
Cinco vozes femininas se unem em Acorda Amor, em torno de canções de apelo politicamente engajado
Acorda, amor/ o teto vai cair em cima de você/ sai logo da cama, vai/ vamo lutar, propõe o rapper Edgar, no poema Sem Preguiça pra Fazer Revolução, que fecha o CD coletivo Acorda Amor, protagonizado pelas cantoras Letrux, Liniker, Luedji Luna, Maria Gadú e Xênia França. Utilizando o mesmo título de uma antiga canção de protesto de Chico Buarque, o disco resulta de um espetáculo esboçado para o Sesc Pompeia como um baile de carnaval, em 2017, mas que ganhou contornos políticos graças à realidade ao redor.
Juntas, as cinco vozes plurais cantam a esperançosa Gente Aberta (1972), lançada por Erasmo Carlos, e, mais ao final, a grave Cansaço (2016), de Douglas Germano. Cansei/ de ver o melhor perder/ de ver o fraco morrer/ de fingir liberdade, reconhece essa última, em consonância com os tempos que correm. Entre a esperança e o cansaço, cada uma das cantoras elege temas prévios (uns célebres, outros obscuros) que encontram eco no Carnaval triste que o Brasil não cessa de atravessar. Letrux protagoniza Saúde (1981), de Rita Lee, e Sujeito de Sorte (1976), de Belchior. Xênia canta Assumindo (1985), de Leci Brandão, e Comportamento Geral (1973), de Gonzaguinha. Maria Gadú volta a O Quereres (1984), de Caetano Veloso, e recorre à recente e feminista Triste, Louca ou Má (2016), da banda Francisco, el Hombre.
Liniker e Luedji se valem de repertório mais underground, a primeira com A Vida em Seus Métodos Diz Calma (1975), de Di Melo, e Não Adianta (1975), do Trio Mocotó, e a segunda com Obaluayê (1957), da Orquestra Afro-Brasileira, e Conflito (1976), de Pedro Santos. O todo soa urgente e eloquente, povoado de arranjos brilhantes.