John David Washington é o Protagonista, no filme Tenet, de Christopher Nolan
John David Washington é o Protagonista, no filme Tenet, de Christopher Nolan - Foto: Melinda Sue Gordon/Divulgação

No atípico ano de 2020, o blockbuster Tenet surge incumbido de missões maiores do que seu próprio enredo de alta complexidade comportaria. O filme de espionagem e viagem ao tempo já seria a grande aposta da Warner Bros em condições normais. Há heróis dispostos a livrar o mundo de vilões que querem aniquilá-lo. A trama consegue ser, a um só tempo, inteligente, sofisticada e enigmática, ainda que alguns devam dizer ser puramente confusa. E cenas de tirar o fôlego gravadas em Imax 70 milímetros garantem uma perfeita imersão para a telona. Mas é neste último ponto que reside o maior desafio para o longa-metragem de Christopher Nolan: Tenet poderia salvar o cinema?

Filmes que necessitam de alta bilheteria para existir não são lançados ao gosto do diretor. Eles têm o momento preciso para virem a público, caso contrário viram um fracasso e prejuízo para os estúdios que investiram milhões de dólares. Em 2020, a pandemia destruiu essa lógica da indústria cultural. Agora, com a reabertura progressiva das salas de cinema, chegou a hora de descobrir se obras como Tenet farão algum sentido futuro para uma plateia que iniciou uma jornada sem volta no mundo do streaming

O Protagonista (interpretado por John David Washington), afortunadamente, só consegue ir para o passado e voltar ao presente, então não é dele que virão as esperadas respostas. Espécie de 007, o personagem principal é um ex-agente da CIA contratado por uma obscura organização de inteligência, chamada Tenet, que quer evitar o fim da humanidade. O vilão da vez é Sator (Kenneth Branagh), um traficante de armas russo que detém o conhecimento de inverter coisas. No filme, as primeiras explicações “científicas” começam a surgir a partir de uma “bala invertida”, que volta para a arma em vez de sair dela, instigando o Protagonista a buscar explicações.

Nas duas horas e meia de duração, Nolan (diretor dos também blockbusters Interestelar, A Origem, Inception, Dunkirk e Batman: O Cavaleiro das Trevas) ocupa-se de ofertar pistas nada didáticas. O espetáculo surge na sequência de cenas que ora remetem ao passado, ora ao futuro, e, às vezes, aos dois simultaneamente, dando um nó no cérebro da maioria dos mortais. A seriedade dos diálogos só é quebrada quando surge Neil (o galã Robert Pattinson), contratado pelo Protagonista. Ele é irônico e bem-humorado. Kat (Elizabeth Debicki), mulher do vilão Sator, é uma autenticadora de arte, que também cria um elemento menos linear ao enredo, porque o Protagonista passa a se importar com ela, presa à tirania de Sator. 

Em um ano pandêmico, Tenet não faz críticas sociais, vale-se de um antigo enigma, o Quadrado Sator, composto de palavras que podem ser lidas de trás para frente (palíndromos), e acaba por entregar uma experiência cinematográfica. Mas para a gananciosa indústria as bilheterias do longa, na casa dos 350 milhões de dólares, pagam a conta da produção, mas não satisfazem. Resultado: outros blockbusters já foram adiados para 2021.

Tenet. De Cristopher Nolan, Estados Unidos/Inglaterra, 150 minutos.

 

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