Ao encarar a tarefa de dar contornos e visibilidade a mulheres cujas investigações tiveram relevo na ciência universal (Maria Sibylla Merian e Mary Anning), a Companhia Delas de Teatro envereda por uma das encruzilhadas mais agudas da tarefa biográfica: qual o sentido dessa escolha?
O escritor Ruy Castro, em artigo recente na Folha de S.Paulo, assinala que uma de suas paixões pela leitura de biografias é o encanto dos detalhes. Assim, delicia-se na descoberta de que Hemingway escalava leões e elefantes velhos em seus safáris, por medo; que Scott Fitzgerald era meio bronco e achava que bidê era uma banheira de criança; entre outros pormenores. A Cia Delas tem um outro pressuposto: é a persistência do feminino no vulto histórico que as interessa mais.
Não é o detalhe nem a façanha que as seduz, mas o equacionamento de como uma mulher, num mundo de regras masculinas, consegue equilibrar suas tarefas com as incumbências socialmente impostas de criar os filhos, alimentar o marido, ser enfermeira e cozinheira e ainda assim descobrir fósseis marinhos e o percurso da lagarta até a borboleta. Assim, soa como uma reiteração simbólica que as atrizes, todas mulheres, façam também o papel dos homens em suas peças. As peças da Companhia Delas de Teatro têm uma linguagem marcadamente feminina, cenários de exuberância feminina, embora analisem contextos históricos. Sua ação é mais do que teatral, mas de elucidação, desvelamento.