ou tece ironias contra o filósofo esloveno Slavoj Žižek, que escreveu que a evolução do coronavírus pelo mundo apontava para a ideia de um “comunismo global”, como se observa em Pandemia, covid-19 e a reinvenção do comunismo. “Os intelectuais devem aceitar-se como intelectuais de retaguarda”, sentencia Santos.

Coleção Pandemia Capital

A Boitempo Editorial lançou a coleção Pandemia Capital, que já está no sétimo livro, mas outros seguem em negociação. Os três autores acima estão entre eles. Não há, com exceção desse trecho provocado pelo sociólogo português, um diálogo explícito entre as obras. Mas em cada uma delas se nota um esforço dos autores para lançar luzes sobre os impactos sociais do coronavírus. Boaventura Sousa dos Santos afirma que o vírus tem um caráter pedagógico e, portanto, abre oportunidade para a reflexão. O capitalismo não tem futuro? O colonialismo e o patriarcado estão mais vivos do que nunca? A vida mercantilizada cobra seu preço agora? 

“O capitalismo global é de fato responsável pela incapacidade de lidar com esta pandemia”, sentencia a filósofa e feminista norte-americana Angela Davis, que assina com a jornalista Naomi Klein o livro Construindo Movimentos. Para as autoras, que participaram de uma conversa global na página da Rising Majority na internet, o regime capitalista leva ao desastre e o vírus pode se disseminar justamente pela fragilidade atual do ser humano, que se reverberará ainda mais diante das desigualdades. “E eu estou preocupada com o fato de que, no Brasil, a situação é muito pior que aqui – sem falar nas semelhanças entre os dois presidentes”, alerta Angela Davis.

Coleção Pandemia Capital

 

 

 

 

 


Agamben afirma que o estado de exceção se tornou uma “condição normal” no mundo, o que compromete a nossa liberdade. “Como pôde acontecer que um
país inteiro tenha, sem perceber, desmoronado ética e politicamente diante de uma doença?”, questiona o filósofo sobre sua Itália. Para ele, o limiar entre a humanidade e a barbárie foi ultrapassado. Já o esloveno Žižek afirma que o coronavírus chegou em meio a uma profunda crise do capitalismo e as respostas dos poderes podem pender para um controle social permanente, restringindo nossas liberdades. Isso resultará em um novo capitalismo ainda mais bárbaro, em que fracos e idosos serão sacrificados, os trabalhadores terão de uma redução do padrão de vida, o controle digital perdurará e as distinções de classe devem se tornar “uma questão de vida ou morte”.

Coleção Pandemia Capital. Vários autores. Boitempo Editorial. De 5 a 15 reais.
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